Um roteiro por São Tomé: O país da FIB (Felicidade Interna Bruta) – VOU SAIR

São Tomé e Príncipe confirma a velha máxima de que no meio está a virtude. Esta pequena nação africana, localizada no centro do mundo, é um país cheio de virtudes. Ao escolher São Tomé como destino de férias, pode ter certeza de que encontrará aqui qualidades que já não se encontram em muitos outros lugares: florestas tropicais com uma das mais ricas biodiversidades do planeta, paisagens naturais ainda intocadas, praias desertas, águas quentes, uma gastronomia variada e uma população amistosa e acolhedora. Tudo isso a apenas seis horas de Portugal, com um fuso horário de apenas uma hora a menos. No fundo, trata-se de viajar para um destino tropical, sem os contras da maioria dos destinos tropicais longínquos (não necessita de visto, tem um tempo de viagem razoável e não causa jet lag).

Depois de termos conhecido a ilha do Príncipe, venha connosco descobrir São Tomé.

Erlinger Gomes, guia de profissão, espera-nos no Aeroporto Internacional de São Tomé. Este é o ponto de entrada no país para os mais de 35 mil turistas anuais (dados de 2023) que chegam para visitar a ilha de São Tomé ou a ilha vizinha, Príncipe, ou ambas.

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Erlinger Gomes é guia turístico em São Tomé

O segundo país mais pequeno de África recebe os visitantes com um sorriso e uma palavra amiga. Erlinger, conhecido como “Alemão” por ser o mais alto da turma na infância, não é exceção. Com um sorriso fácil, explica que em São Tomé exportam o FIB (Felicidade Interna Bruta) e fala com entusiasmo sobre a história do país enquanto nos guia pelas estradas de São Tomé no seu 4×4 até à primeira paragem: a Roça Agostinho Neto. Em tempos, São Tomé e Príncipe foi um dos maiores produtores de cacau do mundo, sendo conhecido como “as ilhas do chocolate”. Hoje, muitas das roças já não produzem cacau ou café, mas ainda podem ser visitadas.

A maior parte das roças de São Tomé foi fundada entre 1850 e 1868. É o caso da Roça Agostinho Neto, uma das mais visitadas da ilha. Antigamente conhecida por Rio d’Ouro, foi fundada por Gabriel Bustamante em 1865 e, mais tarde, em 1877, adquirida e explorada por José Luís Constantino Dias, nomeado pelo rei D. Carlos I Marquês de Valle Flôr. Depois da independência de São Tomé de Portugal, em 1975, a roça passou a chamar-se Agostinho Neto, em homenagem ao presidente de Angola. Havia muitos descendentes angolanos a viver na roça, e o primeiro presidente de São Tomé, Manuel Pinto da Costa, convidou António Agostinho Neto e trouxe-o à Roça Rio d’Ouro, homenageando-o com o seu nome. O nome Rio d’Ouro teve origem no cacau, considerado ouro na época, e porque esta roça tinha um rio a dividi-la. A Roça Agostinho Neto era considerada uma roça mãe (roça principal que abastecia as roças satélites, situadas no litoral e usadas para embarque e desembarque de mercadorias, já que o cacau e o café iam para a metrópole de barco).

É preciso olhar para as roças como se fossem cidades, pois aqui existiam comunidades servidas por escolas, igrejas e hospitais. Não é de estranhar, por isso, que fossem chamadas de roças avenida ou cidade. A Roça Agostinho Neto, por exemplo, é uma roça avenida por ter apenas uma avenida que desemboca no hospital, enquanto a Água Izé é uma roça cidade por ter várias avenidas.

Somente a partir de 1900 começaram a ser construídos hospitais nas roças, que eram os edifícios mais imponentes e bonitos. O motivo? Mostrar aos ingleses abolicionistas que as pessoas nas roças eram bem tratadas. Daqui advém a expressão “para inglês ver”, conta Erlinger.

A Roça Agostinho Neto é propriedade do Estado, embora esteja ocupada desde os tempos da Reforma Agrária (1992/1993). Os edifícios principais estão por recuperar. O caso mais flagrante é o do hospital que, embora em estado avançado de degradação, é habitado por cerca de 8 a 10 pessoas. Neste hospital nasceram a maior parte das pessoas nos anos 80. Deixou de funcionar em 1994/1995. As condições precárias fazem antever um fim triste para o edifício imponente e cartão-postal de São Tomé. Caso não seja recuperado, pode não resistir à próxima década.

O turismo é a alavanca de São Tomé, confirma Alemão. O nosso guia faz parte de uma nova geração de são-tomenses que criou o seu próprio emprego e viu no turismo uma alternativa à emigração – cerca de 40 mil pessoas emigraram desde 2021 até ao final de 2023, num país que tem 220 mil habitantes.

Norte de São Tomé

Adilson também é empreendedor. Proprietário do restaurante e ecolodge Monte Mar, no norte da ilha, em Morro de Peixe, com vista para a Praia dos Namorados e Tamarindo. Há poucos meses, abriu também um conjunto de bungalows para alojamento.

Visitamos o restaurante durante o almoço para provar um menu de degustação, algo comum na nova oferta de restauração de São Tomé. O menu, com um custo de cerca de 20 euros, inclui duas entradas, prato principal e sobremesa. Os produtos típicos de São Tomé são as estrelas dos pratos, incluindo fruta-pão, banana-pão e omelete com folha de micocó. Muitos dos ingredientes vêm da horta biológica do restaurante.

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Restaurante Monte Mar, no norte da ilha de São Tomé, em Morro de Peixe

Estando num dos pontos mais ao norte da ilha, seguimos pelo litoral, percorrendo a costa noroeste. Parte do percurso é feita junto ao mar, com a paisagem salpicada pelos barcos de pescadores. O destino era o Padrão dos Descobrimentos. No caminho, passamos pela Lagoa Azul, ideal para snorkeling, e por várias praias, sendo a zona norte a mais indicada para quem deseja aproveitar as praias de São Tomé. Também passamos por Neves, uma cidade industrial onde param barcos de combustível e que é sede da fábrica de cerveja Rosema.

A recepção ao chegar ao Padrão dos Descobrimentos é calorosa, feita por um grupo de crianças que brincam na praia. A alegria das crianças contrasta com o monumento, que está abandonado e degradado. Ainda assim, vale a pena conhecer o local onde os portugueses chegaram pela primeira vez. Além disso, o local fica no caminho da Roça Diogo Vaz, uma das roças mais visitadas de São Tomé.

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Lagoa Azul, no norte da ilha de São Tomé

Nesta área da ilha fica o resort Mucumbli, um ecoresort com vista para o mar e uma reserva de burros. Chegamos ao final da tarde, a tempo de apreciar o pôr do sol no restaurante do hotel, enquanto desfrutamos de uma bebida (altamente recomendável tanto o pôr do sol quanto a estadia). Construído por um casal de italianos, o Mucumbli possui 13 quartos, um apartamento e um restaurante. Além do serviço de alojamento, oferece vários passeios.

Cidade de São Tomé

Uma visita à cidade de São Tomé, capital do país situada no litoral leste da ilha, é uma oportunidade para mergulhar na história e cultura do país. Na Praça da Independência, podemos apreciar os edifícios coloniais, o antigo Banco Central e a Farmácia Epifanio de França, cujo edifício foi construído nos anos 20. No entanto, é o Museu Nacional de São Tomé, localizado no Forte de São Sebastião, que oferece uma verdadeira viagem ao passado de São Tomé e Príncipe. Na entrada do forte, encontra-se a estátua do Rei Amador. Dentro, várias salas narram a história de São Tomé, incluindo uma que recria uma casa senhorial, outra com artesanato e cultura da ilha, e uma sala com arte sacra do século XVII vinda das capelas das roças. Outras salas abordam a libertação e independência de São Tomé, a constituição do governo e o massacre de Batepá de 1953. A entrada custa dois euros por pessoa.

Prosseguimos com a visita à Cacau – Casa das Artes, Criação, Ambiente e Utopias -, um espaço com exposições temporárias de artistas nacionais e internacionais, e um dos palcos da Bienal das Artes, organizada por João Carlos Silva, proprietário deste espaço. A filha, Olinda Silva, é agora a responsável pela CACAU. Além de ser um espaço de arte, inclui um museu da história de São Tomé e um auditório para eventos.

Deixamos a cidade em direção ao interior da ilha para visitar a Roça Monte Café. No caminho, fazemos uma pausa para almoçar no Restaurante Casa Museu Almada Negreiros, na Roça Saudade. Criado em 2015, o restaurante fica sobre as ruínas da casa onde nasceu o artista Almada Negreiros, que foi para Portugal com dois anos. Há um projeto para a construção de um museu na casa. Atualmente, além do restaurante, há uma guest house com seis quartos, a partir de 60 euros por noite para duas pessoas, incluindo pequeno-almoço. A guest house oferece uma vista panorâmica sobre a cidade. Almada Negreiros está representado no restaurante com frases nas paredes, e há uma loja de artesanato com produtos alusivos ao artista.

Sugestões onde dormir em São Tomé:

Museu do Café na Roça Monte Café

Além da produção de cacau, o café foi um dos principais produtos exportados por São Tomé. A Roça Monte Café foi a maior produtora de café na ilha, inclusive durante o período colonial. A roça é propriedade do Estado, que inaugurou o Museu do Café em 2013 para mostrar a história e o processo de produção do café. A antiga casa do patrão foi transformada em museu, exibindo várias etapas de produção com maquinaria e artefatos antigos. João Batista Silva de Lagos introduziu o café em São Tomé, vindo do Brasil em 1800, e há uma imagem dele no museu. Fundada em 1858 pelo português Manuel de Pedreira, a roça empregava pessoas de Angola, Cabo Verde e Moçambique, que descontavam dinheiro para regressar aos seus países de origem, dinheiro esse que nunca chegou a ser devolvido. O museu exibe um livro com os registos de nomes e salários dos trabalhadores. Após a independência, a roça ficou nas mãos do Estado, que entregou a exploração a estrangeiros, incluindo líbios. Em 2008, foi criada a cooperativa Monte Café, que opera até hoje. O bilhete de entrada para o museu custa 3 euros.

A nossa viagem prossegue agora para explorar a costa leste da ilha, com destino ao Club Santana, onde ficaremos alojados. Localizado na Baía Messias Alves, em frente ao ilhéu Santana, o clube possui 31 bungalows com vista para o mar e uma variedade de atividades recreativas, como passeios de barco aos ilhéus das Rolas e das Cabras. É o principal centro de mergulho da ilha de São Tomé. Para aqui ficar alojado, é preciso reservar no mínimo três noites, mas, em contrapartida, o batismo de mergulho está incluído no pacote, assim como um dos passeios de barco.

Continuamos para sul, onde iremos visitar a roça Água Izé, que chegou a ser a maior produtora de cacau. Aqui funciona agora a FACA, Fábrica das Artes, Ambiente e Cidadania Activa, que pode ser visitada gratuitamente. Ao visitar este espaço, vai ficar a conhecer o projeto solidário Missão DIMIX, uma Organização Não Governamental para o Desenvolvimento (ONGD) fundada pela portuguesa Sónia Pessoa. A organização tem como missão a promoção e defesa dos Direitos Humanos, especialmente das crianças e jovens, e o apoio ao desenvolvimento nas áreas da Educação, Ambiente, Saúde e Igualdade. Acabamos por deixar aqui a maior parte dos materiais escolares que trouxemos de Portugal (estas instituições podem ser um bom veículo para doar bens, caso traga algo do país de origem). Entre as muitas ações da Missão DIMIX, ficamos a conhecer uma delas: a transformação do plástico em bens reutilizáveis, como saboneteiras, bases para copos ou pentes, que podem ser comprados na loja. O que nos foi explicado é que a organização recolhe o plástico da população e, em troca, doa material escolar. DIMIX é o nome de um menino que a fundadora conheceu em 2015, quando visitou a ilha.

Visita à Roça São João dos Angolares

A Roça São João dos Angolares é um destino imperdível em São Tomé. Comandada por João Carlos Silva, conhecido em Portugal pelo programa televisivo “Na Roça com os Tachos”, e pela filha, Olinda Silva, este local oferece uma experiência única, combinando história, biodiversidade e arte, num ambiente que reflete a rica cultura de São Tomé.

A roça possui 14 quartos no total, distribuídos na casa principal, senzala e um antigo hospital que está a ser remodelado para receber hóspedes. Nove desses quartos estão na casa principal, oferecendo uma vista deslumbrante para a Baía Santa Cruz e o Pico Maculu. O preço das acomodações começa em 42 euros por pessoa, incluindo pequeno-almoço, ou 65 euros para duas pessoas. Há também a opção de meia pensão para os hóspedes que desejam uma estadia mais completa.

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Roça São João dos Angolares

A Roça São João dos Angolares aposta fortemente na biodiversidade. A região atrai muitos biólogos e observadores de pássaros, graças à abundância de espécies. A arte é uma presença constante na roça, com muitos quadros espalhados pelas instalações. João Carlos Silva e a sua equipa desejam cruzar os seus diversos projetos artísticos com o turismo, recebendo artistas por períodos de alguns meses e envolvendo a comunidade local nas suas atividades. Este enfoque na arte e na cultura diferencia a Roça São João dos Angolares de outras opções turísticas.

Ao lado da sala de refeições, há uma loja com produtos da Cacau, que oferece aos visitantes a oportunidade de levar um pouco da roça para casa. Recentemente, foi inaugurado o Bar da Língua, cuja construção começou em 2020, adicionando mais uma opção de lazer para os hóspedes.

Olinda Silva, uma das responsáveis pela roça, destaca que um dos grandes desafios de São Tomé é a educação. Ela aponta que, embora seja relativamente fácil abrir um negócio no país, é difícil mantê-lo. O país tem recursos, mas precisa melhorar as suas infraestruturas e ouvir mais os empresários privados.

Como Chegar?

Voos para São Tomé: A STP Airways tem voa uma vez por semana para São Tomé (partida de Lisboa às 00h05 e chegada a São Tomé às 06:20).

Cinco indispensáveis da ilha de São Tomé

Parque Natural Obô ocupa 235 km2 na ilha de São Tomé e 85 km2 na ilha do Príncipe. É ideal para amantes de caminhadas, sugiro os trilhos para a Lagoa Amélia e o trilho dos 7 túneis.

Cidade de São Tomé, capital da ilha, é conhecida pelas suas ruas coloridas, mercados e história, e é possível visitar a Casa das Artes, Criação, Ambiente e Utopias (CACAU) para conhecer a história das roças de São Tomé e Príncipe.

Pico Cão Grande, com 286m de altura, que oferece uma vista impressionante, ponto de paragem obrigatório na visita das praias do sul.

Estrada para norte de São Tomé é uma estrada panorâmica ao longo do mar, que passa por praias, roças, lagoas e comunidades piscatórias.

Monte Café é um local histórico que abriga provavelmente o melhor Museu de São Tomé, e uma cooperativa que reavivou a produção do café em São Tomé.

Onde Ficar?

Hotel Omali | www.omalisaotome.com  | A partir de 165€ por noite, em quarto duplo

Mucumbli | www.mucumbliexplore.com | A partir de 90 euros por noite, em quarto duplo com pequeno almoço

Club Santana | www.clubsantana.com | A partir de 250 euros por noite, em quarto duplo com meia pensão

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