O desenvolvimento tecnológico transformou novidades antes inimagináveis em instrumentos quase imperceptíveis no dia a dia. Tecnologias como o 5G e o Waze se tornaram corriqueiras na vida das pessoas que, no entanto, sentiriam-se vazias com a ausência deles.
Para tanto, países como Coreia do Sul, Japão, Taiwan e China, de um lado, e Israel, de outro, tornaram-se referências nessa nova era, com investimentos em diferentes tipos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos.
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Neste contexto tecnológico, em que a Europa e os Estados Unidos (EUA) ainda lideram, ficam duas perguntas: qual a diferença na forma da produção entre Israel e estas potências asiáticas? Eles, como importantes centros de tecnologia, são competidores ou parceiros na busca de ampliar os seus mercados?
O professor Rodrigo Fernando Gallo, coordenador do curso de Relações Internacionais do Instituto Mauá de Tecnologia, de São Caetano do Sul (SP), ressalta a Oeste que há diferenças entre o tipo de tecnologia produzido no coração da Ásia e o desenvolvido por Israel.
Há um enfoque muito grande, na Coreia do Sul, Japão e China, no desenvolvimento de eletrônicos, na indústria automotiva, que inclui carros elétricos, e na tecnologia 5G.
Enquanto isso, em função da necessidade de sobrevivência, em meio a ameaça de países hostis ou que apoiam o terrorismo, Israel precisou desenvolver uma tecnologia disruptiva (que rompe padrões) para atender necessidades de cibersegurança, medicina, fintech, inteligência artificial (IA) e computação quântica.
O alto nível de pesqusias em temas da agritech, também em função da geografia desértica da maior parte do país, coloca Israel na liderança neste setor.
A semelhança entre todos eles, porém, é que a P&D resulta de uma forte aliança entre o governo, as empresas e as universidades.
“Na Coreia do Sul, o desenvolvimento tecnológico é marcado por fortes investimentos em P&D e por políticas governamentais de apoio a grandes conglomerados, conhecidos como chaebols“, afirma Gallo a Oeste.
No contexto sul-coreano, há uma peculiaridade, segundo ele. O apoio estatal não ocorre somente para o desenvolvimento da tecnologia, mas também como um instrumento de soft power (poder suave, por meio da influência no mercado) para remeter a imagem de eficiência ao país.
“Basta ver a quantidade de estímulos governamentais liberados para a produção de séries para streaming e para o setor da música, em especial para o kpop“, diz o professor da Mauá. “É uma forma de disseminar a Coreia do Sul no Ocidente.”
O enfoque maior em Taiwan é, segundo ele, a manufatura de alta precisão e em nichos específicos, especialmente semicondutores. O país é conhecido como o maior polo atual da produção de microchips, que se tornaram determinantes para a economia taiwanesa.
“Basicamente, semicondutores são usados numa imensa gama de produtos, como microchips para celulares, tablets, videogames e veículos.”
O Japão, em um processo de reconstrução pós-Segunda Guerra Mundial (1939-1945) passou a ter na P&D seu maior cartão de visita em termos comerciais, “com uma abordagem de inovação incremental e um foco constante em qualidade e precisão.”
Multinacionais como a Honda, a Toyota, a Sony e a Panasonic se mantêm como referências do setor eletrônico japonês.
A China se diferencia também na área do e-commerce, com a Alibaba, e na área de fintechs, com o exemplo do Ant Group. Na tecnologia móvel, o destaque vai para conglomerados como Huawei e Xiaomi. O país tem priorizado pesquisas e buscado proteger seu mercado, em ampla concorrência com os Estados Unidos. A pesquisa com IA também tem recebido muitos investimentos chineses.
Enquanto isso, Israel tem como destaque a busca de inovação disruptiva. Desta maneira, com mais de 2 mil startups em seu território, tornou-se o País das Startups. Seu ecossistema tecnológico é formado por unicórnios (avaliadas em mais de US$ 1 bilhão antes da abertura de capital) como a Sosa e a Mobileye.
País das startups
Israel é o líder no ranking dos países que mais destinam percentual do Produto Interno Bruto (PIB) à area de P&D, com 4,93%, de acordo com relatório divulgado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia do Brasil. A Coreia do Sul está em segundo, com 4,64%, à frente do Japão, que, com 3,2% está em terceiro. Em quarto vem a Alemanha (3,19%, em quinto, os EUA (3,07%) e em sexto lugar está a China, com 2,23%.
Segundo Gallo, as diferentes características entre estes países asiáticos e Israel, no setor tecnológico, propiciam ao mesmo tempo um ambiente competitivo e de complementação dos projetos.
Para ele, o encaixe das tecnologias diversificadas será benéfico para o setor como um todo. Este tipo de parceria já existe. A plataforma de investimento israelense OurCrowd, por exemplo, criou, recentemente, um fundo de cooperação entre Israel e Coreia do Sul, cujo objetivo é arrecadar US$ 80 milhões para apoiar startups em ambos os países.
“O compartilhamento de melhores práticas não apenas promove eficiências operacionais, mas também facilita a adoção de padrões globais de qualidade e segurança”, ressalta o professor.
“Essa ação complementar, por assim dizer, pode levar a uma melhor integração de tecnologias, em que as forças de um país em áreas específicas podem ser combinadas com as especializações de outros Estados, o que resulta em soluções mais abrangentes e competitivas globalmente, com acesso a novos mercados e oportunidades de crescimento.”
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