Yamandú Orsi toma posse no Uruguai nos 40 anos da redemocratização

Compromisso de Orsi é retomar o crescimento do Uruguai (Eitan Abramovich/AFP)

Com o Uruguai comemorando 40 anos da redemocratização, tomaram posse no Uruguai no sábado (1º ) o presidente Yamandú Orsi e sua vice, Carolina Cosse, eleitos pela progressista Frente Ampla, depois de cinco anos de neoliberalismo sob o conservador Lacalle Pou. Orsi e Cosse foram eleitos no segundo turno em novembro passado, com 52% dos votos,

Em seu primeiro discurso, Orsi, ex-prefeito do segundo maior município do país, Canelones, agradeceu a todos pela construção desses 40 anos de democracia e liberdade e chamou ao diálogo e ao desenvolvimento econômico, se comprometendo especialmente com “os que mais precisam”.

Este evento, assinalou Orsi, marca os 40 anos de democracia ininterrupta, “o período mais longo e que nos deixa orgulhosos e felizes”.

Ele também convocou a comemorar os 200 anos da independência do Uruguai, o que ocorrerá durante seu mandato e manifestou seu empenho pela Celac – a comunidade das nações latino-americanas e do Caribe, pelo Mercosul e pela preservação da América Latina como um “continente de paz”. “Temos um povo que nos espera, que tem muitas expectativas a cada mudança de governo, e isso é lógico”, destacou.

Na Praça da Independência, uma multidão festejou a volta da Frente Ampla, com coro de “o povo unido jamais será vencido”, agitando bandeiras uruguaias e frenteamplistas e entoando o hino nacional, enfatizando os versos “saberemos cumprir”, lema da campanha vitoriosa, e “tiranos, tremam”. Eles acompanharam o discurso em telões e aplaudiram cada vez que Orsi, o ex-presidente Pepe Mujica ou o presidente brasileiro, Lula, apareceram nas imagens.

“Em 1º de março de 1985, o país recuperou as instituições democráticas após 13 anos de ditadura militar. Ficou para trás o período mais doloroso da nossa história contemporânea, marcado pela perseguição política e pela crueldade humana como método de governo e pela pilhagem econômica como parte central desse projeto político”, afirmou Orsi, convocando a “manter intacto o compromisso com a liberdade, a verdade e a justiça”.

“ONDE ESTÃO?”

No caminho para a posse, Orsi parou para cumprimentar integrantes das Mães e Familiares dos Detidos-Desaparecidos pela ditadura, enquanto uma multidão aplaudia e bradava: “onde estão, onde estão?”.

Orsi recebeu das mãos do antecessor, Lacalle Pou Herrera, a faixa presidencial, com os outros dois ex-presidentes vivos da democratização presentes – Julio María Sanguinetti e José “Pepe” Mujica – e homenageou os que já se foram, Jorge Batlle e Tabaré Vázquez.

“Assim como não há república, nem liberdade, nem coexistência pacífica sem democracia, não há democracia sem partidos políticos. Sabemos bem que temos que valorizar esta construção em tempos em que proliferam expressões de antipolítica e lógica excludente. Sejamos sempre adversários, mas nunca inimigos”, conclamou o novo presidente uruguaio.

Ele agradeceu aos partidos uruguaios “sempre cuidando desse frágil cristal que é a nossa democracia” e que são “a vacina contra os excessos decorrentes do messianismo”, em referência a vizinhos do Mar do Prata e certas assombrações que vagueiam pelo planeta ultimamente.

LIBERDADE

Orsi também se contrapôs à concepção de “liberdade” propugnada pelos adeptos da motosserra. “Sobre ela paira um conceito ultraindividualista de liberdade, pregando a predominância do mais forte. Essa nunca será nossa noção de liberdade. A liberdade individual na qual acreditamos é a chave para a convivência e a igualdade de oportunidades nos aspectos essenciais da vida”.

“Quanta liberdade pode ter um compatriota que tem que passar semanas a fio indo a um posto de saúde para obter seus remédios, sem se exercitar ou se divertir? Quão livre é alguém que sofre de sérios problemas de moradia ou trabalho? Quantas mulheres se sentem violadas nas ruas ou a portas fechadas em suas casas? Que liberdade individual plena pode ser exercida em meio à desigualdade coletiva?”, insistiu.

Apesar dessas observações, o ministro das Relações Exteriores anunciado, Mario Lubetkin, previu que o Uruguai terá uma “relação maravilhosa” com a Argentina.

NOVA SECRETARIA DA CIÊNCIA E INOVAÇÃO

Entre as primeiras medidas de seu governo, Orsi anunciou a criação de uma Secretaria da Ciência e Inovação ligada à presidência e voltou a retirar que é preciso dar atenção à dívida social, com uma em cada cinco crianças uruguaias na pobreza, “é por isso que devemos garantir também o sustento das famílias que têm essas crianças sob seus cuidados, especialmente das mulheres chefes de família”.

Entre as questões que terão que ser abordadas pelo novo governo, estão a reforma da previdência de Lacalle, que aumentou a idade de aposentadoria, com a proposta da FA sendo de volta aos 60 anos, com incentivos para quem quiser continuar trabalhando, além da revisão das atuais associações de previdência privadas (Afaps). Questão sobre a qual houve um plebiscito sob pressão da central sindical PIT-CNT e da então oposição, mas que não alcançou o quórum.

Essas e outras fazem parte da Lei de Consideração Urgente (LUC), que Lacalle usou para impor retrocessos à população uruguaia. Como a revogação da obrigatoriedade dos pais de matricularem seus filhos na escola e de monitorarem seu aproveitamento e freqüência.

O governo Orsi também terá que decidir o que fazer sobre os esquemas de privatização da água, que foram acelerados no governo que cessou, aproveitando-se da seca e falta de água de 2023, com Lacalle assinando 37 dias antes de terminar seu mandato um contrato com um consórcio privado, a Águas de Montevidéu. E também sobre a isenção tributária concedida aos fabricantes da água mineral engarrafada.

Como complicador, o governo Orsi não tem maioria parlamentar na Câmara dos Deputados, onde a FA terá 48 contra os 51 da oposição (brancos mais colorados), exigindo esforços de negociação. No Senado, o partido governista tem uma estreita maioria de 16 dos 30 assentos.

GOL CONTRA, PEDE CHEFE DA ECONOMIA

Enquanto Orsi discursou no sentido descrito acima, o ministro da Economia que ele anunciou, Gabriel Oddone, se saiu como uma “novidade”, simplesmente a “desindexação dos salários da inflação”, a pretexto de “combater a inflação”, o que já provocou manifestações de ojeriza na Frente Ampla.

“Não, de forma alguma”, disse a senadora Bettiana Díaz, apontando que o crescimento dos salários reais “é uma tradição” da Frente Ampla. “Se há uma coisa que é uma marca registrada da Frente Ampla, é o aumento ininterrupto dos salários em linha com a inflação”, disse ela.

“Não, que os trabalhadores hajam tido perdas salariais por três anos foi uma decisão de Lacalle Pou e Azucena Arbeleche”, ela acrescentou.

“Não é aceitável. Em termos de prioridades, as pessoas devem ser colocadas antes de fazer os números funcionarem”. “A Frente Ampla, a tradição que tem e o que tem escrito em suas prioridades e programa é recuperar o que as pessoas perderam em cinco anos de Herrerismo, que é basicamente poder de compra e qualidade de vida”, concluiu Díaz.

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