Pressão social para adotar um estilo de vida de alto padrão pode minar o planejamento das pessoas para o futuro

Assim, um primeiro passo é ter o hábito de destinar um valor mensal para investimentos. Outro ponto fundamental é avaliar se os aportes serão suficientes para garantir o padrão de vida desejado no futuro. (Foto: Agência Brasil)

A aquisição de um bem ou de um produto, em algumas situações, pode ser motivada para atender a um objetivo específico: pertencer ou ser aceito em um grupo social. Mas nem sempre essas motivações têm lógica. Diante desse questionamento, muitos profissionais que recebem altos salários estão repensando suas carreiras diante da pressão social para adotar um estilo de vida que pode ser insustentável no longo prazo.

É o caso de Neal Shah, exCEO de uma empresa de investimentos com sede em Nova York, nos Estados Unidos. Ele conta que, ao longo de sua trajetória no mercado financeiro, precisou adquirir alguns itens de luxo para ser respeitado no cargo que ocupava. “Logo no início no banco de investimento, aprendi que o tipo de terno que você usa e o tipo de gravata importam”, contou Shah em entrevista à Fortune. “Toda a comunidade usa sapatos Ferragamo ( marca de luxo), mesmo que me desse azia gastar esse tipo de dinheiro.”

Os preços dos sapatos da Ferragamo variam de US$ 700 a US$ 1,5 mil, equivalentes a R$ 3,9 mil a R$ 8,5 mil. “Eu realmente não me importo com coisas sofisticadas, mas, estando nessas carreiras, às vezes você é forçado a fazer determinadas coisas”, disse Shah.

Consultores dizem que ter ‘luxos’ não é problema, desde que não se gaste o que deveria ser poupado

Com a ascensão das redes sociais, as carreiras que já exigiam um estilo de vida de alto padrão ganharam mais vozes para reforçar esses estereótipos: os influenciadores digitais. Hoje, há um bombardeio de vídeos e publicações de produtores de conteúdo que ditam necessidades de consumo ou padrões de vida que, até anos atrás, não existiam. “As redes sociais criaram um universo onde o ‘ter’ é mais visível do que o ‘ser’. E isso afeta até quem tem bom nível de educação financeira”, diz Nayra Sombra, planejadora financeira CFP pela Planejar.

Sob essas pressões, os planos de aposentadoria podem ter de ser adiados para bancar os custos dessa ostentação aparentemente imprescindível. “Isso vai corroendo o orçamento e inviabilizando aportes mensais, justamente os que sustentarão esse padrão no futuro”, diz Nayra.

A aquisição de bens para ser aceito em determinados grupos ou ter “status financeiro” não significa de forma isolada uma atitude prejudicial, na visão dos especialistas financeiros. As pessoas podem ter o direito de se dar determinados “luxos” ou ver algumas compras como investimentos.

Contudo, esse comportamento se torna um problema quando se ultrapassa a capacidade de compra ou impede a pessoa de poupar para o futuro. “Para manter o padrão de vida no futuro, é fundamental gastar menos do que se ganha e direcionar esse excedente para investimentos consistentes e planejados”, diz Nayra.

Assim, um primeiro passo é ter o hábito de destinar um valor mensal para investimentos. Outro ponto fundamental é avaliar se os aportes serão suficientes para garantir o padrão de vida desejado no futuro. “Se hoje você gasta R$ 10 mil por mês e pretende manter esse nível de conforto aos 65 anos, precisa considerar que viverá mais 20 ou 30 anos após se aposentar, o que significa uma necessidade de capital de R$ 3 milhões, sem considerar a inflação”, diz Nayra.

Por isso, quanto mais cedo iniciar o planejamento, o investidor terá tempo para diversificar os investimentos e adotar estratégias de maior risco que possam entregar retornos maiores no longo prazo. As informações são do portal Estadão.