
O Brasil é um país de dimensões continentais, e muitos se questionam por que ele não investe mais em sua malha ferroviária. Fato é que nosso país depende hoje demais do transporte rodoviário, sendo constantemente desafiado a reduzir suas emissões de dióxido de carbono, que é o gás mais causador do efeito estufa. Já que nossa nação vem sofrendo demais com as mudanças climáticas, é natural que a engenharia brasileira se preocupe em buscar soluções capazes de capturar o CO2 emitido por grandes veículos como os caminhões.
Pensando nisso, cientistas da Universidade Federal de Minas Gerais desenvolveram um material especial que possui grande potencial de ajudar a transformar um dos setores mais poluentes da economia e ser um grande aliado da sustentabilidade. Confira mais detalhes no artigo a seguir, do Engenharia 360!

A emergência climática e o papel dos transportes
Antes de nos aprofundarmos sobre as principais qualidades dessa inovação proposta pelos pesquisadores da UFMG, precisamos entender por que o dióxido de carbono é um dos maiores vilões ambientais da atualidade. Pois bem, esse gás é constantemente emitido pela queima de combustíveis fósseis como o diesel, o carvão e o gás natural, contribuindo para o aumento das temperaturas no planeta Terra.
Como consequência, temos visto o aumento das secas, enchentes, elevação dos oceanos e derretimento das calotas polares. Estes são sinais alarmantes de que precisamos passar por uma transformação radical em nossos modelos de produção e consumo!
Em 2023, o Brasil foi responsável pela emissão de 2,3 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEE). E caso você não saiba, os caminhões – especialmente a diesel – respondem pela maior parcela dessas emissões, ficando para trás apenas da agropecuária e do saneamento básico. Então, faz todo sentido que muitos cientistas se dediquem a encontrar soluções inovadoras e eficientes para resolver essa questão, como tecnologias de captura de CO2 ou mesmo receitas de combustíveis mais limpos e renováveis, com foco em mitigar os impactos negativos do transporte rodoviário.

A tecnologia desenvolvida pelos cientistas da UFMG
Durante duas décadas, os cientistas da UFMG trabalharam para desenvolver e aprimorar um projeto de material tão poderoso capaz de capturar CO2 diretamente na fonte, ou seja, na descarga dos veículos. A pesquisa liderada pelo professor Jadson Cláudio Belchior, do departamento de química da universidade, esteve focada no combate à poluição causada pelo tráfego. A ideia era que, à medida que o veículo circula, o CO2 liberado pela queima do diesel possa ser capturado pelas semiesferas, evitando que seja lançado na atmosfera.
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O material então criado é composto por essas semiesferas que são feitas de cerâmica (1 cm de diâmetro) com componentes químicos específicos, lembrando muito um isopor. Ele é inserido em um acoplamento de reator ao escapamento do caminhão. E é aí que a mágica acontece!

Nos testes mais recentes, realizados em outubro de 2023, a tecnologia conseguiu absorver até 17,2% do CO2 emitido por um caminhão circulando em área urbana e 7,7% ao longo de um percurso rodoviário de 170 km. Esses resultados promissores indicam o potencial de inovação para reduzir significativamente as emissões de GEE no setor de transportes.
O funcionamento da captura de CO2 nos caminhões
Vamos explicar mais detalhadamente esse processo para que você entenda como a tecnologia da UFMG tem potencial de facilitar a absorção de CO2. Pois bem, como explicamos anteriormente, todo o segredo está na composição química das semiesferas utilizadas para interagir com dióxido de carbono em temperaturas relativamente baixas. O reator onde elas são armazenadas fica conectado ao escapamento do veículo para garantir que todos os gases de combustão passem pelo material. Enfim, todos os componentes elementos são retidos e os demais são liberados na atmosfera.
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O potencial de reaproveitamento do CO2
É claro que a tecnologia recém-desenvolvida apresenta uma série de benefícios e impactos positivos para o meio ambiente, a economia e a sociedade. Se conseguirmos diminuir as emissões de CO2 no trânsito, estaremos contribuindo para o combate às mudanças climáticas e a melhoria da qualidade do ar. Essa inovação deve contribuir para a sustentabilidade no setor de transportes. Sem contar que a redução de emissões de gases tóxicos na atmosfera contribui para a melhora da saúde pública.
O governo brasileiro deve enxergar essa alternativa tecnológica como uma possível geradora de novas oportunidades de negócios e empregos, fortalecendo a competitividade da nossa indústria e atraindo investimentos para diferentes setores. Vale destacar que esse avanço na área de Engenharia e Ciência dos Materiais pode ser aplicado em outras áreas do mercado, como a captura de CO2 para a fabricação de bebidas, alimentos e combustíveis sintéticos.
Dá para fazer o reaproveitamento do dióxido de carbono, transformando uma dispersão poluente em um recurso valioso e fomentando a economia circular. O que acha?
O caminho para um futuro sustentável
Sem dúvidas, a tecnologia desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais representa um passo importante que o Brasil pode dar na direção de um futuro mais sustentável. Mas até que isso favoreça o setor de transportes, será preciso muito investimento em pesquisa e desenvolvimento, com apoio de empresas, governos e da sociedade em geral.
Os cientistas ainda precisam otimizar melhor a composição química do material com as semiesferas e entender as condições de operação do reator; além disso, diminuir custos de produção e desenvolver um modelo para a produção em larga escala.

Neste momento, uma das apostas para aumentar a eficiência da coleta é incluir um eletromecânico que resfria os gases emitidos pelo caminhão, permitindo uma captura ainda maior de CO2. Inicialmente, o material só funcionava em temperaturas de 600ºC. Com o aprimoramento da composição química, esse número caiu para 300ºC e, mais recentemente, para 100ºC.
Os cientistas da UFMG trabalham em paralelo para desenvolver novos projetos de veículos elétricos, biocombustíveis, células de combustível e muito mais. A combinação dessas e outras soluções, aliada a políticas públicas ambiciosas e um compromisso global com a sustentabilidade, pode nos conduzir a um futuro mais amigo do meio ambiente.
Veja Também: CO2 pode virar combustíveis sustentáveis e ajudar o planeta
Fontes: G1, Extra.
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Eduardo Mikail
Somos uma equipe de apaixonados por inovação, liderada pelo engenheiro Eduardo Mikail, e com “DNA” na Engenharia. Nosso objetivo é mostrar ao mundo a presença e beleza das engenharias em nossas vidas e toda transformação que podem promover na sociedade.
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