Veja andamento de rota que vai interligar Brasil e Peru e facilitar comércio com a China – Noticias R7
Integração multimodal pode acelerar projeto, segundo secretário de Transportes Ferroviário Leonaro Cezar Ribeiro; entenda
Brasília|Edis Henrique Peres, do R7, em Brasília
O Brasil avalia, desde 2014, a criação de uma ferrovia bioceânica para ligar o oceano Atlântico ao Pacífico, em uma rota que atravessa o Brasil e alcança o Peru. A estratégia diminuiria em cerca de 10 mil quilômetros a distância percorrida entre Brasil e China, segundo informações divulgadas pelo próprio presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Uma década depois, no entanto, o acordo discutido em 2014 não saiu do papel. Agora, o tema voltou a debate, mas com oportunidades reais de ser finalizado, segundo o secretário Nacional de Transporte Ferroviário, Leonardo Cezar Ribeiro. De acordo com ele, uma estratégia de integração multimodal, utilizando hidrovias, rodovias e ferrovias, pode acelerar a criação desta rota.
A Ferrovia Bioceânica pretende interligar Ilhéus (BA) ao porto de Chancay, no Peru, com trajeto passando por regiões-chave do agronegócio brasileiro, incluindo o Matopiba, a área de fronteira entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Nesta semana, durante agenda em Pequim, na China, o presidente Lula defendeu a iniciativa, tanto em fórum com empresários, como em discurso após reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping.
“Na área de infraestrutura são inúmeras as oportunidades de cooperação em projetos em torno do desenvolvimento. O corredor ferroviário leste-oeste, que vai interligar o Brasil, será o empreendimento fundamental para a logística brasileira e um dos mais transformadores projetos para a garantia da segurança alimentar do mundo”, avaliou.
Lula disse que “conectar o oceano Atlântico ao Pacífico por meio de cinco rotas de integração, facilitará o intercâmbio comercial e levará mais desenvolvimento para o interior do continente americano”.
“A rota bioceânica encurtará a distância entre Brasil e China em aproximadamente 10 mil quilômetros. As rotas são mais do que corredores de exportação entre Atlântico e Pacífico, são vetores de indução do desenvolvimento”, defendeu o presidente.
Lula também citou, como exemplo da boa relação entre China e Brasil, a nova rota marítima ligando o Porto de Gaolan, em Zhuhai, aos portos de Santana e Salvador, “inaugurada no mês passado [abril], eles são uma conquista adicional para a região norte e região nordeste brasileira”.
Desenvolvimento do projeto
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, defendeu que a medida representa uma revolução. “Quando esse projeto se concretizar, transformaremos todo o cenário econômico do Brasil. Estamos levando desenvolvimento a uma região atualmente considerada a mais rica devido à qualidade de seu solo e agronegócio, mas que carece de infraestrutura”, afirmou.
Segundo ela, “o projeto da ferrovia tornará o Brasil muito mais competitivo”. “É uma mudança radical. Impactará diretamente às regiões do Norte, Centro-Oeste, interior do Sudeste e do Nordeste. Seu efeito sobre o desenvolvimento é comparável ao que uma reforma tributária provocaria nas indústrias do Sul e Sudeste”, disse.
O desenho da ferrovia está sendo desenvolvido pelo Ministério do Planejamento e Orçamento, em colaboração com a Casa Civil, o Ministério dos Transportes e o Ministério dos Portos e Aeroportos.
Embora o traçado da ferrovia ainda esteja sendo definido, a intenção é conectar a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), atualmente em execução, com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico), unindo-as ao Peru.

Avanços na infraestrutura

Em entrevista exclusiva ao R7, o secretário Leonardo Cezar Ribeiro, disse que o Brasil está em outro panorama depois de 10 anos da publicação da declaração de cooperação para estudar a ferrovia bioceânica assinada pelo país em parceria com a China e o Peru.
“Esse estudo foi realizado e, naquele contexto, considerando a infraestrutura existente e o que seria necessário para construção, se mostrou com baixa viabilidade. O assunto agora retoma, mas com um cenário totalmente diferente”, observou.
Segundo o titular da pasta do Ministério dos Transportes, a infraestrutura hoje no país está mais consolidada e tem uma forte produção de estoque na área central do país. “Além disso, construímos nesses últimos anos novos trilhos. A gente construiu a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) e a gente tem a Fico 1 (Ferrovia de Integração Centro-Oeste) sendo construída”, listou.
Ribeiro defende que o Brasil avançou no campo da infraestrutura, “não apenas em ferrovias, mas em rodovias e hidrovias também”.
“Uma delegação chinesa veio aqui no brasil para conhecer esses empreendimentos, sobretudo o Corredor Ferroviário Fiol. Nós fizemos uma visita com eles, sobrevoamos o empreendimento da construção da ferrovia e levamos eles também para o Maranhão, para conhecer a ferrovia Fico”, contou.
Para Ribeiro, a delegação percebeu que o país tem capacidade para fazer essa conexão bioceânica até o Porto de Chancay, no Peru.
“Nesse momento, eles estão querendo estudar não só o corredor bioceânico ferroviário, mas também querem entender como a ferrovia poderia se integrar com as rodovias e hidrovias. Nesse caso, estamos falando de um programa multimodal”, explicou.
Aproveitamento da infraestrutura
O secretário menciona que aproveitar as estruturas já existentes pode agilizar a integração entre os dois extremos do país. “A gente tem uma infraestrutura rodoviária já existente no estado de Rondônia e do Acre, que poderiam fazer essa conexão entre ferrovia e rodovia, ligando o Atlântico até o Pacífico”, disse.
Para Ribeiro, a medida fortaleceria a relação comercial entre Brasil e China. “O Brasil hoje exporta cerca de US$ 350 bilhões de dólares para o mundo, sendo que mais de um terço dessa exportação vai para a China. Ou seja, a China é um grande parceiro do Brasil no comércio global. Então essa infraestrutura é estratégica e pode deixar a relação mais fortalecida”, avaliou.
Para o projeto acontecer, no entanto, é necessário também um diálogo com o Peru. Segundo o secretário, esse diálogo está sendo construído e outros aspectos também estão sendo estudados, como os ganhos práticos e os custos do Brasil adotar como envio de exportação a rota saindo do porto de Chancay, no Peru.
“Todos esses parâmetros estão sendo analisados e estudados. A gente tem mantido contato com especialistas e mostrado a eles [chineses] essa visão multimodal, que é ferroviária, rodoviária e hidroviária”, explicou.
As análises iniciais, contudo, já avaliam um ganho de cerca de 20% em eficiência de transporte, caso a nova rota seja implementada, segundo Ribeiro.
“Quando a gente analisa a distância do Peru até os portos principais da China, comparando com os portos do Atlântico, a gente percebe que se tivéssemos com uma infraestrutura implantada, considerando esse cenário que ainda vai precisar passar por todo o investimento público-privado, a gente estima [que teríamos] uma eficiência de cerca de 20% do custo desse transporte”, finalizou.
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