Preparado para a revolução invisível da IA no trabalho? Especialista faz 5 alertas para você se adaptar

A inteligência artificial (IA) não é só uma onda tecnológica, mas uma virada de época, que trará rupturas comparáveis às de outros momentos em que o trabalho foi radicalmente transformado.

Essa é a visão de Michelle Schneider, professora da Singularity University, nos EUA, e sócia no Brasil da consultoria Signal and Chiper, criada pelo estrategista americano Ian Beacraft.

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Pesquisadora de tendências sobre o futuro do trabalho, ela se alinha a uma corrente de pesquisadores que veem na IA um ponto de inflexão na forma como a Humanidade produz.

Daron Acemoglu, professor do MIT, ganhador do Nobel de Economia, e Geoffrey Hinton, um dos “pais” da inteligência artificial moderna e laureado com o Nobel de Física, estão neste grupo. Mas há uma diferença fundamental, observa Schneider em entrevista ao GLOBO:

— Da primeira Revolução Industrial, com o vapor, para a segunda, com a eletricidade, foram ao menos 100 anos. Ou seja, no passado, uma pessoa vivia uma ou nenhuma grande revolução tecnológica por geração. Agora, estamos vivendo várias ao mesmo tempo.

Michelle Schneider, professora da Singularity University que pesquisa impacto da IA no mercado de trabalho — Foto: Camila Othon/Divulgação

Afinal, profissionais de hoje têm como se preparar para a IA, que promete mexer com negócios em diferentes áreas, e o que ainda virá?

A ex-executiva de empresas como Google, TikTok e LinkedIn responde a essa pergunta no livro “O profissional do futuro – Como se preparar para o mercado de trabalho na era da IA” (Editora Buzz).

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Na conversa com O GLOBO, ela apontou cinco tendências e alertas sobre mudanças nas carreiras puxadas pela tecnologia. Veja a seguir:

1 – Seu emprego talvez não acabe. Mas algumas de suas tarefas, sim

Desenvolvimento de sistemas de IA está criando uma nova forma de trabalhar — Foto: Bloomberg
Desenvolvimento de sistemas de IA está criando uma nova forma de trabalhar — Foto: Bloomberg

Para Schneider, a pergunta mais precisa não é “quais empregos vão acabar”, mas “quais tarefas dentro desses empregos estão sendo automatizadas e com que velocidade”.

— Há uma diferença entre tarefa e emprego. O que a IA está automatizando é a tarefa. Isso significa que empregos repetitivos baseados em uma única tarefa são muito suscetíveis à substituição, mas que todos os empregos vão ser afetados — avalia a especialista, que adverte que ser afetado não significa “perder o emprego”.

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Para ela, o efeito é “transversal” e atinge todas as áreas e níveis hierárquicos. Nem funções criativas, antes vistas como refúgio do humano frente a máquina, estão imunes.

—É como se a pirâmide tivesse sido invertida. Os empregos da criatividade estão mudando e vão mudar — afirma Schneider, ao lembrar que, há pouco tempo, antes de IAs generativas como o ChatGPT, estudos sobre o futuro do trabalho apontavam o contrário.— Então a primeira mensagem é: todos nós, de alguma forma, seremos impactados.

2 – A IA ainda é embrionária

Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT — Foto: Bloomberg
Sam Altman, CEO da OpenAI, criadora do ChatGPT — Foto: Bloomberg

A discussão sobre o impacto da IA no trabalho muitas vezes se limita ao que já está em aplicação. Mas, para a autora, é justamente o que está por vir que faz o cenário desafiador.

Ela lembra do cientista Ray Kurzweil, conhecido por acertar previsões sobre tecnologia. Em 1999, ele estimou que a Humanidade atingirá a chamada Inteligência Artificial Geral (AGI) em 2029. Nesse estágio, a IA deixa de ser só uma ferramenta para se tornar capaz de realizar qualquer tarefa cognitiva de um humano. Sam Altman, CEO da OpenAI, é um dos que concordam.

Ter esse horizonte em mente é importante para não subestimar o impacto de médio e longo prazo. Pode parecer que “já há muita coisa acontecendo”, mas a IA está em estágio embrionário e “o que vem por aí é muito maior”, ela diz.

Quer um exemplo? Os agentes de IA, sistemas autônomos que tomam decisões sozinhos e interagem com o ambiente sem comando humano direto. Diferentemente da AGI, já são realidade. Ela diz que há cada vez mais empresas usando agentes. Mais que isso, há equipes inteiras sendo substituídas por eles. Schneider cita a companhia sueca Klarna, que trocou 700 atendentes por um sistema de IA.

3 – Adaptar-se é preciso

Ian Beacraft durante sua palestra sobre IA e o futuro do trabalho no estande do Itaú BBA do Web Summit 2024 — Foto: Marco Sobral
Ian Beacraft durante sua palestra sobre IA e o futuro do trabalho no estande do Itaú BBA do Web Summit 2024 — Foto: Marco Sobral

Para continuar relevante, o profissional precisará se reinventar não uma, mas várias vezes ao longo da vida, ela aposta. Mais que aprender habilidades técnicas, a mão de obra em tempos de IA tem um desafio subjetivo:

—Talvez o maior seja o psicológico. Somos lineares, não fomos feitos para avançar de forma exponencial. A tecnologia tem uma cadência de dobrar capacidade o tempo todo.

Assim, o profissional deve cada vez mais ser capaz de uma adaptação contínua. Ela cita o conceito de skill flux (fluxo de habilidades, em tradução livre), de Ian Beacraft, que aponta a obsolescência cada vez mais rápida de técnicas.

— Quem tem mais de 40 anos, por exemplo, já viveu a chegada da internet. E agora vai ter de se transformar de novo. Será cada vez mais assim, e mais rapidamente.

4 – O conjunto é o que importa

Aprendizado contínuo é a regra para se adaptar às novas tecnologias — Foto: Criação O Globo
Aprendizado contínuo é a regra para se adaptar às novas tecnologias — Foto: Criação O Globo

Para a autora, o momento é de carreiras mais longas, com a maior expectativa de vida, mas com trajetórias menos lineares e ciclos de aprendizado mais curtos. No livro “O profissional do futuro”, ela traça alguns pilares do que vê como relevantes nesse ambiente:

— Curiosidade, criatividade e aprendizado contínuo. Porque quanto mais curioso, mais você aprende. Quanto mais você aprende, mais criativo você é. É um ciclo que vai ter que girar: aprender, desaprender, reaprender, deixar pra trás o que você já fez e assim por diante. Não é fazer um curso e achar que está pronto.

Ela chama esse conjunto de habilidades de “mente inovadora”. Enfatiza que todas estão ligadas a competências socioemocionais, fundamentais para lideranças:

— Nossa geração foi a última que liderou somente humanos. A próxima vai orquestrar uma equipe híbrida de humanos e máquinas. E vai ter de definir fluxos de trabalho claros.

Data center em São Bernardo do Campo (SP): país também precisa se preparar, diz especialista — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Data center em São Bernardo do Campo (SP): país também precisa se preparar, diz especialista — Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo

Em um mundo sobrecarregado, com mil tarefas e profissionais no limite, a especialista admite que pensar em “aprender IA” pode soar como mais uma cobrança. Mas não é preciso virar especialista, ela adverte:

—É sobre experimentar. Testar, brincar, errar. Colocar a IA como um assistente no que você já faz —sugere. — Usar a IA no dia a dia pode significar ganhar tempo, tomar decisões melhores, reduzir retrabalho, e até preservar a saúde mental.

Para Michelle Schneider, ganhar repertório sobre tecnologia é uma forma de continuar fazendo escolhas conscientes. Para quem está começando a carreira, buscar um repertório plural — não se limitar a uma única especialização — pode ser útil.

Para quem está já está no mercado, o caminho é se atualizar: usar a IA para melhorar o que já sabe fazer, por exemplo.

Ela ressalta que, além de individual, a adaptação é coletiva, também de cada país. Se o Brasil não estiver atento, corre o risco de não apenas perder oportunidades econômicas, mas ficar defasado em termos de soberania e competitividade, avalia.

Capacitação técnica, infraestrutura computacional (como data centers) e políticas públicas de longo prazo são as “lições de casa”.

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