Supercélula de tempestade forma grande tornado no Uruguai

Um impressionante tornado se formou sobre campo aberto na tarde desta segunda-feira de Carnaval na localidade de Clara, no departamento de Tacuarembó, do Centro para o Uruguai. As imagens rapidamente viralizaram nas redes sociais dedicadas ao tempo e ao clima na América do Sul.

Tornado hoje em Tacuarembó (Uruguai) | MARIO FURTADO

Embora impressionante na sua estrutura, com imagens que recordam as dos tornados nos Estados Unidos, a formação avançou sobre áreas desabitadas em campo aberto, o que não trouxe nem danos nem feridos na localidade uruguaia.

O tornado ocorreu em um ambiente de grande instabilidade que vem afetando o vizinho Uruguai por dias com chuvas intensas em parte do país e temporais frequentes, o que se repete no Centro da Argentina. Nas últimas 72 horas, algumas cidades uruguaias anotaram 200% da média de chuva do mês de março.

O bloqueio atmosférico associado à Alta Semi-Estacionária do Atlântico Sul (ASAS) e ao ar muito quente entre o Sul e o Sudeste do Brasil opera como uma barreira para o canal de umidade da Amazônia que nesta época do ano deveria estar atuando no Sudeste e em parte do Sul e do Nordeste do Brasil.

Com isso, a umidade amazônica está tomando outro caminho. Impedida de avançar pelo bloqueio para o Sul e o Sudeste do Brasil, ela tem avançado pelo interior da América do Sul de Norte para Sul até o Centro da Argentina e parte do Uruguai.

Por isso, nestas áreas, nos últimos dias, tem chovido excessivamente com tempestade fortes a severas frequentes. Os acumulados de chuva nos últimos dias em partes do Centro da Argentina passam de 300 mm e houve inundações. Somente entre ontem e hoje choveu 100 mm na Grande Buenos Aires com alagamentos.

Supercélula de tempestade causou o tornado

A imagem de satélite abaixo das 15h desta segunda-feira mostra uma nuvem gigante de tempestade com aspecto circular sobre o departamento uruguaio de Tacuarembó. Tratou-se de uma supercélula de tempestade, que é capaz de formar fenômenos severos como tornados e microexplosões.

METSUL

Como se tratou de uma supercélula bastante isolada numa massa de ar muito quente, acabou por receber muita energia da temperatura alta que predominava naquele momento no Norte do Uruguai e no Rio Grande do Sul.

Estações do Instituto Nacional de Meteorologia no Rio Grande do Sul indicaram máximas de 40,5ºC em Santiago; 40ºC em São Borja; 39,3ºC em São Gabriel; 39,1ºC em Quaraí; 38,9ºC em Alegrete; 38,8ºC em Porto Alegre e São Vicente do Sul; 38,6ºC em Campo Bom; 38,4ºC em Teutônia; 38,3ºC em Uruguaiana; e 38,2ºC em São Luiz Gonzaga.

A célula que atingiu o Uruguai já se dissipou, mas outras muito isoladas se formam pelo intenso calor no Sul do Rio Grande do Sul, podendo trazer tempo severo, mas não necessariamente tornado.

Uruguai está no Corredor de Tornados da América do Sul

O chamado Corredor de Tornados da América do Sul é uma região que abrange partes da Argentina, Paraguai, Uruguai e o sul do Brasil, caracterizando-se como uma das áreas com maior incidência de tornados fora dos Estados Unidos.

Esse corredor se dá devido a uma combinação de fatores meteorológicos, como a colisão de massas de ar quente e úmido provenientes da Amazônia com massas de ar frio oriundas da Antártida.

Essa interação gera tempestades severas, conhecidas como supercélulas, que frequentemente dão origem a tornados. A região do Pampa argentino e gaúcho, bem como partes do Paraguai e Uruguai, é especialmente vulnerável. No Brasil, os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná são os mais afetados.

Tornado hoje em Tacuarembó (Uruguai) | MARIO FURTADO

Tornado hoje em Tacuarembó (Uruguai) | MARIO FURTADO

Embora menos estudado do que o famoso Tornado Alley nos Estados Unidos, o Corredor de Tornados da América do Sul tem registrado eventos extremos com intensidades comparáveis. Em 2009, um tornado de categoria F4 atingiu Guaraciaba (SC), deixando um rastro de destruição e vítimas fatais. Em 2016, um tornado devastador atingiu a cidade de Dolores, no Uruguai, com ventos superiores a 250 km/h.

O tornado de San Justo, ocorrido em 13 de abril de 1973, é considerado o mais forte já registrado na América do Sul e um dos mais violentos do mundo. A cidade de San Justo, na província de Santa Fé, Argentina, foi atingida por um tornado classificado como F5 na escala Fujita, o único com essa intensidade confirmado no continente.

O tornado devastou grande parte da cidade, destruindo casas, arrancando árvores e lançando veículos a grandes distâncias. Estima-se que os ventos tenham ultrapassado 320 km/h, deixando um cenário de completa destruição.

O saldo da tragédia foi de 63 mortos e mais de 200 feridos, além de centenas de desabrigados. A violência do tornado foi tamanha que estruturas de concreto foram arrancadas do solo.

O tornado de Encarnación, ocorrido em 20 de setembro de 1926, foi um dos eventos meteorológicos mais destrutivos da história do Paraguai. Classificado como um F4 na escala Fujita, ele devastou a cidade de Encarnación, localizada no sul do país, na fronteira com a Argentina.

O fenômeno foi gerado por uma intensa tempestade que se formou na região, resultando em ventos superiores a 300 km/h. O tornado destruiu centenas de edificações, arrancou árvores e lançou destroços a quilômetros de distância. A tragédia deixou um saldo de além de 300 mortos e um número elevado de feridos e desabrigados, sendo considerada a pior catástrofe natural já registrada no Paraguai.

A destruição foi tamanha que Encarnación teve que ser praticamente reconstruída. O evento destaca a vulnerabilidade da região a tornados severos e a importância do monitoramento climático para prevenir tragédias semelhantes.

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