Os cortes e o afastamento da Agência Americana de Media – que tutela a Voz da América (VOA) – têm um grande impacto nos parceiros, correspondentes e ouvintes na África Lusófona.
A Rádio Nova, um órgão privado angolano, era o único parceiro oficial da Voz da América em Angola. Semanalmente, emitia reportagens exclusivas da VOA sobre política norte-americana. No entanto, desde que foram anunciados os cortes e a suspensão das emissões, a situação mudou drasticamente.
João Pinto, diretor para a informação da “Rádio Notícia”, explicou à DW “o impacto imediato” da decisão da administração de Donald Trump. O jornalista destaca que a sua estação e os ouvintes ficarão sem a “pedagógica e literacia da política dos Estados Unidos”.
“Sobretudo, porque também através da Voz da América tínhamos conhecimento de vários assuntos que, muitas vezes, são encapotados aqui no nosso país. E era possível recorrer sempre aos nossos parceiros para ultrapassarmos algumas dificuldades que aqui temos em termos de fontes. Este é o impacto imediato”, frisou.
João Pinto esclarece ainda que uma delegação do serviço em português da VOA deslocar-se-ia a Luanda, a meio deste ano, para reforçar a cooperação e estabelecer novas parcerias.
“Os contactos também já tinham sido feitos também a nível da própria embaixada porque havia essa simbiose com o adido cultural. Essa parceria não era de ajuda financeira, era mesmo para abrir portas à informação e nós podermos chegar e, quem sabe, no futuro ter, inclusive, ações de formação”, explicou.
A VOA é uma das mais antigas rádios internacionais e emitia em 48 línguas, incluindo o português.
Na redação em Washington, trabalhava Mayra de Lassalete, uma jornalista multimédia angolana. Em Angola, vários correspondentes foram afetados pela medida.
Pedro Miguel, secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), lamenta a situação: “São muitos angolanos que se encontram na situação de desemprego – jornalistas. Só em Angola são mais de dez correspondentes da Voz da América”, sublinhou.
Além da Rádio Nova, em Angola, a VOA também era parceira de outras estações da África Lusófona, como a Rádio Comercial de Cabo Verde.
O jornalista angolano José Gama comenta que “em África, sobretudo nos países da lusofonia onde a sociedade depende muito dos canais ou meios de comunicação controlados pelo Estado, tem como alternativa recorrerem a rádios independentes como a DW, a Voz da América e a RFI”.
Gama acrescenta que a suspensão dos serviços da VOA deixará um vazio nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). “E vai fazer com que a sociedade possa estar ainda mais dependente dos meios de comunicação controlados pelos seus governos”, lamentou.
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