Toyota e Ogier fazem história em mais um Rally de Portugal

Tendo como pano de fundo a assinatura do contrato para a permanência no Campeonato do Mundo de Ralis (WRC) por mais dois anos (2025 e 2026), Ogier ganha em Portugal e torna-se, assim, recordista de vitórias no Rali de Portugal. Desempatou com Markku Alen, detentor do recorde durante 37 anos (desde 2017 lado a lado com o francês). Um rali emocionante com lutas intensas pela vitória á geral e na categoria WRC2. Organizado pelo ACP, o Rally de Portugal continua a ser um dos melhores ralis do Mundo!

A incerteza pairava no ar há várias semanas criando a interrogação: seria a edição 2024 a última do Rally de Portugal no Campeonato Mundial de Ralis? Dúvidas desfeitas no final de sexta-feira quando Carlos Barbosa, presidente do ACP e Jona Siebl, diretor geral do WRC Promoter, assinaram o protocolo que estende a permanência do Vodafone Rali de Portugal no WRC por mais dois anos, até 2026.

“Grande orgulho assinar contrato para 2025 e 2026”

Com toda a certeza, foram palavras sentidas de Carlos Barbosa, depois de assinar o contrato. “É um grande orgulho assinarmos o contrato para 2025 e 2026” começou por dizer o presidente do ACP. Sustentou, ainda, que“é o reconhecimento de toda a qualidade organizativa do Rally de Portugal. Convém não esquecer que há 1.200 pessoas envolvidas na organização do rali, mais 600 agentes de segurança. É uma operação enorme e temos, consecutivamente, um dos melhores do rali do mundo. É importante agora termos um contrato a dois anos, até porque as Câmaras são parceiros importantíssimos do evento e agora podem prever os seus orçamentos para o rali, pelo menos até 2026.”

Por outro lado, Jona Siebl elogiou a prova portuguesa. “Estivemos aqui na comemoração dos 50 anos do WRC, em 2022, e foi um sucesso. Este ano, tivemos aqui o fórum ‘Beyond Rally’ e voltou a ser um sucesso. A vertente desportiva é sempre de alto nível e, além disso, temos uma grande abertura para estes eventos paralelos. Isso é muito importante para o desporto. E basta ver que temos um milhão de pessoas ao longo dos quatro dias do rali. É incrível. Estamos muito contentes com este acordo”

Prova fundadora do WRC em 1973

Convirá recordar que o Rali de Portugal faz parte do grupo de provas fundadoras do Campeonato do Mundo de Ralis em 1973. Nesse ano foi a terceira prova do calendário. Foi considerado cinco vezes o “Melhor Rali do Mundo” e apesar de ter estado fora do Mundial entre 2002 e 2006, o Rali de Portugal está no calendário do Mundial de Ralis, ininterruptamente, desde 2009. Ou seja, há 15 anos!

E sempre com grande retorno, medido em 2023 no valor de 164,7 milhões de euros. Por outro lado, com forte componente de responsabilidade ambiental. De tal forma que desde 2017 recebe a certificação ambiental máxima da FIA.

Ogier ganha em Portugal e é recordista de vitórias

Foi a 60º vitória no Mundial de Ralis e o 101º pódio, naquela que foi a segunda vitória em três ralis disputados este ano. Foi em Portugal que venceu pela primeira vez no WRC em 2010 integrado na equipa Citroen Junior Team. Voltou a ganhar em 2011 (Citroen), em 2013 e 2014 com a Volkswagen e repetiu a dose em 2017 com o Fiesta da M-Sport.

“É especial, sem dúvida! Parece que a cada fim de semana tenho um novo número para festejar!” começou por dizer Sebastien Ogier, após a sexta vitória no Rali de Portugal. “Tenho de aproveitar estes momentos, pois nunca se sabe quando vão acabar. Por enquanto a minha idade não me afeta, por isso vou continuar.” Quanto ao feito de bater Markku Alen, Ogier referiu que “significa muito bater este recorde, pois ele é uma lenda. Há anos que ouço esta comparação e, de alguma forna, é bom ter esse termo de comparação, tendo sido gratificante ter estado lado a lado com ele neste recorde.”

Contas feitas, na sua 185º participação no Mundial de Ralis, Sebastien Ogier coleciona 60 vitórias e, com as seis vitórias em troços obtidas no Rali de Portugal, são já 710 vitórias em provas especiais de classificação.

Rali de Portugal decidido ao segundo

Com toda a certeza esta foi uma das melhores edições da prova organizada pelo ACP. Ogier ganha em Portugal e torna-se recordista de vitórias e no WRC2, a Toyota estreou-se a vencer com o carro de TeoMarti pilotado por Jan Solans.

Por outro lado, cinco mudanças de líder ao longo das 22 provas especiais de classificação e mais de 30 trocas de posição ao longo dos três dias de prova.

Com Thierry Neuville (Hyundai) a vencer a desinteressante Super Especial da Figueira da Foz, o belga foi o primeiro líder da prova. Mas abriu a estrada e tinha na sua cabeça a impossibilidade de lutar pelos primeiros lugares.

Perdeu essa liderança e com alguns fogachos e auxiliado por um piso húmido nos troços da manhã de sexta-feira, chegou ao final da ronda em segundo. Com pisos secos para as segundas passagens, Neuville perdeu tempo e caiu para sexto.

No sentido inverso seguia a prova de Takamoto Katsuta e de Kalle Rovanpera. O japonês, cada vez mais veloz, liderou a prova nas primeiras passagens pela sequência Lousã, Góis e Arganil. Porém, na parte da tarde agigantou-se Kalle Rovanpera. Ganhou apenas um troço, mas fez o suficiente para liderar a prova no final da primeira etapa. Etapa que terminou com os quatro primeiros separados por 5,4 segundos após 126,9 km de troços.

Acidentes e capotanços aos molhos

O Rali de Portugal não é um rali de alta velocidade. É verdade que Ogier ganha em Portugal à média final nos 104,9 km/h (Rovanpera venceu em 2023 com uma média de 104,1 km/h), mas longe de provas como a Finlândia. Porém, mais de uma dúzia de capotanços não é normal.

Dois deles acabaram com as provas de Kalle Rovanpera e de Oliver Solberg. O piloto da Toyota distraiu-se com uma nota errada de Jonne Halttunen e numa sequência de curvas, deixou o carro escorregar, embatendo numa raiz e capotando. Tudo aconteceu na primeira passagem por Montim. Um troço que regressou ao Rali de Portugal e que criou muitos problemas.

Menos de 200 metros à frente, Oliver Solberg desconcentrou-se e deu três voltas no ar até aterrar com as quatro rodas no chão e o Skoda Fabia RS pior que o chapéu de um pobre. Ficavam fora de prova o líder do rali e o líder do WRC2!

Antes deste duplo incidente em Montim, já tinham capotado Pepe Lopez (Ford Fiesta R2), Yuki Yamamoto, Lucas Simôes, Pierre-Louis Loubet (capotanço a alta velocidade) e Teemu Suninen, todos devido a terem capotado! Mais tarde seria a vez de Kris Meeke, Patrick Déjean, Mauro Sanchez, Tom Pieri e Pierre Lafay.

O Rally de Portugal 2024, com o abandono de Rovanpera, entrou em outro patamar. Com Elfyn Evans de costas voltadas para o Toyota GR Yaris e com alguns percalços – como um pião em Montim – Neuville a bater duas vezes no mesmo troço de Montim e Takamoto Katsuta a ficar fora de prova em Amarante, a luta pela vitória ficou para Sebastien Ogier e Ott Tanak em Hyundai.

Ogier ganha, mas é Hyundai quem vence

Sebastien Ogier continua um mestre na gestão de pneus e de vantagens. É verdade que assim que herdou o comando de Rovanpera em Amarante, Tanak venceu o troço mais longo da prova e roubou a liderança a Ogier.

O francês queria acabar o dia na liderança e no troço de Paredes, regressou ao comando da prova de onde não mais foi desalojado. Felicíssimo estava Thierry Neuville: pensava que um top 5 seria fantástico estando a abrir a estrada e, contas feitas, era terceiro com o seu mais direto rival enleado em problemas e apenas na sexta posição.

Até final do rali, Ogier foi dando a ideia que estava a controlar e venceu pela sexta vez a prova nacional. Graças ao novo sistema de pontuação, Ott Tanak fez mais pontos que o vencedor e chegou ao terceiro posto do Mundial de Pilotos. Ogier ganha em Portugal, mas não é o mais pontuado. Algo que ainda parece estranho…

É verdade que a Toyota venceu o rali à geral e no WRC2, mas quem ganhou foi a Hyundai. Em primeiro lugar, porque Neuville aumentou, sobremaneira, a vantagem sobre Elfyn Evans. Chegou a Portugal com seis pontos de avanço, vai para a Sardenha com 24 pontos de vantagem. Por seu turno, Adrien Fourmaux – mais uma excelente exibição com um bom quarto lugar – perdeu a posição para Ott Tanak, o piloto que mais pontos amealhou em Portugal. Mas Ogier ganha em Portugal pela sexta vez.

Mas a grande vitória da Hyundai foi a ultrapassagem à Toyota na tabela dos construtores. Os coreanos lideram por quatro pontos face aos japoneses, com a M-Sport (Ford) a ficar no terceiro lugar.

Toyota estreia-se a vencer no WRC2

A Toyota dominou esta edição 2024 do Rali de Portugal. Em primeiro lugar, foi Sami Pajari a bater na super especial da Figueira da Foz e ter perdido uma eternidade de tempo com um carro desalinhado – recordamos que só houve assistência pesada no final do dia de sexta-feira. Em segundo lugar, Oliver Solberg capotou e Gus Greensmith ficou “pendurado” numa berma. Finalmente, Yohan Rossel sofreu um furo e duas penalizações: a primeira por não ter apertado os cintos corretamente depois de mudar o pneu furado e a segunda por um erro da equipa e do navegador, penalizando por avanço.

Ficou a luta entre Nikolay Gryazin – que não contava para o WRC2 – Jan Solans e Joshua McErlean. O russo com licença búlgara andou a testar e conseguiu vencer entre os RC2, ao passo que Jan Solans conseguiu bater o Skoda da Motorsport Ireland pilotado por McErlean em cima da meta. Uma vitória saborosa para a Toyota, para Teo Martin e para Solans, que alcançou a sua primeira vitória no WRC.  

Portugueses aquém do esperado

O Rali de Portugal 2024 contava para o Campeonato de Portugal de Ralis (CPR), mas apenas a primeira etapa. Kris Meeke voltou a não dar chances a ninguém. O britânico levou o Hyundai i20 N Rally2 à quarta vitória do ano com 1m24 de avanço para José Pedro Fontes, o melhor português no final do rali para o CPR.

Armindo Araújo foi terceiro, Pedro Almeida e Ernesto Cunha completaram um pódio onde não figurou Ricardo Teodósio. O campeão de 2023 foi apenas 10º e com muitos problemas no seu Hyundai.

Alguns pilotos fizeram todo o rali e Armindo Araújo foi o melhor português pela 14ª vez! Já Kris Meeke foi… Kris Meeke. Capotou forte e destruiu mais um carro à Hyundai Portugal. Apenas quatro carros de pilotos portugueses chegaram ao final da prova. Araújo foi o melhor, seguido de Teodósio, Helder Miranda e Diogo Marujo, o mais jovem piloto à partida do rali.

O Escape Livre esteve presente nesta edição 2024 do Rally de Portugal a convite da Toyota e para além da especial de Lousada acompanhou a festa e viveu o ambiente que se respira nos troços do Rali, antes da passagem dos protagonistas. Algo que merecerá, muito em breve, um outro artigo.