Provas sobre harmonização e enoturismo marcaram segundo dia do Vinhos de Portugal em SP; evento continua neste domingo
A flexibilidade de regras para harmonizar vinho e comida é um tema que desperta cada vez mais interesse entre aqueles que não dispensam o vinho na refeição. A velha máxima de que branco combina com peixe e tinto com carne caiu em desuso. Não por acaso, porco com purê de batata assada foi servido com um vinho branco, da casta Encruzado, na prova “Harmonização dos vinhos do Dão com a chef Priscilla Deus, do restaurante Cór” neste sábado (14), segundo dia do Vinhos de Portugal. O evento continua no domingo (15) no Pavilhão da Bienal, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.
- Informações, programação e ingressos: acesse o site do Vinhos de Portugal 2025.
A prova dos rótulos da região do Dão foi conduzida pela sommelière Cecilia Aldaz e pelo crítico português Manuel Carvalho, à uma sala lotada. “O mundo pede brancos e nós temos que nos render a isso”, diz Aldaz. Para ela, as carnes bovina e de caça continuam combinando com tintos, mas outras, como o porco e o frango, dependendo da receita, vão muito bem com brancos. “O mesmo acontece com queijos cremosos, que antigamente as pessoas serviam com tintos e que vão muito melhor com brancos”.
Como ainda estamos presos a certas regras nem sempre é fácil entender licenças poéticas, que muitas vezes são polêmicas. O produtor mais celebrado da região dos Vinhos Verdes, Anselmo Mendes, que é considerado o “Rei do Alvarinho”, é um entusiasta dos brancos e acha que se um churrasco acontece à beira da piscina num dia de calor, pode muito bem combinar com um branco. A afirmação não é unânime.
“É hora de romper ideias preconcebidas”, diz Mendes. E cita outro exemplo de um prato muito caro aos brasileiros, o arroz de pato, habitualmente servido com tinto. “Adoro, acho que fica maravilhoso com branco. Precisamos levar em conta que essas regras todas são muito mais culturais do que científicas. Acho que chegou a hora de desconstruir a linguagem da harmonização: complicamos o que é simples. Há um campo tão vasto de possibilidades que máximas antigas ficaram velhas.”
A companhia, na opinião de Mendes, também é um ingrediente chave na harmonização. “A escolha do vinho, às vezes, tem a ver com o estado emocional do momento e com a companhia. Se for uma pessoa mais divertida, escolha um vinho mais vibrante. Já uma pessoa mais formal nos leva a pensar num vinho mais sóbrio e sofisticado. É tudo uma questão de clima e da harmonia que existe entre as pessoas.”
Outra prova que Aldaz comandou durante a tarde de sábado (14), “Um guia de enoturismo de Portugal”, também teve a sala cheia e vários brancos. Havia produtores e enólogos entre os representantes de quatro vinícolas. Em resumo, todos concordaram que o melhor de Portugal ainda é sua diversidade e autenticidade. Não que o país seja imune aos ventos da globalização, mas principalmente, porque nas regiões vinícolas ainda está muito presente a simplicidade da cultura secular.
“As estradas são boas e nós adoramos receber brasileiros” disse Pedro Ribeiro, da Herdade do Rocim, no Alentejo. Outro lugar para visitar, que tinha o vinho Quinta Nova Centenária 2019 sendo degustado, é a Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo, uma das primeiras a receber turistas no Douro, que tem um museu privado da família Amorim, a maior produtora de cortiça de Portugal.
Quem assistiu à prova foi a engenheira agrônoma Valeria Testa, de 32 anos, que mora no interior do Rio Grande do Sul e veio passar o fim de semana em São Paulo para participar do evento. “Sou neta de imigrantes italianos e fiz mestrado em Portugal. Já era fã do Parcela Única, do Anselmo Mendes, e a prova me confirmou que foi o melhor. Mas descobri outros rótulos como o vinho da ilha do Pico, nos Açores, e o Grande Rocim Reserva 2021. No ano que vem estarei de volta”.
Entre as provas, outro destaque deste sábado foi a presença de Antonina Barbosa, da Falua, que com o crítico do Valor, Jorge Lucki, mostrou brancos e tintos de grande qualidade produzidos em três regiões. Ao apresentá-la, Lucki lembrou: “Há 20 anos só havia homens no mundo vinícola português. Hoje há cada vez mais mulheres responsáveis por produtos incríveis e Antonina é uma dessas personagens do vinho contemporâneo”.
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Além das provas, o evento conta com um amplo Salão de Degustação, onde estandes de cerca de 80 produtores colocam à disposição 650 rótulos. Durante duas horas, você pode escolher o que provar. Na área gratuita há comidinhas, loja de vinhos e conversas informais com enólogos, críticos e produtores com destaque para o enoturismo em diversas regiões de Portugal.
O Vinhos de Portugal 2025 é uma realização dos jornais O GLOBO, Valor Econômico e Público, em parceria com a ViniPortugal, com a participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto; apoio das Comissões de Vinho do Alentejo, Dão, Lisboa, Tejo, Vinhos Verdes, Herdade do Peso, Turismo de Portugal, Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, Shopping Leblon e Sadia, hotel oficial Fairmont Rio (RJ), restaurante oficial Osso, água oficial Águas Prata, cia. aérea oficial Azul, assessoria de imprensa InPress Porter Novelli, local oficial Jockey Club Brasileiro (RJ), loja oficial Porto Di Vino, rádio oficial CBN e curadoria Out of Paper.
PROGRAMAÇÃO DO VINHOS DE PORTUGAL EM SÃO PAULO
- Sessões 13h30 às 15h30, 16h às 18h, 18h30 às 20h30
- 13h30: Elas por Elas, seis vinhos e suas criadoras (com Cecilia Aldaz e Alexandra Prado Coelho)
- 15h: Os sublimes vinhos do Tejo, um potencial sem fim (com Dirceu Vianna Junior)
- 16h30: Touriga Nacional, de Norte a Sul (com Cecilia Aldaz)
- 18h: Jorge Rosa Santos, a arte de criar vinhos icônicos (com Jorge Lucki)
- 19h30: Vinho do Porto, seis testemunhos de um clássico mundial (com Manuel Carvalho)
- 13h30: Vinhos do Douro (com Manuel Carvalho, Quinta da Côrte e Menin)
- 14h30: Vinhos do Alentejo (com Jorge Lucki, Tadeu Masano, Adega Cartuxa e Herdade do Freixo)
- 15h30: Centro de Portugal, Dão e Beira Interior (com Alexandra Prado Coelho, Global Wines e Quinta do Cardo)
- 17h: Vinhos do Dão (com Manuel Carvalho, Juliana Carani, Carlos Raposo Wines e Chão de São Francisco)
- 18h: Vinhos do Dão (com Cecilia Aldaz, Alexandra Corvo, Sogrape e Quinta do Mondego)
- 19h: Herdade do Peso (com Alexandra Prado Coelho)
- 20h: Vinhos do Douro (com Jorge Lucki, Quinta da Devesa e Quinta do Carvalhido)
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