ENTREGAR OSSADAS E ENDEUSAR O ASSASSINO

O Governo angolano vai proceder à entrega, quarta-feira, das ossadas de quatro vítimas dos massacres 27 de Maio de 1977, ordenados pelo único herói nacional permitido pelo MPLA, Agostinho Neto, entre as quais os restos mortais de Nito Alves, suposto líder de uma alegada tentativa de golpe de Estado.

A informação foi hoje avançada pelo ministro da Justiça e dos Direitos Humanos de Angola, Francisco Queiroz, em declarações à imprensa no final da reunião da Comissão de Reconciliação e Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (Civicop), que analisou o ponto de situação dos exames de ADN e perspectiva de entrega dos ossos às famílias residentes no país e no exterior.

Francisco Queiroz anunciou a entrega também na quarta-feira dos restos mortais de Jacob João Caetano “Monstro Imortal”, de Arsénio José Lourenço Mesquita “Sianuk” e de Ilídio Ramalhete, numa cerimónia, de carácter político, que vai decorrer no Quartel General do Exército.

Segundo o ministro, as ossadas destas quatro pessoas encontravam-se junto dos restos mortais de cerca de 20 outros indivíduos (numa vala comum), estando ainda a decorrer o processo de análise genética para determinar o ADN.

O governante do MPLA frisou que muitos deles já têm o registo concluído, faltando apenas cruzar os dados com as famílias, algumas delas a residir em Portugal.

“O registo não veio com os técnicos de Portugal, porque as famílias indicaram especialistas em quem confiam para que fossem eles a trazer o sangue para Angola”, disse Francisco Queiroz, citado pela agência noticiosa angolana, Angop.

O ministro adiantou também que foram já cadastrados outros lugares, a maioria na província de Luanda, capital de Angola, para início dos trabalhos.

De acordo com o ministro, as equipas de trabalho estão divididas em quatro subgrupos, o primeiro de micro localização e exumação dos ossos, o segundo de análise forense, o terceiro responsável pelas certidões de óbitos e o quarto da comunicação social.

Desde o início dos trabalhos foram já entregues mais de 2.000 certidões de óbito às famílias enlutadas, informou o ministro, que agradeceu a colaboração dos familiares para a execução desses processos.

Os massacres de 27 de Maio refere-se aos acontecimentos sangrentos (milhares e milhares de mortos) que tiveram lugar, em 1977, após um alegado golpe falhado contra o primeiro Presidente de Angola, António Agostinho Neto, que resultaram em, repita-se, talvez 60 mil mortos durante o combate ao chamado “fracionismo” dentro do MPLA (partido no poder há 46 anos), segundo sobreviventes e analistas.

Em Abril de 2019, o Presidente João Lourenço, igualmente Presidente do MPLA, ordenou a criação de uma comissão para elaborar um plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos que ocorreram em Angola, entre 11 de Novembro de 1975, ano da independência de Angola, e 4 de Abril de 2002, data que simboliza o fim de décadas de guerra no país.

O Plano de Reconciliação em Memória às Vítima de Conflitos Políticos prevê, entre outras questões, a emissão de certidão de óbito, a entrega dos restos mortais às famílias e a construção de um memorial único para todas as vítimas dos conflitos políticos registados no país.

Em 2021, nas vésperas da data do alegado golpe de Estado, a primeira vez em que foi feita uma homenagem às vítimas do evento e de outros conflitos políticos, João Lourenço pediu desculpas públicas em nome do Estado angolano pelas execuções sumárias levadas a cabo após o 27 de Maio de 1977, salientando que era “um sincero arrependimento”. No entanto, não só mantém como amplia a lavagem da imagem do assassino responsável pelos massacres, Agostinho Neto, e cujo mais recente exemplo vem da atribuição do seu nome ao novo aeroporto internacional de Luanda.

“Não é hora de nos apontarmos o dedo procurando os culpados. Importa que cada um assuma as suas responsabilidades na parte que lhe cabe. É assim que, imbuídos deste espírito, viemos junto das vítimas dos conflitos e dos angolanos em geral pedir humildemente, em nome do Estado angolano, as nossas desculpas públicas pelo grande mal que foram as execuções sumárias naquela altura e naquelas circunstâncias”, disse, então, o chefe de Estado angolano.

Como já aqui foi escrito, a melhor forma de o MPLA comemorar os 100 anos do nascimento de António Agostinho Neto (17 de Setembro), não é dar o seu nome ao novo aeroporto de Luanda. É, isso sim, mudar o nome de República (Popular) de Angola para República Agostinho Neto.

Segundo o MPLA, Agostinho Neto é reconhecido internacionalmente e os seus feitos ultrapassam fronteiras (em breve serão assinalados com uma lápide em… Marte). No seu percurso histórico, além da dimensão humanista, tem as suas impressões digitais em vários domínios da vida do país. Modéstia. Na verdade as impressões digitais de Agostinho Neto estão em todos os domínios da vida e da morte dos angolanos.

De acordo com o MPLA, Agostinho Neto é dos autores dos PALOP e da CPLP (dir-se-ia de todo o planeta) mais traduzido no mundo, além de ser estudado em universidades de:

Afeganistão, África do Sul, Akrotiri, Albânia, Alemanha, Andorra, Anguila, Antárctida, Antígua e Barbuda, Arábia Saudita, Arctic Ocean, Argélia, Argentina, Arménia, Aruba, Ashmore and Cartier Islands, Atlantic Ocean, Austrália, Áustria, Azerbaijão, Baamas, Bangladeche, Barbados, Barém, Bélgica, Belize, Benim, Bermudas, Bielorrússia, Birmânia, Bolívia, Bósnia e Herzegovina, Botsuana, Brasil, Brunei, Bulgária, Burquina Faso, Burúndi, Butão, Cabo Verde, Camarões, Camboja, Canadá, Catar, Cazaquistão, Chade, Chile, China, Chipre, Clipperton Island, Colômbia, Comores, Congo-Brazzaville, Congo-Kinshasa, Coral Sea Islands, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Costa do Marfim, Costa Rica, Croácia, Cuba, e ainda:

Dhekelia, Dinamarca, Domínica, Egipto, Emiratos Árabes Unidos, Equador, Eritreia, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estados Unidos da América, Estónia, Etiópia, Faroé, Fiji, Filipinas, Finlândia, França, Gabão, Gâmbia, Gana, Gaza Strip, Geórgia, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, Gibraltar, Granada, Grécia, Gronelândia, Guame, Guatemala, Guernsey, Guiana, Guiné, Guiné Equatorial, Guiné-Bissau, Haiti, Honduras, Hong Kong, Hungria, Iémen, Ilha Bouvet, Ilha do Natal, Ilha Norfolk, Ilhas Caimão, Ilhas Cook, Ilhas dos Cocos, Ilhas Falkland, Ilhas Heard e McDonald, Ilhas Marshall, Ilhas Salomão, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens Americanas, Ilhas Virgens Britânicas, Índia, Indian Ocean, Indonésia, Irão, Iraque, Irlanda, Islândia, Israel, Itália e… ainda:

Jamaica, Jan Mayen, Japão, Jersey, Jibuti, Jordânia, Kosovo, Kuwait, Laos, Lesoto, Letónia, Líbano, Libéria, Líbia, Listenstaine, Lituânia, Luxemburgo, Macau, Macedónia, Madagáscar, Malásia, Malávi, Maldivas, Mali, Malta, Man, Isle of Marianas do Norte, Marrocos, Maurícia, Mauritânia, México, Micronésia, Moçambique, Moldávia, Mónaco, Mongólia, Monserrate, Montenegro, Namíbia, Nauru, Navassa Island, Nepal, Nicarágua, Níger, Nigéria, Niue, Noruega, Nova Caledónia, Nova Zelândia, Omã, Países Baixos, Palau, Panamá, Papua-Nova Guiné, Paquistão, Paracel Islands, Paraguai, Peru, Pitcairn, Polinésia Francesa, Polónia, Porto Rico, Portugal, Quénia, Quirguizistão, Quiribáti, Reino Unido, República Centro-Africana, República Dominicana. Roménia, Ruanda, Rússia, Salvador, Samoa, Samoa Americana, Santa Helena, Santa Lúcia, São Bartolomeu, São Cristóvão e Neves, São Marinho, São Martinho, São Pedro e Miquelon, São Tomé e Príncipe, São Vicente e Granadinas, Sara Ocidental, Seicheles, Senegal, Serra Leoa, Sérvia, Singapura, Sint Maarten, Síria, Somália, Spratly Islands, Sri Lanca, Suazilândia, Sudão, Sudão do Sul, Suécia, Suíça, Suriname, Tailândia, Taiwan, Tajiquistão, Tanzânia, Timor Leste, Togo, Tokelau, Tonga, Trindade e Tobago, Tunísia, Turquemenistão, Turquia, Tuvalu, Ucrânia, Uganda, Uruguai, Usbequistão, Vanuatu, Vaticano, Venezuela, Vietname, Zâmbia e (uf, uf, uf) Zimbabué.

Acrescenta o MPLA que Agostinho Neto é o elo e símbolo que representa Angola de Cabinda ao Cunene, lembrando que Neto assumiu, desde muito novo, uma postura de pessoa simples, sóbria e respeitadora do semelhante (os milhares de mortos no 27 de Maio não eram “semelhantes”).

Alguns sipaios do MPLA dizem que, para perpetuar o pensamento de Agostinho Neto, é preciso que “se transborde para fora do MPLA datas como o 17 de Setembro, 4 de Fevereiro e 15 de Abril, para tornarem-se inclusivas e abrangentes na sociedade”, referindo que há uma necessidade de explicar à sociedade que Agostinho Neto “trouxe a liberdade de decidirmos, nós mesmos, o nosso futuro”.

E, como sempre, o MPLA tem sipaios, mercenários e coniventes também em Portugal. Recorde-se que Maria Eugénia Neto, presidente da Fundação António Agostinho Neto (FAAN), assinou no dia 10 de Setembro de 2019, com a FLUP – Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal), um protocolo que cria a Cátedra Agostinho Neto nesta instituição de ensino superior.

O acto representou uma homenagem da Universidade do Porto ao 40º aniversário da morte do maior assassino da história de Angola, acto caucionado pela directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro.

Por sua vez o reitor da Universidade do Porto, João Veloso, considerou o acto um feito internacional, tendo saudado muito entusiasticamente a assinatura do protocolo.

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