tecnologia, humanidade e a nova revolução digital

O SXSW 2025 foi, sem exagero, um dos eventos mais intensos e provocativos que acompanhei nos últimos tempos. Uma mistura de encantamento, inquietude e, principalmente, lucidez sobre o papel que a tecnologia pode – e deve – exercer na vida das pessoas.

Não foi só sobre inteligência artificial, embora ela estivesse em todos os cantos. Foi sobre escolhas. Sobre os caminhos que estamos traçando como sociedade. Sobre as consequências de tudo isso nos negócios, na cultura, nas nossas relações e na nossa forma de existir.

Do palco às conversas paralelas, o que ficou claro é que o futuro não será definido pelas tecnologias que inventarmos, mas pelas decisões humanas que tomarmos a partir delas.

Severance e o segredo do sucesso: gente certa, na hora certa

Ben Stiller, ator, diretor e produtor, e Eddy Cue, vice-presidente sênior da Apple, deram uma aula sobre como boas ideias só viram grandes histórias quando têm gente boa por trás. O sucesso de Severance (Ruptura) não veio apenas do roteiro brilhante, mas de uma combinação rara: elenco afiado, liberdade criativa da Apple e um compromisso coletivo com a originalidade. Eddy Cue resumiu com uma frase que levo comigo: “Menos quantidade, mais excelência”. No fim, é sobre colocar energia onde realmente importa.

Descentralizar para pertencer

Jay Graber, CEO do Bluesky (rede social descentralizada), apareceu no palco com uma camiseta provocadora: Mundus sine caesaribus (um mundo sem césares). Um recado direto à centralização das redes sociais nas mãos de poucos. Ela defende um futuro em que a experiência digital seja mais plural, mais livre. A pergunta que fica: queremos continuar vivendo em bolhas controladas ou estamos prontos para redes realmente nossas?

Privacidade é o novo luxo (ou o novo direito?)

Meredith Whittaker, presidente do Signal (aplicativo de mensagens criptografadas) e ativista da privacidade digital, e Guy Kawasaki, especialista em marketing e ex-evangelista da Apple, trouxeram uma conversa urgente: privacidade digital. Se você acha que isso não te afeta, imagine um link com TODAS as suas mensagens sendo enviado para seus contatos. Silêncio. Foi exatamente isso que aconteceu no auditório. O futuro da privacidade não é opcional. É essencial.

Sandy Carter e os mitos que a IA já derrubou

Sandy Carter, executiva de tecnologia reconhecida globalmente, trouxe uma energia contagiante. Com clareza e bom humor, ela destruiu mitos que a gente ainda insiste em repetir. IA não é só tecnologia, é transformação social. Não é para substituir humanos, é para ampliar capacidades. Não é inacessível, é cada vez mais no-code (sem necessidade de programar). Casos como o do pastor que voltou a falar graças à IA emocionaram e mostraram, na prática, o impacto real disso tudo.

Ben Samuels e o poder das experiências

Ben Samuels, vice-presidente de música da Easol, apresentou dados sobre o comportamento da Geração Z: 86% estoura o orçamento com eventos ao vivo. Por quê? Porque querem ser tocados, surpreendidos, envolvidos. Querem vivências, não só produtos. Marcas que entenderem isso vão se destacar. A experiência precisa começar no primeiro clique e continuar em cada detalhe. E a IA pode ser a grande aliada na personalização dessa jornada.

Disney: onde a imaginação encontra a engenharia

Alan Bergman, presidente da Disney Studios, e Josh D’Amaro, presidente da Disney Parks, nos lembraram que encantamento também se constrói com muito planejamento. O segredo da Disney? Imaginar com liberdade, testar com simplicidade, desenvolver com profundidade. Emoção e especificidade. Não basta parecer real. Tem que fazer a gente acreditar.

Amy Webb e os limites do imaginário

Amy Webb, futurista e fundadora do Future Today Institute, veio para dizer: ainda não vimos tudo. Da IA incorporada ao corpo humano à biotecnologia generativa (uso de IA para manipular organismos biológicos), ela pintou cenários que desafiam o que entendemos por real. E nos provocou: estamos preparados para as decisões que essas tecnologias exigem?

Scott Galloway e os dados que incomodam

Scott Galloway, professor de marketing na NYU (Universidade de Nova York) e comentarista de tendências, trouxe reflexões fortes: a solidão dos jovens (principalmente homens), o risco das “namoradas IA”, a concentração de poder nas “Magnificent 7” (como são chamadas as sete gigantes da tecnologia: Alphabet/Google, Amazon, Apple, Meta, Microsoft, Nvidia e Tesla) e o crescimento brutal do YouTube e dos podcasts como plataformas de influência. A pergunta não é se isso vai nos impactar, é como vamos reagir a isso.

Michelle Obama e Laurie Santos: a conversa mais importante

Michelle Obama, ex-primeira-dama dos EUA, e Laurie Santos, professora de psicologia em Yale e criadora do curso mais popular da universidade, falaram de emoções negativas, comparação nas redes, excesso de expectativas e a urgência de sair do piloto automático. Michelle foi certeira: “Get off your phone” (desligue o celular). Laurie trouxe três perguntas simples e poderosas para quando estivermos online: por que estou aqui? Por que agora? O que eu poderia estar fazendo?

E no fim… somos nós

O SXSW 2025 foi sobre tecnologia? Sim. Mas foi, principalmente, sobre humanidade. Sobre escolhas. Sobre o que queremos construir. O futuro não está escrito nos algoritmos. Ele está sendo escrito, em tempo real, pelas nossas ações, valores e prioridades. A tecnologia pode fazer muita coisa. Mas quem vai decidir como ela será usada somos nós.

E isso, pra mim, é o que torna esse futuro tão incrivelmente humano.

Connect Executive Hub

Próximo encontro do Connect Executive Hub

• Dia 22 de abril: “Foresight Strategic SP – Inovar não é uma Corrida de 100 metros”, com o nadador medalhista olímpico Gustavo Borges; Ciro Possobom, CEO da Volkswagen do Brasil; e Gustavo Donato, conselheiro e palestrante e professor da Dom Cabral. Evento presencial na nova sede da Fundação Dom Cabral em São Paulo. Mais informações e inscrições gratuitas no site.