sustentabilidade deixou de ser uma escolha

Portugal entra em sobrecarga ecológica e regista um recuo na data relativamente ao ano anterior.
Hélder Lopes

Hélder Lopes 6 min

Portugal esgota esta segunda-feira, 5 de maio, os recursos naturais disponíveis para todo o ano de 2025, entrando assim em “sobrecarga ecológica”. Segundo os dados mais recentes da Global Footprint Network, se toda a população mundial vivesse como os portugueses, a humanidade começaria amanhã a consumir recursos que só deveriam ser usados em 2026. É um sinal claro de desequilíbrio entre o consumo e a capacidade regenerativa da Terra.

O chamado Dia da Sobrecarga da Terra (Earth Overshoot Day) para Portugal ocorre este ano 23 dias mais cedo do que em 2024, quando foi assinalado a 28 de maio. Ainda que parte desta antecipação se deva a uma atualização dos dados usados nos cálculos, a realidade é que o país continua a ter um modelo de produção e consumo insustentável.

A associação Zero já veio sublinhar que esta data marca o momento em que a procura por recursos naturais ultrapassa a capacidade do planeta em regenerá-los no mesmo ano.

Portugal regista recuo na data do dia da Sobrecarga Ecológica entre os países da UE

Apesar de o consumo nacional ter diminuído ligeiramente em relação ao ano passado, essa redução não foi suficiente para compensar as revisões dos dados científicos, nomeadamente os relacionados com a capacidade dos oceanos em absorver dióxido de carbono (CO₂), que se revelaram inferiores ao que se estimava. A consequência foi uma revisão em alta do impacte ecológico humano.

Se considerássemos apenas o consumo interno, Portugal teria esgotado os recursos um dia mais tarde do que em 2024 (a 29 de maio). Porém, com os novos critérios, o país surge agora com um dos recuos mais significativos entre os Estados europeus. A União Europeia como um todo entrou em sobrecarga no passado dia 29 de abril, cinco dias antes do registado em 2023.

“Alimentação e mobilidade são as áreas que mais contribuem para a pegada ecológica portuguesa”, refere a Zero, destacando que 30% da pegada está associada ao consumo alimentar e 18% à forma como nos deslocamos.

Quer a alimentação, quer a mobilidade são apontadas como áreas-chave para políticas de mitigação eficazes, que permitam reduzir o impacte ambiental e adiar a chegada do dia de sobrecarga.

Se cada habitante da Terra adotasse o estilo de vida médio de um português, seriam necessários 2,9 planetas para satisfazer as necessidades da humanidade. Esta projeção coloca Portugal entre os países que mais pressionam os limites ecológicos globais, apesar da sua reduzida dimensão territorial e populacional.

Entre os países que mais cedo esgotam os seus recursos em 2025 estão o Qatar (6 de fevereiro), o Luxemburgo (17 de fevereiro) e Singapura (26 de fevereiro). No extremo oposto estão o Uruguai (17 de dezembro), a Indonésia (18 de novembro) e a Nicarágua (11 de novembro), que apresentam um uso de recursos muito mais moderado e compatível com a capacidade regenerativa da Terra.

Entrada em défice ecológico com novos dados a exporem desafios urgentes na alimentação, mobilidade e consumo

A Zero apela a uma aposta firme na economia circular, em modelos de mobilidade mais sustentáveis e em sistemas alimentares mais eficientes e menos dependentes de recursos intensivos.

Mobilidade como um dos setores de maiores desafios
Entre os setores que mais desafios se apontam, encontra-se a mobilidade, o que nos obriga a repensar significativamente o modo como nos movemos e a necessidade de se usar determinados recursos.

A Global Footprint Network calcula anualmente a pegada ecológica de cada país e compara-a com a sua biocapacidade — ou seja, com a quantidade de terra e mar biologicamente produtivos disponíveis para fornecer recursos e absorver resíduos. A organização utiliza como unidade de medida o hectare global, que permite uniformizar os diferentes tipos de uso do solo e consumo de recursos.

As datas de sobrecarga nacionais são divulgadas todos os anos em dezembro e refletem os dados mais recentes das Contas Nacionais da Pegada Ecológica e da Biocapacidade, coordenadas atualmente pela Universidade de York. Estas informações têm vindo a ganhar relevância no contexto de políticas ambientais e transição ecológica, servindo de referência para governos, empresas e sociedade civil.

No próximo dia 5 de junho, no âmbito do Dia Mundial do Ambiente, será revelado o Earth Overshoot Day para o mundo inteiro. Em 2024, essa data foi assinalada a 1 de agosto — um sinal de que a humanidade está a consumir 1,7 vezes mais do que o planeta consegue regenerar.

Em Portugal, o desafio passa agora por adiar este calendário alarmante. A sustentabilidade deixou de ser uma escolha e tornou-se uma necessidade urgente. Cada dia conta. E, 5 de maio, será mais um a contar para além dos limites do planeta.

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