Tecnologia, inovação e sustentabilidade a longo prazo: a triangulação possível

As muitas facetas da inovação recebem da nossa cultura grande valorização, que as múltiplas soluções tecnológicas já mereceram graças aos avanços dos últimos dois séculos. Mas o ambiente e o clima apontam para a necessidade de escolhas difíceis no presente e futuro próximos, e a inovação tecnológica é chamada também ela a redefinir-se.

A necessidade de se chegar a um entendimento de longo prazo com o mundo natural exige resposta detalhada a uma questão só aparentemente simples: como podemos avaliar se uma inovação ou tecnologia é realmente sustentável? E se continuará assim no futuro? Como poderemos antecipar eventuais problemas e distinguir entre opções tecnológicas por forma a chegar a um futuro mais promissor?

Na definição clássica de desenvolvimento sustentável do relatório Brundtland (1987) a sustentabilidade exige o cumprimento de um critério: não comprometer a capacidade das gerações futuras satisfazerem as suas necessidades. Mas como considerar verdadeiramente o bem-estar dos que ainda não nasceram? Até onde vai a nossa responsabilidade intergeracional? Não há respostas definitivas, mas proponho cinco critérios para a avaliação da sustentabilidade a longo prazo. Têm em comum a capacidade de aprender com o passado para antecipar o futuro.

1 – A Natureza como referência

É o sistema mais sustentável que conhecemos, com 4 mil milhões de anos de resiliência. Copiá-la — seja em forma, função ou processos — otimiza a probabilidade de sucesso. Pergunta-chave: quão próxima está cada inovação do modus operandi da natureza?

2 – Margem para a surpresa

Sabemos pouco sobre os mecanismos da vida e, muitas vezes, criamos tecnologias para resolver problemas causados por tecnologias anteriores. Um exemplo: o solo — essencial à alimentação — está empobrecido por agroquímicos. Agora tentamos regenerá-lo com biofertilizantes e práticas ancestrais. Portanto: podemos reverter uma escolha, se esta se revelar um erro? A sustentabilidade requer reversibilidade.

3 – Transformação cultural

Na multiplicidade de problemas ambientais de que sofre a atual civilização encontra-se uma raiz comum: a da natureza humana. Quanto então é que cada inovação permite aproximar-nos de uma real melhoria de perspetivas e comportamentos?

4 – Justiça intergeracional

Vivemos num mundo com desigualdades gritantes: 1% da população detém mais riqueza do que o resto do mundo. A inovação, em todas as suas aplicações, reduz desigualdades ou reforça-as? O respeito pelo futuro começa com o aumento da justiça no presente.

5 – Frugalidade

Mesmo sem sabermos exatamente o que as gerações futuras precisarão sabemos que, quanto menos consumirmos agora, mais lhes deixaremos. A frugalidade reforça a solidariedade para com os nossos descendentes mais longínquos. O teste é este: conduzirá a tecnologia à redução da nossa pegada ecológica?

Estes cinco critérios não tentam esgotar o tema, mas convidam à definição de orientações para as escolhas tecnológicas da geração atual. Enquanto docente universitária em contacto com a inovação sinto permanentemente a responsabilidade de mostrar que o futuro pode e deve ser tido em consideração a cada passo da ideação e concretização.

Não conseguimos entrevistar o futuro, mas perceberemos as respostas quando nos preocuparmos em colocar as questões.

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