Tecnologia e pesquisas são aliadas na luta contra o câncer

A corrida contra o câncer tem ganhado aliados importantes em virtude dos avanços das tecnologias, estudos e pesquisas. Em décadas passadas, a batalha oncológica ainda era classificada como uma luta contra o desconhecido. Hoje, tem sido possível identificar com maior clareza os tumores, suas formações e mutações e, por conseqüência, suas fraquezas. Tal conhecimento tem possibilitado utilizar melhores terapias e drogas para o combate preciso. Assim, a disputa pela vida vem conquistando números animadores. Exemplos de sucesso é o índice de cura do Hospital Boldrini que, desde a sua fundação há 47 anos, subiu de 5% para 80%.

O pesquisador e coordenador do Centro de Pesquisa Boldrini, Andres Yunes, informou que atualmente são 12 grupos de pesquisa no Centro, atuando em áreas diversas como imunoterapia, anticorpos terapêuticos e DNA circulante tumoral. Segundo ele, cada perfil genético necessita de um tratamento específico, o que permite refinar o diagnóstico e acompanhar a resposta terapêutica. “Quando o tumor é grande, ele libera seu próprio DNA na corrente sanguínea do paciente. Ao quantificar o DNA tumoral circulante é possível saber se há resposta ao tratamento e, portanto, se ele está sendo eliminado ou não”, disse.

O objetivo das terapias medicamentosas é matar as células cancerígenas que se proliferam descontroladamente, afirmou Yunes. Porém, algumas técnicas de tratamento atingem também as células saudáveis além das que são alvo, por isso os efeitos colaterais. Com o avanço nas pesquisas, ressaltou o coordenador, tem sido possível atuar com terapias focadas cada vez mais no tumor, sem atingir o corpo saudável.

A imunoterapia, pontuou Yunes, surgiu na última década e foi retomada em pesquisas recentemente com progressos. O objetivo é avançar no estudo do sistema imune que possui naturalmente a imunovigilância, capaz de detectar células defeituosas e matá-las. “O câncer escapa desta ação ao inibi-lo. A ideia desta terapia é estimulá-lo e reeducá-lo para que o sistema possa reconhecer o câncer e assim obrigar o nosso corpo a agir contra o tumor”, afirmou o pesquisador.

De acordo com Yunes, o índice médio de cura alcançado permite pensar em um futuro com alternativas à quimioterapia. Antigamente, era impossível cogitar essa hipótese. Porém, os avanços na medicina não se desenvolvem de maneira igualitária para todos os casos. Enquanto há estudos avançados para alguns tumores, outros caminham a passos lentos. “Alguns ficaram meio estacionados, embora o trabalho de pesquisa seja o mesmo”, justificou. Os estudos clínicos levam tempo. Entre o início e o resultado há uma média de dez anos, segundo o especialista. Os tipos de tumores também são vários, alguns mais agressivos e raros do que outros, por isso a disparidade.

De acordo com Silvia Brandalise, médica oncohematologista pediátrica e presidente do Boldrini, a realização de estudos clínicos sistematizados e controlados é a chave para o sucesso na luta contra o câncer. “É possível, inclusive, vislumbrar um futuro com 100% de índice de cura, mas, para isso, é preciso avançar com o diagnóstico precoce”, afirmou. Segundo o levantamento feito pelo Boldrini, dentre mais de 300 faculdades de medicina no Brasil, apenas em torno de 30% tem na grade curricular obrigatória o ensino da oncologia. Se o médico não aprende na grade curricular a pensar em câncer, ressaltou a especialista, ele não será capacitado para fazer o diagnóstico. “Atualmente, há atrasos de seis a oito meses entre o primeiro sintoma de tumor e o diagnóstico”, alertou.

Ainda assim, explicou a médica, se o profissional se atentar para a possibilidade do câncer, pode demorar cerca de três meses para o paciente conseguir fazer algum exame de imagem, por exemplo. No caminho contrário ao percurso lento e desordenado da maioria dos casos, o Boldrini fornece a realização de todos os exames necessários para o diagnóstico no próprio hospital, o que otimiza o processo. “O nosso objetivo é sempre melhorar a taxa de cura e diminuir efeitos colaterais indesejáveis. Não há sossego na medicina. O estudo não pode parar. Quanto mais especialistas se dedicarem a investigar o problema, mais rápido serão os avanços”, enfatizou.

Para o oncologista e coordenador do Departamento de Oncologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, David Pinheiro Cunha, a batalha contra o câncer esbarra em problemas da saúde pública. “Os obstáculos são as limitações impostas devido ao custo de incorporar novas tecnologias e ampliar as estruturas de atendimento, principalmente no Sistema Único de Saúde (SUS)”, afirmou Cunha.

A expectativa para 2025 é de 704 mil novos casos de câncer no Brasil, segundo o oncologista, e 70% destes devem se concentrar nas regiões Sul e Sudeste, por estas serem mais populosas e disponibilizarem uma maior estrutura para a realização de exames e tratamentos. Outro fator que contribui para essa expectativa é o estilo de vida da população. Nas regiões citadas, acrescentou, há uma maior exposição a fatores de risco carcinogênico, como alimentos industrializados e poluição.

“Atualmente, de 5% a 10% dos casos de câncer são de origem hereditária e em até 90% há uma pré-disposição genética da pessoa”, explicou Cunha. Fumar cigarro, sedentarismo e o consumo de bebida alcoólica também podem contribuir para o desenvolvimento da doença. Em alguns tipos de tumores, inclusive, há registros de incidência em “jovens adultos”, devido ao estilo de vida de parte deste grupo populacional.

De acordo com o coordenador, um dos maiores avanços nas operações oncológicas são as cirurgias robóticas, em que um robô realiza a cirurgia sob o controle e coordenação de um médico cirurgião. Com a nova técnica há maior precisão nos movimentos dos instrumentos cirúrgicos, o que permite realizar procedimentos mais complexos com menor sangramento e redução das chances de complicação. “Os tumores com maior indicação para esse tipo de cirurgia são os urológicos, assim como os cânceres de reto”, explicou.

No Brasil, ressaltou, a cirurgia robótica ainda está na fase de treinamento. Um dos benefícios deste futuro avanço, por tratar-se de uma cirurgia que causa menos traumas nos operados, é a maior rotatividade dos leitos hospitalares, devido à aceleração do período de recuperação do paciente. “Mesmo com o volume de cirurgias realizadas se mantendo, os traumas causados na pessoa operada serão reduzidos e, por isso, a alta hospitalar tenderá a ser mais ágil. E por conseqüência, quanto mais leitos disponíveis, maiores são as chances de atendimento”, explicou.

O tratamento paliativo também é um tratamento importante para os índices de cura do câncer. Ao contrário do estigma popular, de que tal recurso é recomendado para casos em que não há mais chances de cura, o médico paliativista da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas, Antonio Cesar Antoniazzi, afirmou ser fundamental se estabelecer o tratamento paliativo paralelo ao curativo independente dos índices de cura. “Há estudos que comprovam que em torno de 60% dos casos com acompanhamento paliativo, há aumento da sobrevida do paciente”, destacou o médico.

Os cuidados paliativos visam manter o conforto e a qualidade de vida do paciente que tem alguma doença que possa ameaçar a sua vida, não apenas o câncer. É um conjunto de cuidados combinados com foco em trazer apoio, conforto, funcionalidade e independência à pessoa acometida pela doença. O objetivo é tentar amenizar os efeitos colaterais dos tratamentos curativos e priorizar o bem-estar e a qualidade de vida de quem está neste processo. “Além de usar alternativas não medicamentosas, como o relaxamento, também focamos na espiritualidade de cada um. A parte emocional e psicológica interfere de maneira decisiva no desenvolvimento da doença”, frisou Antoniazzi.

De acordo com o paliativista, há avanços na aceitação de políticas públicas voltadas para este tipo de tratamento. Portanto, o reconhecimento da necessidade do paliativo também é uma crescente, independente do estágio da doença. “Estamos falando de uma oportunidade de a pessoa lutar pela vida e que não substitui o tratamento curativo, com drogas. Há casos em que o paliativo foi capaz de diminuir o tempo do tratamento medicamentoso. Precisamos focar no que nos traz chances de viver. É para isso que estamos aqui”, concluiu.

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