Prevenção e estilo de vida equilibrado são aliados da saúde ocular

No dia 8 de abril de 1834, vinha ao mundo, no Rio de Janeiro, então capital do Império, o menino José Álvares de Azevedo. Filho de uma família abastada e cego de nascença, foi, aos 10 anos de idade, estudar em Paris, onde havia uma escola especializada que, à época, testava o sistema de leitura e escrita tátil desenvolvido por Louis Braille. O jovem brasileiro voltaria de lá seis anos depois, em 1850, e disseminaria no País o método, que permitiria aos cegos o acesso à educação formal, à informação e à comunicação.

A melhor maneira de celebrar sua memória e seu pioneirismo nesse importante movimento de inclusão social é fazer do mês de seu aniversário uma oportunidade de mobilizar a sociedade em torno da prevenção das doenças oculares. Graças à evolução científica e tecnológica que a medicina – e especialmente a oftalmologia – tem experimentado, hoje é possível evitar cerca de 80% dos casos de perda da visão, mas, para tanto, é necessário um esforço conjunto de indivíduos e poder público. É nesse cenário que a campanha Abril Marrom, criada em 2016, enfatiza a importância dos exames de rotina e da adoção de hábitos saudáveis na preservação da saúde dos olhos.

O cuidado com a saúde ocular começa no pré-natal, uma vez que a exposição da gestante a determinadas doenças, como sífilis, herpes genital, toxoplasmose ou rubéola, pode acarretar severas alterações visuais no nascituro. A alimentação correta da gestante também é essencial, pois o déficit de vitamina A é prejudicial à visão do bebê. Após o nascimento, ainda na maternidade, é feito o “teste do olhinho”, importante para a detecção de eventuais doenças congênitas, como catarata, glaucoma ou mesmo retinoblastoma.

Crianças em idade escolar podem apresentar dificuldades de aprendizado devido a algum déficit na visão. A correção precoce dos erros refrativos (miopia, astigmatismo e hipermetropia) é fundamental para evitar impactos negativos no seu desenvolvimento motor e, mesmo, no seu processo de socialização.

Infelizmente, ainda temos cerca de 33 mil crianças com deficiência visual devido a doenças oculares evitáveis. Na infância, é indicado o uso de óculos ou lentes de contato e, na fase adulta, a correção pode ser realizada por cirurgia.

Há cerca de 30 anos, quando introduzimos a cirurgia refrativa a laser no Brasil, vivemos uma verdadeira revolução tecnológica. De lá para cá, as técnicas vêm se tornando cada vez mais precisas e, hoje, as cirurgias permitem tratamentos personalizados e cada vez mais eficazes, que melhoram a qualidade de vida dos pacientes. Convém lembrar que erros refrativos não corrigidos, além de causarem desconforto, podem evoluir para doenças mais graves.

O envelhecimento traz, além da conhecida presbiopia ou “vista cansada”, o aumento de doenças oculares mais graves, que, sem tratamento, podem evoluir para a cegueira. É esse o caso da degeneração macular relacionada à idade (DMRI), do glaucoma e da catarata, bem como da retinopatia diabética, que é associada ao diagnóstico de diabetes.

A DMRI, uma das principais causas de perda de visão em idosos de mais de 60 anos, ainda não tem cura, mas existem tratamentos que podem retardar sua progressão. O glaucoma, por sua vez, é uma doença silenciosa e uma das principais causas de cegueira irreversível, mas, com exames de rotina, como o de fundo de olho e o de pressão intraocular, é possível obter diagnóstico precoce e fazer o seu controle. A doença, embora seja mais comum em idosos, pode afetar também as crianças. Já a catarata, que aparece principalmente depois dos 50 anos, é curável mediante cirurgia.

No início deste ano, ganharam destaque na imprensa casos graves de complicações associadas a cirurgias realizadas em mutirões de catarata, que levaram pacientes à perda do globo ocular. A pressão por aumento do número de atendimentos e redução das filas do sistema público de saúde pode levar a soluções apressadas, que não combinam com a qualidade e a segurança exigidas para a realização de procedimentos cirúrgicos. Locais improvisados e descuido com a higienização dos instrumentos cirúrgicos são a porta de entrada para infecções. É inaceitável que pacientes percam a visão por causa de condições precárias no atendimento.

É fora de dúvida que o poder público deve fazer a sua parte, não só ampliando o acesso a serviços, como garantindo a sua qualidade, para evitar situações como essas. Esse ainda é, no entanto, um desafio a ser superado. Segundo recente levantamento, no ano passado, em média, o brasileiro esperou 83 dias por uma consulta oftalmológica e 137 dias por uma cirurgia de catarata no SUS (Sistema Único de Saúde). Além disso, existem cerca de 30 mil pessoas na fila de espera por um transplante de córnea, número que triplicou na última década, acendendo um sinal de alerta: por um lado, é preciso incentivar a doação de órgãos e, por outro, como temos insistido, é preciso adotar a agenda da prevenção, a fim de evitar o agravamento de quadros que poderiam ser tratados com sucesso.

No Brasil, embora faltem dados precisos, estima-se que haja mais de 1,5 milhão de pessoas cegas. Além disso, há cerca de 6,5 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, incluindo aquelas com baixa visão. A maioria desses casos, como sabemos, afeta, sobretudo, os grupos economicamente vulneráveis. A desigualdade no acesso a tratamentos e os custos elevados das tecnologias mais modernas requerem atenção do poder público.

É fato, porém, que o avanço tecnológico, representado pelas terapias genéticas, pelos implantes oculares, pelas novas técnicas de cirurgia de catarata e pelo uso da inteligência artificial no aprimoramento dos diagnósticos, alimenta nossa esperança de erradicar ou reduzir drasticamente a cegueira no futuro. A realização desse sonho, todavia, não depende só da ciência. Nossos hábitos de vida – como alimentação inadequada, tabagismo, baixa ingestão de água, privação de sono, rotina estressante e excesso de exposição a telas – precisam ser repensados. Estilos de vida equilibrados podem fazer muito também pela saúde dos nossos olhos.

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