Seis dos nove membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) subiram no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU, com Portugal a manter-se na categoria mais elevada e Guiné-Bissau e Moçambique na mais baixa. Porém, o progresso do desenvolvimento humano sofreu uma desaceleração sem precedentes em todas as regiões do mundo, estando no menor nível desde 1990.
Os dados constam no Relatório de Desenvolvimento Humano divulgado esta terça-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que dá conta que, entre os países lusófonos, apenas Cabo Verde desceu na classificação de IDH, passando da posição 131 para a 135, numa avaliação que se centra no desempenho dos países em 2023.
Num ranking liderado pela Islândia, Portugal ocupa agora a 40.ª posição face à 42.ª registada no relatório anterior, seguindo-se o Brasil na lista de Estados da CPLP com melhor índice, subindo do 89.º lugar para o 84.º.
A Guiné-Equatorial manteve-se na 133.ª posição, Cabo Verde desceu da 131.ª para a 135.ª, São Tomé e Príncipe permaneceu no 141.º lugar e Timor Leste subiu do 155.º para o 142.º lugar.
Ainda na lista de países lusófonos que subiram no ranking da PNUD está Angola, que passou da 150.ª posição para a 148.ª, Guiné-Bissau (da 179.ª para 174.ª) e, por último, Moçambique, que subiu uma posição (183 para 182).
Portugal é o único país lusófono na categoria de Desenvolvimento Humano “muito elevado”, o Brasil é o único em “elevado”, e Guiné-Equatorial, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola, Timor Leste estão na lista de países que registaram um Desenvolvimento Humano “médio”.
Guiné-Bissau e Moçambique são os membros da CPLP incluídos na categoria de Desenvolvimento Humano “baixo”, que é encerrada pelo Sudão do Sul na última posição (193.ª).
A África Subsariana é, cronicamente, a região com o mais baixo IDH em todo o mundo.
Os dados integram Relatório de Desenvolvimento Humano de 2025 — “Uma Questão de Escolha: Pessoas e Possibilidades na era da Inteligência Artificial” —, que analisa o progresso numa variedade de indicadores conhecidos como Índice de Desenvolvimento Humano, que engloba conquistas em saúde, educação e nível de rendimentos.
O relatório revela também que o progresso do desenvolvimento humano sofreu uma desaceleração sem precedentes em todas as regiões do mundo, estando no menor nível desde 1990, ao mesmo tempo que mostra que a Inteligência Artificial (IA) “pode reativar o desenvolvimento”.
Em vez de uma recuperação sustentada após o período de crises excecionais de 2020–2021, quando se registou a pandemia de Covid-19, o relatório aponta não só para uma “alarmante desaceleração global”, como para um aumento das desigualdades entre países ricos e pobres.
“Durante décadas, estivemos no caminho para alcançar um mundo de desenvolvimento humano muito elevado até 2030, mas esta desaceleração representa uma ameaça real ao progresso global,” afirmou o chefe global do PNUD, Achim Steiner.
“Se o fraco avanço de 2024 se tornar o ‘novo normal’, esse marco de 2030 pode ser adiado por décadas — tornando o nosso mundo menos seguro, mais dividido e mais vulnerável a choques económicos e ecológicos”, acrescentou.
Pelo quarto ano consecutivo, a desigualdade entre países com IDH Baixo e Muito Alto continua a crescer, revertendo uma tendência de longo prazo de redução dessas disparidades.
Os desafios para os países com os mais baixos índices de desenvolvimento são particularmente severos, impulsionados por tensões comerciais crescentes, agravamento da crise da dívida e o avanço da industrialização sem geração de empregos.
“Diante desse cenário global turbulento, precisamos urgentemente de explorar novas formas de impulsionar o desenvolvimento,” instou Steiner.
“À medida que a IA avança rapidamente em muitos aspetos das nossas vidas, devemos considerar o seu potencial para o desenvolvimento. (…) Embora a IA não seja uma solução mágica, as escolhas que fizermos poderão reacender o desenvolvimento humano e abrir novos caminhos e possibilidades”, defendeu.
O relatório apresenta os resultados de um novo levantamento, que mostra que as pessoas são realistas, mas também estão com esperança em relação às mudanças que a IA pode trazer.
Metade dos inquiridos ao redor do mundo acredita que os seus empregos podem ser automatizados. Uma parcela ainda maior — seis em cada dez — espera que a IA tenha um impacto positivo na sua ocupação, criando oportunidades em empregos que ainda não existem.
Apenas 13% dos entrevistados temem que a IA leve à perda de empregos.
Por outro lado, nos países de IDH baixo e médio, 70% esperam que a IA aumente a sua produtividade, e dois terços antecipam o uso da IA em educação, saúde ou trabalho já no próximo ano.
O documento focou-se igualmente na dinâmica competitiva em torno da IA.
Um dos fenómenos registados é a fuga de talentos em inteligência artificial, com Portugal entre os 30 países (24ª. posição) que mais receberam esse tipo de imigração em 2023, numa lista que é liderada pelo Luxemburgo, seguido pela Suíça e pelos Emirados Árabes Unidos.
O relatório defende uma abordagem centrada no ser humano para o uso da IA — com potencial para redesenhar profundamente as abordagens de desenvolvimento.
Os resultados do levantamento indicam que as pessoas em todo o mundo estão prontas para esse tipo de “reinício”.
O relatório destaca três áreas críticas de ação: Construir uma economia onde as pessoas colaborem com a IA, em vez de competirem contra ela; incorporar a agência humana em todo o ciclo da IA, do projeto à implementação; e modernizar os sistemas de educação e saúde para atender às exigências do século XXI.
A democratização da IA já está em andamento, diz o relatório, com cerca de um em cada cinco entrevistados a relatar que já utiliza a Inteligência Artificial.
“As escolhas que fizermos nos próximos anos definirão o legado dessa transição tecnológica para o desenvolvimento humano,” afirmou o diretor do Escritório do Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, Pedro Conceição.
“Com as políticas certas e foco nas pessoas, a IA pode ser uma ponte crucial para novos conhecimentos, habilidades e ideias que podem dar poder desde agricultores até pequenos empreendedores”, acrescentou.
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