Na Quinta Portugal foram plantados cerca de cinco hectares de pés de café, três de arábica e dois de robusta, que são utilizadas não com o objetivo de vender café mas para produzir novas plantas, treinar a equipa em processamentos de café e fazer experiências em processamentos.
“Nos últimos cinco anos temo-nos focado na produção de café de especialidade, cafés de altíssima qualidade, mais valorizados no mercado, e o trabalho que fazemos é para transferir conhecimento para os produtores. Todas as técnicas que testamos, passamos para os agricultores” timorenses, disse à Lusa o coordenador do projeto, o agrónomo Hugo Trindade.
O objetivo do Centro Agroflorestal da Quinta Portugal “não é fazer receitas ou lucro da produção do café” mas sim passar aos agricultores timorenses “o resultado do trabalho de pesquisa e desenvolvimento”, sublinhou o coordenador do projeto, agrónomo especializado em culturas tropicais.
Segundo dados da Associação de Café de Timor-Leste (ACT), entre 25% e 30% da população timorense depende economicamente do café, o primeiro produto agrícola exportado e o mais importante a seguir ao petróleo e ao gás.
“Hoje, fruto de projetos como o nosso, já existem agricultores, pequenos agricultores, que implementam práticas melhoradas e que se assemelham às fazendas do passado, mas na generalidade ainda têm fracos recursos técnicos e conhecimentos e isso faz com que seja difícil fazer a mudança, que se espera possa acontecer”, salientou o agrónomo.
Questionado pela Lusa sobre a razão pela qual o café de Timor-Leste é considerado um dos melhores do mundo, o agrónomo explicou que é um dos “mais sustentáveis”.
“Muitos países produtores de café estão a começar a ter problemas com as alterações climáticas e desmatações para fazer a monocultura do café. Em Timor-Leste isso não acontece, primeiro fruto do clima que o país tem, depois fruto das características do solo, são solos de montanha, pouco férteis, e a cultura do café só pode crescer aqui debaixo de um coberto florestal”, disse.
“Então o café cresce em sistemas agroflorestais que garantem a sustentabilidade, a biodiversidade, a conservação da água e dos solos e nesse sentido o café de Timor é o maior do mundo”, salientou Hugo Trindade.
As características de alguns locais, de altitudes elevadas, também do híbrido de Timor, que é a variedade que domina as plantações, faz com que seja um café diferente, raro e de muita alta qualidade”, disse.
O coordenador do projeto de cooperação portuguesa afirmou que “muito do café que se produz já é de altíssima qualidade”, mas que ainda há práticas, que “fazem com que o café seja um mero café comercial”.
Sobre a desmotivação dos timorenses para o cultivo do café, o agrónomo explicou estar relacionada com as “baixas produções, a falta de investimento, de acompanhamento e de implementação real das políticas e planos”.
Tudo aquilo faz com que o “agricultor não veja a produção de café como uma cultura que mereça investimento e traga retorno”, disse.
Hugo Trindade explicou que a produção de café em Timor-Leste sempre foi baseada em pequenas plantações e que muitas foram criadas por “imposição das administrações” portuguesas, mas que as pessoas não eram capacitadas para o fazer.
Esta foi uma questão também abordada pelo vice-presidente da Associação de Café de Timor-Leste, Afonso de Oliveira, que em entrevista recente á Lusa lamentou a falta de investimento do Governo no setor.
MSE // ANP
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