Quando saiu de um dos dois autocarros, neste caso o da frente, Frederico Varandas não vinha propriamente com cara de muitos amigos tendo em conta o que estava prestes a acontecer. Podia estar apenas sério, podia não ter gostado do atraso de dez minutos na chegada à Câmara, não estava com o mesmo sorriso largo que se tinha visto no ano passado. Afinal, era uma questão de tempo. O presidente do Sporting quer ser cumprir os horários que tem mas o cumprimento a Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, com algumas palavras de circunstância à mistura, recolocaram o ar descontraído habitual neste tipo de situações. Em frente, muitas crianças. Muitas, muitas crianças que estavam numa primeira fila a ouvir a marcha verde e branca cantada por Kátia Guerreiro. Também isso ajudou a que a festa tivesse um outro arranque.
Festa do campeão. “Queremos muito, mesmo muito, o tricampeonato”, destaca Varandas após assobios a Moedas
Ao contrário do que é habitual, e já depois da habitual fotografia na escadaria da Câmara, os jogadores foram à varanda da Câmara mostrar o troféu ganho após o triunfo frente ao V. Guimarães em Alvalade no sábado, desceram depois com três jogadores a pararem para curtas declarações à Sporting TV (Nuno Santos, Zeno Debast e o capitão Morte Hjulmand) e, novidade, perfilaram num palco colocado à frente dos adeptos para ouvir as habituais palavras que costumavam ser ditas lá em cima, longe das pessoas. Para “estreia”, não foi o melhor dia – muitos não esqueceram os constrangimentos anunciados na zona de restaurantes e bares de Alvalade antes do jogo do título, que acabaram depois por ser minimizados, nem a forma como a polícia teve intervenções no Saldanha sobre adeptos leoninos e foi o líder da Câmara que pagou a “fatura”.
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Quando se preparava para discursar, já depois da entrega do Santo António que simboliza a cidade a Rui, Borges, Morten Hjulmand e Frederico Varandas (o clube entregou ao presidente da Câmara um quadro com a camisola do bicampeão personalizada), Carlos Moedas ouviu uma estrondosa assobiadela por parte dos adeptos leoninos, algo que nem a piada inicial com Sebastian Coates conseguiu atenuar. Varandas não estava “confortável” com a situação, o próprio roupeiro Paulinho pedia para que não se vaiasse mas os assobios só desapareciam… quando havia cânticos do Sporting. As medidas anunciadas não foram esquecidas, com Frederico Varandas a tentar inicialmente “explicar” aquilo que aconteceu apontando uma outra crítica.
A aposta em Amorim, chamada de Rui Borges e uma gestão de dentro para fora: como Varandas se tornou o líder com mais títulos
“A primeira palavra vai para os adeptos do Sporting. Obrigado por terem lutado connosco lado a lado, nos estádios, nas estradas, nas ruas, sempre lado a lado mas muitas vezes a carregar a equipa às costas nos momentos mais difíceis. Obrigado pela dedicação, pela entrega e por acreditarem que aqui estaríamos novamente. Também quero agradecer ao presidente Carlos Moedas…”, referiu, antes de puxar de novo assobios que se foram depois diluindo. “Foram mais de 24 horas a tentar encontrar razões técnicas e políticas para que não houvesse condicionamentos na festa, como depois não aconteceu. Sou militar, respeito e muito todas as forças de seguranças mas não tratem os adeptos de futebol como criminosos, não podem prejudicar algo que faz parte da nossa cultura, centenas de milhares de adeptos por causa de uma minoria. E que lição voltaram a dar, foram bicampeões a festejar também”, apontou o líder do clube verde e branco.
“Que luta que foi… O nosso rival foi um digno vencido mas valorizou a nossa conquista. Honra ao nosso grande rival, eles não venceram mas não deixaram de fazer um grande Campeonato”, frisou de seguida, entre mais assobios e cânticos contra o Benfica. “Falando internamente, os primeiros a quem me quero dirigir são aos que não estão aqui: Ruben Amorim, João Pereira e Hugo Viana também são campeões, obrigado pelo que contribuíram. Mas o grande destaque tem de ser para quem está aqui. Não tínhamos o maior orçamento, não tínhamos o maior investimento, mas somos os que tivemos mais pontos, melhor ataque, melhor defesa, o melhor jogador da Liga… Há dúvidas? Agora, os heróis deste Campeonato: os jogadores do Sporting. São heróis pelas inesperadas saídas que tivemos a meio, pela onda inacreditável de lesões, mais de 11 indisponíveis, chegámos a não ter um médio disponível, tivemos ao longo do ano lesões graves e longas em jogadores chave e quando muitos começaram a tremer, este grupo nunca duvidou”, salientou.
“Agarrados uns aos outros, em cada jogo, lutámos com tudo o que tivemos e tínhamos, lutámos até ao fim. Passámos por muito, merecíamos muito. De todos os títulos, este foi o mais saboroso até hoje. E o que dizer sobre o nosso treinador Rui Borges? Já ouvi dizer que é de Mirandela, para mim é indiferente se é de Mirandela, Praça de Londres ou Cascais, a mim o que me interessa é a sua capacidade de liderança. E se nunca estudou, é licenciado e doutorado em valores de carácter e nobreza. Pode dar lições a pessoas que nunca conquistaram nada na vida mas se acham alguém por falar na televisão. Tenho de tirar o chapéu à capacidade com que se teve de adaptar não jogando na sua ideia do jogo. Este não só se adaptou como venceu e é campeão nacional. Este treinador conseguiu ser campeão com 19 jornadas sem perder e nunca teve o onze de gala das primeiras 11 jornadas, nunca. Muito obrigado por tudo”, destacou Varandas.
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“Não posso esquecer também a estrutura do Sporting que deu suporte a três treinadores, integrou dois novos técnicos, tem cultura vencedora, sem lamentos, sem desculpas. A mentalidade do Sporting hoje é assim em tudo. Fomos lendo e vendo os gurus de comunicação mas só posso dizer uma coisa: percebem muito pouco de liderança e ainda menos de como tornar um clube campeão. Em 2019 disse que mais importante do que essas taças era o rumo que o Sporting estava a percorrer. Desde que esta Direção entrou, o Sporting ganhou três Campeonatos, os rivais dois cada. Desde 2018 o Sporting é o número 1 em Portugal e em 2018 não ganhava há 17 anos e estava no seu pior momento da história”, prosseguiu o presidente verde e branco, antes de projetar o futuro não só perante a moldura que tinha à frente mas também no plano desportivo.
“O Sporting é hoje um clube digno, jovem, pujante e bicampeão. Vejo muitos jovens e crianças à minha frente. Uma das razões com que decidimos assumir este cargo foi para não passarem aquilo que a minha geração passou. O meu filho tem cinco anos, viu três Campeonatos. A minha filha que faz hoje dois anos só sabe ser campeã. Respeitamos muito os nossos rivais mas queremos muito, muito mas mesmo muito o tricampeonato. Viva o Sporting!”, concluiu Frederico Varandas, neste caso entre muitos aplausos.
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