Taxação Trump contra diversos países do mundo pode aumentar preços no Brasil? Economistas explicam | Economia

Entraram em vigor na madrugada desta quarta-feira (9) as tarifas de 104% dos Estados Unidos a produtos chineses e taxas acima de 10% para a União Europeia e mais 55 países. O presidente Donald Trump cumpriu as ameaças e confirmou a taxa extra de 50% contra a China diante da decisão do gigante asiático de manter a retaliação aos Estados Unidos.

O governo chinês já avisou que vai cobrar 34% de imposto sobre os produtos importados dos Estados Unidos a partir desta quinta-feira (10) e sinalizou que pode aumentar a tarifação após a escalada de Donald Trump. A União Europeia também prepara uma resposta nesta quarta-feira (9).

Até agora, no Brasil, tudo gira em torno das declarações, em especial por parte do presidente Lula. O país foi taxado, desde sábado (5), em 10% contra todos os produtos importados. O que mais pesa, no entanto, são as tarifas de 25% para o aço, visto que os EUA é um dos maiores importadores desse produto no Brasil.

Mas há possibilidade das tarifas globais gerarem um efeito cascata e atingirem o país de alguma forma? De acordo com economistas, isso é possível, porém algumas variáveis estão em jogo.

O professor de economia internacional do Insper Roberto Dumas diz que o maior problema para a economia brasileira é o câmbio. Com o dólar mais alto, alguns produtos importados podem encarecer, o que aumentaria o preço final deles.

‘Existe o risco, dada a incerteza do mundo entrar em recessão. Se continuar ocorrendo do dólar bater nos R$ 6, fica mais difícil o Banco Central abaixar a Selic e os bens importados e commodities vão ficar mais caros quando traduzidos em reais. Isso aumenta o risco da inflação também’, destaca.

‘O canal que pode deixar os bens mais caros no Brasil é o do câmbio e, se continuar desvalorizando nossos bens importados e toda a cadeia que depende de bem importado, pode sofrer uma pressão inflacionária, inclusive alimentos e Iphone, por exemplo’.

Nessa terça-feira (8), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que as novas tarifas impostas pelos Estados Unidos à China podem respingar no Brasil. Apesar do cenário de incertezas, o ministro avaliou que a economia brasileira está protegida e que o país está numa boa posição para enfrentar as turbulências.

O economista Alexandre Chaia afirma que há também possibilidade do aumento dos preços globais por conta das tarifas acabarem afetando diretamente o país. Se os produtos estão mais caros sendo comercializados globalmente, isso acaba gerando mais custo.

‘A própria China, por exemplo, está retaliando os Estados Unidos. Então toda produção que estiver nos EUA vai aumentar o preço no resto do mundo, porque se todo mundo começar a tributar, caso da Europa, Canadá e mais, tudo que for produzido e tiver custo dos Estados Unidos vai gerar impacto de custos no Brasil’.

Chaia destaca que, por enquanto, o que vier diretamente de algum país sem taxas com o Brasil e não tiver um componente de retaliação não tem uma expectativa de mudança. Isso só ocorreria se o governo Lula também passasse a tributar, em uma grande guerra comercial.

‘Isso pode acontecer. Porque se começar a ter um excesso de produção na China, por exemplo, que não vai ser vendida para os Estados Unidos. Eles vão querer colocar os produtos em outros países, e outros países também vão começar a criar barreiras de proteção. Por isso que a guerra comercial não fica restrita só aos Estados Unidos, ela se espalha para todos os demais países’.

Imprensa internacional diz que Brasil é um dos possíveis beneficiados

Presidente Lula — Foto: Gustavo Moreno/STF

O Brasil está entre os possíveis países que são beneficiados pelo ‘tarifaço’ contra mais de 180 países do mundo imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A informação está em uma publicação da agência de notícias Reuters.

A reportagem destaca, em primeiro lugar, que o país teve uma tarifa baixa, de apenas 10%, a menor entre todas – algo diferente do que ocorreu com a União Europeia, Coreia do Sul e Japão, por exemplo, com 20% para mais de tarifas.

Com grande foco na agricultura, o Brasil poderia se beneficiar das tarifas retaliatórias da China que devem atingir os exportadores agrícolas dos Estados Unidos. Essas taxas devem entrar em vigor nesta quarta-feira (9).

A Reuters também aborda como a situação gera uma possibilidade de aproximação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, algo que tem sido buscado há muito tempo. O país que mais poderia se beneficiar do acordo seria justamente o Brasil.

A reportagem também recorda que, no primeiro mandato de Trump, os produtores brasileiros de soja e milho tiveram vendas recordes após a China ter congelado a compra dos produtores americanos, algo que poderia ser replicado.

País com moeda desvalorizando

No mercado financeiro, o índice Nikkei fechou em baixa de 3,78%. Já a bolsa da China fechou em alta de 1,31%, apesar de ter operado no vermelho ao longo da madrugada. A bolsa de Hong Kong também encerrou o pregão em alta de 0,74%.

A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse que Trump segue aberto para negociar com a China e outros países. Entre os países que passaram a pagar taxas acima de 30% nesta madrugada estão: Indonésia, Taiwan, Suíça e África do Sul. Japão, Coreia do Sul e Índia também vão pagar tributos acima de 24%.

No Brasil, o dólar comercial subiu 1,47% e fechou cotado a R$ 5,99. Segundo um levantamento da agência de classificação de risco Austin Rating, com 118 países, o Real é a terceira moeda que mais perdeu valor frente ao dólar desde o início do tarifaço. A queda acumulada chegou a 5,10%. No mundo, a desvalorização é liderada pela moeda da Líbia, seguida pela da Colômbia.

O tarifaço de Donald Trump tem provocado perdas generalizadas no mercado financeiro. Somente nos Estados Unidos, os investidores já perderam quase US$ 11 trilhões desde a posse do republicano, em 20 de janeiro. O tombo é puxado principalmente pelas sete gigantes da tecnologia: Apple, Microsoft, Nvidia, Amazon, Alphabet, Meta e Tesla.

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