Você já comprou uma roupa só para fazer uma foto? Se a resposta for sim, você não está sozinho. A pressão estética das redes sociais, somada à velocidade da moda, tem estimulado um consumo desenfreado, onde o “look do dia” muitas vezes vai direto para o fundo do armário ou para o lixo. No rastro desse hábito, o setor têxtil se consagra como um dos mais poluentes do mundo, responsável por toneladas de resíduos, uso intensivo de água, produtos químicos e emissões de gases do efeito estufa. No entanto, um novo capítulo começa a ser escrito.
Pesquisadores da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, lançaram luz sobre um movimento em expansão da moda digital, um universo onde as roupas existem apenas no ambiente virtual, sem costuras, tecidos ou etiquetas. A ideia parece futurista, e é, mas também é profundamente ecológica. Publicado no International Journal of Retail and Distribution Management, o estudo aponta que essas peças digitais podem representar uma alternativa concreta à lógica predatória da fast fashion.
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Para influenciadores, criadores de conteúdo e até consumidores comuns que vivem conectados, a proposta é sedutora, afinal, você compra uma peça de roupa feita em 3D, usa em uma foto ou avatar, e descarta sem poluir o meio ambiente ou explorar mão de obra, tudo isso ainda aliada com a vantagem de experimentar estéticas ousadas e criar uma identidade visual única.

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“A moda digital é uma forma de se expressar sem peso ambiental ou social. É liberdade criativa em sua essência”, explica a estilista Bruna Bittar, pós-graduada em direção de moda.
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Roupa que não se toca, mas se sente
Apesar da ausência física, o estudo revela que até consumidores que valorizam o toque mostraram-se receptivos à e-fashion, especialmente quando aliada a experiências imersivas com realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR). A tecnologia já permite que usuários “vistam” peças diretamente pelo celular ou tablet, sem sair de casa, e sem precisar costurar uma única linha.
“As roupas digitais não exigem matéria-prima, transporte ou descarte físico. Não há poliéster, nem agrotóxicos no algodão. É um clique criativo com zero impacto ambiental”, resume o professor Kokho Jason Sit, um dos autores da pesquisa.
A lógica é simples: o consumidor compra uma peça digital, recebe a imagem “vestida” digitalmente em uma foto, vídeo ou avatar, e a utiliza em suas redes sociais ou experiências virtuais. Depois, se quiser, parte para o próximo look, sem acúmulo no guarda-roupa, sem resíduos no planeta.
Moda para o agora e para o futuro
A moda digital, que vem se consolidando como um novo pilar do guarda-roupa contemporâneo, é defendida por Bruna Bittar. “Ela não substitui a roupa física, mas amplia as possibilidades. É um espaço para ousar, para experimentar novas versões de si mesmo, sem pressão de consumo material. É um espelho da subjetividade”, pontua a estilista.
Essa nova estética, com vestidos líquidos, armaduras translúcidas e tecidos que mudam de cor conforme o humor, vem dialogando com universos como o da arte imersiva, dos games e da cultura 3D. A linguagem visual da moda digital incorpora glitchs, texturas metálicas, formas exageradas e peças “impossíveis” que só existem graças à imaginação e à tecnologia.
Sustentabilidade e inovação na mesma passarela
Com o avanço das ferramentas digitais, marcas podem lançar coleções com mais rapidez, menos custos e alcance global instantâneo. Além disso, as roupas virtuais não geram desperdício, não entopem aterros e não dependem de exploração humana.
Startups e pequenos criadores se beneficiam da descentralização, uma vez que plataformas independentes facilitam a entrada no mercado global, criadores lançam coleções próprias e influenciadores se tornam estilistas digitais.
“Esse é um momento de reinvenção. A moda digital atende ao chamado da sustentabilidade e da criatividade ao mesmo tempo. É onde o futuro e a consciência se encontram”, finaliza Bruna Bittar.
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