Brasil tem mais de mil cidades em situação de seca extrema ou severa; confira a situação onde você mora | Meio Ambiente
Mais de mil cidades em todo o Brasil estão vivendo sob uma seca severa ou extrema. A falta de chuva alastra o fogo pelo país, que teve o maior número de incêndios dos últimos dez anos. No Amazonas, que tentava se recuperar de uma seca histórica, comunidades já estão isoladas e a ordem é estocar alimentos. O ar está tão seco que mais da metade das cidades brasileiras estão em alerta.
➡️ Tudo está interligado. A falta de umidade pela seca que castigou a região Norte no ano passado, tem um efeito cascata: a umidade que deveria estar no Norte e que seria transportada para o resto do país deixou de existir. Com isso, a seca se alastrou (entenda mais abaixo).
⛈️ Segundo os dados do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao governo federal e que monitora a estiagem pelo país, 1.024 cidades estão sob a classificação de seca entre extrema e severa (a mais alta da escala).
O número é quase 23 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 45 cidades estavam nesses níveis de seca. (Veja mapa comparativo abaixo)
O monitoramento classifica as cidades em quatro categorias de seca: extrema, severa, moderada e fraca. Ao todo, mais de três mil estão em alguma classificação de seca.
Veja abaixo a situação na sua cidade:
Consequências pelo país
Os estados mais afetados são Amazonas, Acre, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, São Paulo e Tocantins. Neles, todas as cidades estão sob alguma classificação de seca.
A estiagem vem afetando o abastecimento, isolando regiões que dependem do transporte por rio, causando prejuízos na agricultura e pecuária pelo país e tornando o ar difícil de respirar.
🔥 Segundo o monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), este ano é o maior em registros de focos de incêndio no país nos últimos 10 anos (veja abaixo).
“A seca que estamos vendo é quase generalizada, afetando vários estados. Tivemos um início de ano com chuva muito abaixo da média do Norte ao Sudeste e isso nos trouxe um cenário pior do que o que vivemos no ano passado e as consequências já estão sendo vistas, desde o desabastecimento em algumas regiões até impactos no setor agropecuário”, explica o pesquisador de secas do Cemaden, Marcelo Zeri.
Histórico de focos de queimada pelo Brasil
País está com o maior número de focos de incêndio dos últimos dez anos, resultado da seca
Fonte: Inpe
No Sudeste, a situação mais crítica está em São Paulo e no Espírito Santo. Nos dois estados, todas as cidades estão sob alguma classificação de seca, de extrema e fraca.
O volume do Sistema Cantareira, que abastece milhões de pessoas em São Paulo, está em 63%, o que é considerado bom. No entanto, os especialistas dizem que é preciso cautela já que a seca que se estabeleceu deve perdurar por meses.
Em Itu, no interior paulista, a prefeitura decretou intervenção nos reservatórios particulares por causa da estiagem. Já Piracicaba está em situação de alerta por causa do baixo nível de água dos rios.
No Espírito Santo, a seca que castiga as cidades fez baixar o nível dos reservatórios. O estado está sob alerta e já enfrenta consequências no abastecimento e na produção agrícola. As safras de café, leite e derivados tiveram prejuízos milionários.
Com isso, o fogo avançou sobre a vegetação, que teve o pior cenário de incêndio desde 1998, pelo menos – ano em que o Inpe começou a monitorar a área. O incêndio consumiu uma área equivalente à de nove campos de futebol por minuto.
No Mato Grosso do Sul, o rio Perdido, que tem quase 300 quilômetros de extensão, virou um caminho de areia, sem água em vários trechos. O rio é importante para o abastecimento de centenas de famílias e também suporte da produção agrícola, que já dependem de caminhão-pipa.
O Norte, que tentava se recuperar da pior seca em 40 anos, vive novamente um período de estiagem. Com a região já vulnerável, seca e sem água, a estiagem ganhou força.
📈 Muito antes do que se viu acontecer no ano passado, rios estão secando. No Amazonas, 19 rios receberam neste ano menos água do que 2023, o que indica que a descida pode ser mais severa. Há mais de 10 mil pessoas afetadas pela crise, comunidades isoladas e o governo tem emitido alerta para as pessoas estocarem comida (leia mais aqui).
Governos do Acre e de Rondônia decretaram situação de emergência pelo baixo nível dos rios. A região vem enfrentando meses sem chuva e altas temperaturas, o que piora a situação hídrica. O calor aumenta o processo de evapotranspiração, que é a transformação da água em vapor, levada para a atmosfera.
Os dois estados já enfrentam problemas de abastecimento em algumas regiões e impactos no setor agrícola.
A estação chuvosa, que deveria estar acabando agora, foi muito baixa. De forma geral, vimos chover menos do que 5% do que deveria acontecer. Tivemos os níveis mais baixos registrados até então. E a consequência é a seca que estamos vivendo.
— Renato Cruz Senna, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
Seca mais intensa e mais extensa
A previsão dos meteorologistas é de que a situação da seca seja mesmo mais intensa do que a vista em 2023.
➡️ Para se ter uma ideia, em junho do ano passado, quando começava o período de estiagem, eram 45 cidades com classificação de seca extrema e severa.
📈O número é mais de 20 vezes menor do que o observado no último mês, em que mais de mil cidades foram impactadas nas duas piores classificações de seca.
🔎 A previsão de seca é feita pelo Cemaden mensalmente e, depois, atualizada ao fim de cada mês para o que, de fato, aconteceu. Neste mês, até o dia 19 a previsão mantinha 1.095 cidades em classificação de seca extrema e severa. Segundo os pesquisadores, a situação grave vem se confirmando.
A estiagem começou antes do ano passado, isso já faz com que o período a ser enfrentado seja maior. Somado a isso, ela ainda está mais intensa e afetando mais regiões. Para o mês de julho, são mais de mil cidades na previsão e isso vem se confirmando.
— Marcelo Zeri, pesquisador do Cemaden.
Por que isso está acontecendo e o que podemos esperar?
➡️ Você pode se perguntar: os meteorologistas anunciaram o fim do El Niño em junho, por que então ainda estamos vivendo seca?
A resposta continua sendo o fenômeno, que se somou a outros fatores como as águas mais quentes do oceano e as mudanças climáticas, que aqueceram mais as cidades. Com isso, sua intensidade ganhou outras potências e a previsão é de que ainda vamos ouvir sobre suas consequências por algum tempo.
4 imagens para entender a seca na Amazônia
➡️ O Norte do país é importante para definir a umidade e a chuva pelo Brasil por causa da Amazônia. Ela funciona como um grande bolsão de umidade, que chega do oceano pela Foz do Amazonas e circula pela Amazônia, que empurra esse ar úmido para o restante do país.
Sem isso, o país enfrentou um longo período de estiagem e não conseguiu se recuperar. Isso faz com que a seca que estamos vivendo agora seja mais intensa e extensa.
O país não conseguiu se recuperar da estiagem do ano passado, já que não teve chuva ou umidade que pudesse minimizar os impactos. O Norte já está sendo muito afetado de novo e nosso sistema é interligado. Ou seja, isso vai afetar o restante do país.
— Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden.
Agora, o cenário pode mudar com a chegada da La Niña, que tem o efeito contrário do El Niño, e pode reforçar a formação de chuva e minimizar a estiagem pelo país.
➡️ No entanto, ela deve começar em agosto e para que tenha impactos significativos precisa ser intensa.
Ainda assim, a previsão é de que, com a sua chegada, a situação só seria minimizada em seis meses.
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