queda de ministro alimenta disputa no Centrão por espaço no governo Lula

  • Em votação simbólica: Câmara cria secretaria dedicada a defender direitos e imunidade dos parlamentares
  • Ministério das Comunicações: ‘União Brasil tem o direito de indicar o sucessor para o Juscelino’, diz Lula

Nesta quarta-feira, depois de cumprir agenda em Honduras, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse publicamente que o União irá manter o comando das Comunicações, o que atrapalha as pretensões do PSD. Em Tegucigalpa, também sinalizou que discutirá a indicação de Pedro Lucas hoje. Mas não revelou se irá ampliar as substituições.

Depois de participar da 9ª Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), o presidente Lula também afirmou que deve ter uma reunião com líderes do União.

— O União Brasil tem o direito de me indicar o sucessor para o Juscelino, que é do União Brasil. Eu já tenho o nome, eu conheço o Pedro Lucas. Eu vou voltar para o Brasil, e amanhã (hoje) de manhã vou conversar com o União Brasil e, se for o caso, eu já discuto a nomeação dele — afirmou Lula.

Em conversa com líderes do partido, o presidente da República deu sinais de que não deve ceder ao PSD a pasta do Turismo. Lula afirmou, segundo integrantes do União, que gosta do trabalho de Celso Sabino.

De acordo com relatos, em conversa por telefone com Lula anteontem, em viva voz, o presidente do União Brasil, Antonio Rueda, e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, chegaram a consultá-lo se ele queria que Celso Sabino fosse deslocado para o lugar do Juscelino.

De acordo com pessoas que acompanharam a conversa, Lula indicou que preferia que Sabino ficasse onde está. Foi nessa mesma conversa que Lula abriu caminho para a entrada de Pedro Lucas Fernandes na Esplanada dos Ministérios.

Juscelino Filho deixou a pasta após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por suspeitas de desvio de emendas no Maranhão. Ele nega ter cometido qualquer crime.

— Toda vez que ministro é denunciado pelo procurador-geral, é uma política saudável que ele se afaste do governo para poder provar sua inocência e não comprometer o dia a dia do governo, que é de muito trabalho, muita coisa prática. E nosso ministro Juscelino é deputado federal, ele simplesmente acredita que vai provar a inocência dele e é tudo isso que eu quero — acrescentou Lula ontem, em agenda no exterior.

Deputado federal em segundo mandato, Fernandes não é próximo de Lula, mas tem relação de estrita confiança com Rueda e Alcolumbre, para os quais o presidente tem feito gestos públicos de aproximação.

Fernandes integrou a comitiva que viajou com Lula para Japão e Vietnã no final de março e acompanhou o petista no roteiro de sete dias pela Ásia.

A pressão de PSD sobre o Turismo, no entanto, não deve diminuir. Com três pastas no governo Lula — Agricultura, Minas e Energia e Pesca —, a legenda se sente sub-representada no primeiro escalão.

O objetivo é trocar a Pesca pelo Turismo. O ministério de Sabino é visto como estratégico para direcionar montante elevado de emendas parlamentares para eventos, obras e shows. Seria importante também para atender diversos estados onde o PSD possui grande quantidade de deputados federais.

A sigla entende que ações na área do Turismo se encaixariam na área de atuação de deputados de Pernambuco, Rio, Bahia, Ceará e até do Paraná, que concentra hoje uma ala de oposição ao governo.

Parlamentares afirmam que a bancada do PSD na Câmara tem segurado votos para requerimento de urgência do PL da Anistia aos acusados pelos atos golpistas do 8 de Janeiro, e que essa postura tem influenciado outros partidos de centro-direita, como o próprio União, Republicanos e Progressistas.

Congressistas também pontuam que, ao olhar em perspectiva outras legendas, o PSD está em desvantagem nos espaços do governo, o que poderá fazer com que a bancada no futuro se torne hostil à gestão petista, como a do União Brasil é atualmente — legenda que é dividida em relação ao apoio a Lula.

Desde o começo do ano, caciques do PSD se movimentam para trocar a pasta da Pesca pelo Turismo. De acordo esse grupo, o assunto chegou a ser tratado com um ministro palaciano, mas não avançou. Lula fez mudanças pontuais no primeiro escalão que afetaram apenas nomes ligados ao PT. Embora tenha intenção de fazer trocas desde o fim do ano passado, o presidente ainda não chamou presidentes e líderes de partidos para tratar do tema:

— Eu não tenho uma data, eu não tenho um prazo, eu não tenho uma decisão. Eu vou fazendo na hora que eu achar que tem que mudar. É assim — disse Lula em Honduras.

Nome com trânsito no Centrão, Sabino tem apoios de peso para se manter no cargo. Além do aval de Alcolumbre, conta com o suporte das bancadas do União na Câmara e no Senado para seguir no cargo. Aliados do ministro também reforçam os números positivos de entrada de turistas estrangeiros no Brasil como argumento para Sabino não ser substituído.

— Estou tranquilo. Sigo trabalhando. Meu tripé é Deus, Lula e minha bancada do União na Câmara. Enquanto tiver apoio dos três, sigo firme trabalhando no Turismo — afirmou o ministro.

No PSD, o nome defendido para ocupar o lugar de Sabino é o do deputado federal Pedro Paulo (PSD-RJ). O parlamentar era o indicado pelo prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), como forma de retribuir o apoio à eleição de Lula no segundo turno. Durante a transição do governo, o deputado chegou a ser sondado para o Turismo, mas seu nome acabou barrado internamente.

Insistência em indicação

Adversários buscaram minar a indicação, relembrando o episódio em que Pedro Paulo foi acusado de agredir a ex-mulher. Na época, ele negou ter agido com violência e o inquérito que apurou o caso foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2016.

Agora, integrantes do PSD veem como gesto de justiça Pedro Paulo assumir a pasta que “quase foi dele” durante a montagem do governo. Pelo cenário desejado pelo PSD, Celso Sabino, com a mudança, seria deslocado para Ciência e Tecnologia, da ministra Luciana Santos.

Integrante do PCdoB, Santos é cogitada para o Ministério das Mulheres, ocupado por Cida Gonçalves. Lula, no entanto, não deu indicativo de que pretende efetivar essas mudanças.

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