O ministro do Interior da Venezuela, Diosdado Cabello, disse nesta quarta-feira (7) que a retirada de opositores que estavam asilados na embaixada da Argentina, em Caracas, foi resultado de uma negociação. Eles foram levados para os Estados Unidos. A declaração contrasta com o relato da oposição, segundo o qual o regime de Nicolás Maduro foi pego de surpresa com a saída do grupo.
“No final, eles acabaram negociando. Tudo foi negociado. Eles podem dizer o que quiserem agora, podem fazer o show que quiserem, mas essa é a verdade”, disse Cabello, sem entrar em detalhes sobre a suposta negociação.
O governo de Donald Trump disse na véspera ter resgatado os opositores em uma “operação precisa”. Eles foram levados para território americano e estão em segurança, de acordo com o secretário de Estado do país, Marco Rubio, que também não detalhou como o grupo foi retirado da Venezuela.
Os opositores estavam na representação desde março de 2024. Eles se abrigaram no local depois que o procurador-geral venezuelano os acusou de conspiração. Nos últimos meses, a representação, sob os cuidados do Brasil, foi cercada por agentes da ditadura —havia relatos de cortes frequentes de água e de energia, bem como da presença de franco-atiradores encapuzados nas proximidades do local.
Cabello afirmou que quatro pessoas deixaram a residência diplomática, não cinco, como havia sido divulgado na véspera. O regime venezuelano e os EUA não divulgaram quem deixou a representação.
Mais cedo, a principal coalizão opositora da Venezuela divulgou um comunicado no qual celebra o que chamou de “operação internacional de resgate”. Segundo a nota, a ação foi realizada com êxito e “para surpresa do regime de Nicolás Maduro”.
“A operação é um testemunho da dedicação de muitas pessoas que, para a surpresa do regime de Nicolás Maduro, conseguiram quebrar as correntes da opressão”, disse em comunicado compartilhado no X. A nota agradece os esforços de Donald Trump, Marco Rubio e Javier Milei, o presidente da Argentina.
A embaixada argentina passou a ter a custódia do Brasil em 5 de agosto, quando a ditadura chavista expulsou de sua capital os diplomatas de Buenos Aires. As tensões diplomáticas entre o regime e os países vizinhos se acirraram após as eleições presidenciais que deram um novo mandato ao ditador Nicolás Maduro em julho, em meio a acusações de fraude.
Apesar de custodiar o imóvel, o governo brasileiro não participou da operação de retirada dos opositores, segundo uma autoridade diplomática consultada pela agência de notícias Reuters. Em nota oficial, o Itamaraty afirmou que tentou por diversas vezes negociar um salvo-conduto para os abrigados.
Enquanto estiveram na residência argentina, os opositores usaram as redes sociais para relatar cercos impostos pelas forças do regime, além de cortes de água e energia —em alguns casos, por semanas consecutivas.
À Folha, um dos opositores disse, em janeiro, que a sensação de terror era permanente. “Estamos em constante incerteza se deixarão entrar comida ou itens de farmácia”, disse Pedro Urruchurtu na ocasião.
Ainda que Washington reconheça o opositor Edmundo González como presidente eleito da Venezuela, a Casa Branca precisa de Maduro para partes-chaves de seus objetivos de política doméstica e externa.
Para a política de deportação em massa de imigrantes, por exemplo, Trump buscou selar algum acordo com Caracas para poder expulsar venezuelanos, o que não se concretizou.
Além de afirmar que a saída dos opositores foi negociada, Diosdado Cabello disse nesta quarta que a mãe da líder opositora, María Corina Machado, também deixou o país. Corina Parisca de Machado, 85, teria desembarcado em Bogotá, na Colômbia.
María Corina, que permanece escondida em território venezuelano, vinha denunciando perseguições e vigilância constante na casa da mãe por parte das forças de segurança do regime.
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