Chegamos ao final da temporada de saibro com o encerramento de Roland Garros — e que encerramento! Finais históricas, partidas épicas e muita emoção tanto no masculino quanto no feminino. Os troféus mais cobiçados da terra batida encontraram seus donos em dois duelos que traduzem tudo o que o tênis pode oferecer: talento, drama, força mental e reviravoltas inesquecíveis.
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Copa dos Mosqueteiros – A final masculina entra pra história de Roland Garros
Carlos Alcaraz e Jannik Sinner protagonizaram uma final que já está sendo considerada como uma das três melhores partidas da história do tênis. Foram 5 horas e 29 minutos de trocação intensa, inteligência tática e tensão do início ao fim — tudo isso na final mais longa da história de Roland Garros. Durante mais de uma década, nos acostumamos com os confrontos de Federer, Nadal e Djokovic. Parecia impossível imaginar que, tão cedo, veríamos uma nova rivalidade à altura. Mas Alcaraz e Sinner chegaram para mudar essa percepção. Toda vez que se enfrentam, o nível de tênis atinge um novo patamar. Técnica apurada, força física absurda, aceleração dos golpes e, principalmente, capacidade mental fora do comum.
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Essa final foi um xadrez físico. Sinner começou voando, dominando os dois primeiros sets com autoridade. Estava solto, acertando tudo, e parecia a caminho do seu primeiro título em Paris. No quarto set, abriu 5/3 e teve três match points seguidos (0/40) no saque de Alcaraz. Estava com uma mão na taça — só precisava estender a outra. Mas aí… Alcaraz fez o que só os grandes fazem. Defendeu os três match points com coragem, quebrou o saque de Sinner logo depois e venceu o quarto set no tie-break. A torcida foi à loucura. E o psicológico virou. O espanhol saiu do fundo do poço e levou o jogo para um quinto set.
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No quinto, Alcaraz conseguiu uma quebra no 4/4 e sacou para o jogo em 5/4 — mais uma reviravolta a caminho? Sinner não se entregou, devolveu a quebra e empatou. Que doideira! O jogo foi para o super tie-break, algo inédito em uma final de Roland Garros.
A tensão estava no limite. Mas Alcaraz, com seu espírito de gladiador, brilhou mais uma vez. Nunca vi um jogador jogar assim em um momento tão importante. Dominou o tie-break de ponta a ponta com vários “winners” e fechou o jogo com uma passada de direita na corrida, no melhor estilo highlight de YouTube. Final: 4-6, 6-7(4), 6-4, 7-6(3), 7-6(10-2).
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Detalhe final: Sinner ganhou 193 pontos. Alcaraz, 192. O jogo foi tão equilibrado que o perdedor ganhou mais pontos… Dá pra entender? Com isso, o espanhol conquista o quinto Grand Slam da carreira e mantém o impressionante retrospecto de estar invicto em 5 finais de Major. Aos 22 anos, Alcaraz já é realidade — e sua rivalidade com Sinner vai marcar a próxima década do tênis mundial.
Copa Suzanne Lenglen – Emoção e colapso mental em cena
Na final feminina, Aryna Sabalenka e Coco Gauff também entregaram um espetáculo — só que com um roteiro diferente. Aqui, o que pesou foi o fator emocional. Sabalenka chegou embalada. Passou fácil pelas primeiras rodadas e, na semifinal, encarou Iga Swiatek, a maior campeã recente em Paris. Venceu num jogo duríssimo e aplicou um sonoro 6/0 no terceiro set — algo impensável contra a polonesa. Muitos chamaram essa semifinal de “final antecipada”, e talvez isso tenha afetado o foco de Sabalenka.
Gauff, por sua vez, atropelou a sensação francesa Lois Boisson, convidada da organização, que vinha de vitórias incríveis sobre Pegula e Andreeva. Mas na semi, a americana foi firme: 6/1, 6/2, sem sustos. Na final, Sabalenka começou dominante. Abriu 4/1 e 40/0 no primeiro set, sacando fácil, mandando winners e encurralando Gauff. Mas aí, uma dupla falta. Depois outra. E outra. Sabalenka perdeu o saque, a concentração e o controle emocional. Começou a reclamar do vento, do box, dos juízes, de tudo que passava na sua frente… e o jogo virou.
Mesmo vencendo o primeiro set no tie-break, Sabalenka estava abalada. E Gauff, fria, entrou no jogo. Começou a forçar a bielorrussa ao erro, jogando bolas profundas e explorando a instabilidade emocional da adversária. Com postura sólida, foco e estratégia bem definida, Gauff virou o jogo e venceu por 6-7(5), 6-2, 6-4, conquistando seu segundo título de Grand Slam — e mostrando maturidade rara aos 20 anos.
João Fonseca: um passo de cada vez
E o João? Bem, o João ainda é um projeto em construção. E tudo bem! Essa foi sua primeira temporada completa no saibro europeu como profissional. E Roland Garros foi um teste importantíssimo — tanto no aspecto técnico quanto mental. O brasileiro chegou a Paris super motivado e com excelente preparação. Na estreia, atropelou Hubert Hurkacz, cabeça de chave 30, em 3 sets a 0. Depois, encarou o francês Pierre-Hugues Herbert, jogador experiente e cheio de variações, e venceu em 3 sets. Na terceira rodada, o desafio era grande: Jack Draper, número 5 do mundo. João entrou tenso, travado, e não conseguiu impor seu jogo. Draper foi cirúrgico, venceu com autoridade — mas deixou uma lição valiosa.
Aliás, Draper é um ótimo espelho: jogador jovem, agressivo, completo, que vem subindo passo a passo e hoje se firma entre os grandes. João tem o mesmo perfil e o mesmo potencial, talvez até maior. Mas precisa de tempo, de paciência e de muito trabalho — e, pelo que vejo, ele e seu técnico Guilherme Teixeira sabem disso melhor do que ninguém.
As comparações com Alcaraz, Sinner e outros Top 10 são normais e tentadoras, mas, ao mesmo tempo, injustas e precoces. O caminho de um top player é feito de ajustes constantes. O João é um jogador agressivo por natureza. Ele tem uma das pegadas mais fortes do Tour e se sente bem e super confortável tomando a iniciativa dos pontos, impondo o seu jogo. Isso faz dele um jogador que todos querem ver e assistir pelas jogadas que executa, mas, por outro lado, temos que ter paciência e saber entender o porquê quando as coisas não funcionarem. É fácil falar de fora…. Dentro da quadra, no turbilhão de um jogo importante, é difícil encontrar equilíbrio e tomar a decisão certa… Aprender a construir pontos segurando a bola na quadra, controlar a ansiedade para se defender quando necessário, ajustar tática sob pressão de acordo com o adversário… isso leva tempo a se consolidar. É ano após ano. Com erros, vitórias e aprendizado contínuo. Continue acelerando a bola João, você está no caminho certo!
E agora? Hora de trocar o saibro pela grama!
Agora, o saibro dá lugar à grama. Os jogos ficam mais rápidos, os ralis mais curtos, e os favoritos nem sempre são os mesmos. A preparação para Wimbledon já começou — e a próxima parada promete muito.
Pau na Bola!
Abs, Pardal
Ace do Acioly no Lance!
Ricardo Acioly escreve mensalmente no Lance! abordando o tênis. Leia mais publicações do colunista:
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