Todas as sessões decorrem às quartas-feiras, às 19h, na ZDB.
No momento em que se celebra meio século da independência política de Angola – proclamada a 11 de Novembro de 1975 – propõe-se um ciclo de cinema que dê conta de parte da produção audiovisual que, nos últimos cinquenta anos, tem animado o léxico imagético do país.
Longe de alguma vez se ter constituído enquanto «indústria», o audiovisual angolano conhece, no período imediatamente anterior à proclamação da independência e nos anos que se seguem, uma grande vitalidade. Apesar das dificuldades de fazer cinema num território ainda há pouco saído de uma guerra pela sua soberania e empurrado já para uma outra, despontava, do panteão filmográfico do país, uma vasta produção em película, encabeçada por nomes como Asdrúbal Rebelo, Ruy Duarte de Carvalho, António Ole, Carlos Sousa e Costa ou os irmãos Henriques, entre outros, e viabilizada por organismos como a Promocine, a equipa Angola – Ano Zero, a Televisão Popular de Angola (TPA), o Instituto Angolano de Cinema (IAC) e o Laboratório Nacional de Cinema (LNC). Politicamente comprometido e assumidamente revolucionário – embora nem sempre de matriz estritamente propagandística como por vezes, equivocadamente, se insinua – este cinema participou ativamente num projeto de emancipação feito também pela imagem, construindo (e questionando) a ideia de Estado-nação e de «angolanidade». Como nos recorda Ruy Duarte num dos muitos escritos que nos deixou sobre este período, “era a independência, era a guerra, era o começo de uma nova era, longamente aguardada”.
Pouco depois, porém, a produção cinematográfica começa a dar sinais de algum abrandamento – muito por conta das repercussões do conflito civil – e mesmo os materiais previamente gravados parecem cair no esquecimento. Ainda assim, entre meados dos anos oitenta e até ao final da década seguinte, o cinema angolano existe e resiste como pode: os supramencionados realizadores «pioneiros» esforçam-se por continuar a produzir cinema, embora quase sempre a partir do exterior, sendo que a estes se soma uma nova geração de cineastas, como Zezé Gamboa, Pocas Pascoal ou Mariano Bartolomeu, cujo trabalho, desenvolvido também maioritariamente na diáspora, começa a deixar lastro.
Na virada do novo milénio, a atribuição pelo Estado angolano de uma verba de aproximadamente um milhão de dólares destinada à produção cinematográfica, bem como a criação, em 2003, do Instituto Angolano de Cinema, Audiovisual e Multimédia (IACAM), parecem prometer uma descompressão do panorama audiovisual nacional. Amiúde denominado de «cinema da retomada», este período viu a estreia de produções que há muito se arrastavam – entre as quais se destacam O Comboio da Canhoca (2004) de Orlando Fortunato ou Na Cidade Vazia (2004) de Maria João Ganga – impulsionando também a rodagem da então primeira longa-metragem de Zezé Gamboa, O Herói (2004).
Face a um investimento estatal que se revela, ainda assim, insuficiente e incapaz de assegurar uma produção regular, começa a ser visível uma série de iniciativas autónomas empenhadas em democratizar o acesso à produção audiovisual. A partir de 2010, a então recém-criada produtora Geração 80 assume-se como uma das mais importantes dinamizadoras do panorama cinematográfico do país, albergando cineastas como Fradique, Kamy Lara ou Ery Claver que, recentemente, viu a sua primeira longa-metragem estrear no Festival Internacional de Cinema de Locarno.
Mais do que traçar uma história da cinematografia angolana e das suas obras – que são muitas e variadas – este ciclo procura exibir alguns dos produtos cinematográficos que, desde meados da década de setenta e até hoje, saíram do território. Convocando múltiplas temporalidades e respetiva complexidade histórica – a euforia e a urgência da revolução, a angústia da guerra e a reconstrução nacional, o colapso da promessa socialista e a sua reconfiguração numa chave capitalista e neoliberal –, a programação que aqui incluímos é uma oportunidade para refletir na pluralidade e polissemia do cinema angolano. É também o testemunho da sua fertilidade e resiliência criativas. É, acima de tudo e como preconiza o título do filme que dá nome a este ciclo, uma festa para viver!
* Desejamos expressar o nosso agradecimento a todos os realizadores e realizadoras que autorizaram a exibição dos seus filmes, bem como à Agência Nacional das Indústrias Culturais e Criativas (ANICC) pela sua colaboração neste ciclo.
02.07 – Mopiopio: sopro de Angola
09.07 – A luta continua / Há Sempre Alguém Que Te Ama
16.07 – Nossa Senhora da Loja do Chinês
23.07 – Quem Faz Correr Quim? / Uma Festa Para Viver
Sofia Afonso Lopes
qua02.07.2519:00qua09.07.2519:00qua16.07.2519:00qua23.07.2519:00Galeria Zé dos Bois (Rua da Barroca, 59)
Entrada 3€
APOIO Agência Nacional das Indústrias Culturais e Criativas (ANICC)
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