prestes a ver estrangeiro na seleção, Brasil vê aumento de técnicos em formação

Se por um lado, o Brasil nunca esteve tão perto de ter um estrangeiro como técnico da seleção principal — o português Jorge Jesus, atualmente no Al-Hilal, da Arábia Saudita, e o italiano Carlo Ancelotti, do Real Madrid-ESP, são os mais cotados para assumir a vaga deixada por Dorival Júnior —, por outro, a CBF Academy, espécie de universidade de treinadores estrangeiros no país, dá importantes passos para fomentar o mercado com nomes formados dentro do território nacional.

Em 2023 eram cerca de 1.800 alunos matriculados nos cursos organizados pela empresa em parceria com uma instituição de ensino especializada. No ano passado, o número praticamente dobrou. Foi para 3.500. O crescimento de quase 100% tem como justificativa a chegada de cursos presenciais em todos os 27 estados do país pela primeira vez na história.

Em 2024, a unidade educacional esteve em nove estados que nunca haviam recebido os cursos da CBF Academy: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Tocantis, Maranhão, Paraíba, Piauí e Sergipe. Todos esses receberam os cursos de licença C, a primeira das quatro possíveis e direcionada para profissionais de categorias de base. Além disso, na Bahia e em Minas Gerais, foram inauguradas turmas para a licença A, que permite aos técnicos dirigirem equipes de todas as divisões.

Foi a primeira vez que a turma saiu do eixo Rio-São Paulo. Em 2025 será a vez de Goiás — as aulas já foram, inclusive, iniciadas —, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do Sul receberem o curso da segunda principal licença do programa.

Tudo ocorre de forma escalonada. Ou seja, para um estado receber um curso da licença B, ele precisaria já ter tido a C anteriormente. E por aí vai até o curso PRO, que, atualmente, segue apenas no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Esse processo de democratização é comemorado por treinadores de futebol. Anteriormente, muitos não conseguiam ter acesso aos cursos, principalmente nos níveis mais altos. Era o caso, por exemplo, de Douglas Ferreira, que foi técnico da Portuguesa da Ilha do Governador na última edição de Campeonato Carioca. Ex-jogador, Douglas é nascido no interior do Paraná e passou a morar em Petrópolis-RJ após o encerramento da carreira. Depois de conseguir as licenças C e B, o profissional não conseguia se matricular para obter a A pelas poucas turmas no Rio e em São Paulo. Assim, encontrou uma oportunidade no curso inaugural em Salvador.

— Por ter sido num estado em que eu já havia trabalhado, acabou sendo tudo perfeito. Se não fosse lá, seria muito difícil por ter que gastar dinheiro com locomoção e hospedagem. Mas alguns amigos que eu fiz trabalhando lá me ajudaram muito — conta o profissional, que em 2022 e 2023 trabalhou no Bahia de Feira de Santana, e em 2024 esteve no Juazeirense.

Douglas elogiou a estrutura encontrada na capital baiana.

— O local onde estudamos, os materiais, foi tudo perfeito. Os professores e treinadores que foram lá, como o Fábio Matias (atualmente no Juventude) e o Chamusca (Marcelo, ex-Botafogo e Vasco) tinham muito conteúdo e boa vivência. Foi fantástico. Valeu a pena — conclui.

Um fator apontado por profissionais do mundo da bola como dificultador para o acesso aos cursos da CBF Academy, principalmente os que estão começando, são os custos das licenças. Se começar na C, com custo de R$ 5.800, e for até a PRO, que requer investimento de R$ 24.090 e tem como público alvo os treinadores que planejam trabalhar internacionalmente, os gastos poderiam ser, hoje, de até R$ 52.200.

Gerente da CBF Academy, Davi Feques explica que os custos são direcionados principalmente para a fase presencial dos cursos — viagem, hospedagem e ajuda com os custos dos funcionários e professores, uniformes e alimentação dos alunos, por exemplo — e explica que a instituição tem, dentro do programa de bolsas, diversas modalidades para atender aos mais variados públicos e tipos de demanda.

— Estamos atentos a isso, até porque, sabendo da realidade brasileira, é um valor alto. Temos também as diferentes realidades socioeconômicas de cada estado, então sempre buscamos uma parceria com as federações para tentar uma ou outra bolsa a mais — disse Feques, que também explicou uma das dinâmicas de bolsa voltada para mulheres pretas:

— É um projeto chamado “Professoras Pretas”. As treinadores se inscrevem e passam por etapas até chegar nas entrevistas. Quem passar, ganha uma bolsa para fazer a licença na casa com tudo pago, passagem, hospedagem… Ela é via CBF Transforma, programa que usa recursos financeiros de projetos da Fifa.

Se os altos salários da Série A do Brasileirão são sempre motivo de discussão entre os torcedores, a realidade não é a mesma na base da pirâmide do futebol.

— Eu não fui jogador de futebol, mas a minha pretensão maior é ser treinador. Como só tenho dois anos na profissão, teria que começar na licença C, mas infelizmente, pela nossa realidade, não é possível. Mesmo parcelando em 12 vezes, ainda “pega” bastante. Já perdi contratos e oportunidades por não ter a licença. Não sei se é justo ou injusto, mas dou meu máximo para conseguir pagar e entrar no mercado de vez — diz Eduardo Andrade, que trabalhou como auxiliar-técnico do sub-20 do América-RJ em 2024.

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