É com preocupação que o funcionário público angolano Miguel Neto olha para as notícias na televisão sobre a guerra comercial de Donald Trump.
“Já estamos a sofrer de que maneira e com essas tarifas ainda é pior”, desaba em entrevista à DW África.
O Presidente norte-americano anunciou “tarifas recíprocas” – para a China, por exemplo, foram superiores a 100% – e os mercados internacionais entraram em rebuliço.
As bolsas de valores ficaram no vermelho, e o preço do petróleo desceu para o valor mais baixo dos últimos quatro anos.
O medo é que a procura de petróleo diminua, face ao clima de instabilidade.
Donald Trump ainda recuou – suspendeu as “tarifas recíprocas” para todos os países, exceto a China. Mas o estrago já estava feito.
O preço do barril de petróleo ronda agora os 65 dólares; antes do anúncio das tarifas, estava a ser vendido a cerca de 74 dólares.
Essa queda é má para Angola, porque o preço de referência no Orçamento Geral do Estado é de 70 dólares por barril.
Revisão do OGE angolano à vista
“O problema de Angola agora, se os preços continuarem abaixo dos 70 dólares, é que se terá de fazer uma revisão orçamental”, explica o especialista em mercado de petróleo Gabriel Lembe.
E isso não seria fácil. Com o preço do petróleo mais baixo, e o mesmo nível de produção, as receitas diminuem. Portanto, algumas faturas poderiam ficar por pagar.
“Praticamente, estamos a dizer que várias despesas programadas para este ano poderão ser adiadas por falta de liquidez”, afirma Gabriel Lembe.
FMI, o “vilão” dos angolanos
O problema é que as faturas por pagar já são muitas. Só à China, que é o maior cliente do petróleo angolano, Luanda deve mais de 14 mil milhões de dólares. E ao Fundo Monetário Internacional (FMI), Angola pediu um empréstimo de 4,5 mil milhões de dólares.
É por essas e outras razões que o funcionário público Miguel Neto diz estar pessimista.
“Nós temos uma dívida acima da média junto do FMI. Vai ser difícil mesmo pagar. E com a subida do preço do gasóleo, as coisas complicaram ainda mais. Este é um país que só vai descendo para o pior”, comenta.
Já o empresário Sebastião Manuel parece menos preocupado.
“As famílias angolanas vão sofrer, mas para mim está bom”, diz.
O momento é de aprendizado?
O que está a acontecer na economia mundial é mais uma prova de que Angola tem de acabar com a dependência do petróleo, continua o empresário.
“Nós podemos apostar noutro recurso. A subida do barril de petróleo é mais dinheiro para os “kotas”. Os angolanos veem uma mesquinha de nada. Um preço alto é dinheiro para o sistema. Então, mesmo que o barril baixe para 10 dólares, está bom.”
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