Portugal é comumente referido como um país na Europa onde se conduz mal

A Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) revelou este mês alguns dados relativos à fiscalização e contraordenações, e no relatório há alguns aspetos que se destacaram em 2023.

De acordo com o documento, houve um aumento de acidentes que envolveram motociclos – no total, foram registados 8.936 acidentes, mais 25,8% face a 2019 e mais 16,4% comparando com 2022.

Também os acidentes com velocípedes, que incluem bicicletas e trotinetes, aumentaram 38,2% em relação a 2019 e 8,1% face a 2022, tendo-se verificado 3.239 desastres com este tipo de veículos em 2023, enquanto em 2022 tinham ocorrido 2.995 e em 2019 2.344.

No relatório, a ANSR faz uma comparação com 2019, tendo em conta que este é o ano de referência para monitorização das metas de redução do número de mortos e de feridos graves até 2030 fixadas pela Comissão Europeia e por Portugal.

Por forma a perceber este fenómeno, o Notícias ao Minuto falou com Rosário Lima, Chief Claims Officer da Zurich Portugal, que começou por sublinhar que este aumento é uma “tendência que preocupa a todos”, e explicou: “O aumento de sinistros com bicicletas, trotinetes e motorizadas é uma tendência que decorre do aumento de utilizadores destes veículos para responder a questões de sustentabilidade e de custos. A utilização dos chamados veículos green – com índices de poluição mais baixos e com menor necessidade de aporte financeiro para os seus utilizadores – tem aumentado a sua utilização, em especial junto dos mais jovens “.

Mas, se por um lado, “estes veículos são de facto uma alternativa mais económica aos veículos automóveis”, apresentando uma maior mobilidade e reduzindo o trânsito e custos, por outro “constituem um risco maior em termos de frequência e de gravidade dos danos corporais”.

Os riscos e as possíveis soluções

Segundo a especialista, a falta de infraestruturas “adequadas a esta nova realidade de convivência rodoviária” constitui um grande desafio para os utilizadores. Outro dos “verdadeiros desafios” é também a ausência “de ciclovias e faixas exclusivas de circulação – que, quando existem, apresentam indicações pouco legíveis”. O risco destes acidentes é também aumentando pela falta de cultura rodoviária de alguns condutores. “A falta de cultura rodoviária de alguns destes condutores, nem sempre habilitados legalmente para a condução deste tipo de veículos, e a condução menos consciente dos restantes condutores, que partilham a via pública, aumenta exponencialmente o risco de acidentes com estes veículos”, explica.

Rosário Lima adianta ainda que em termos da dimensão dos danos físicos a utilização dos meios de prevenção tem também um grande impacto. “Por um lado, o capacete ainda não é utilizado em Portugal generalizadamente pelos ciclistas e utilizadores de trotinetes e há uma relação evidente entre a ausência da sua utilização e os acidentes mortais”, aponta.

Mas a Chief Claims Officer da Zurich Portugal refere também que no que diz respeito à minimização da gravidade destes acidentes há ainda outros aspetos – que poderão passar por “potenciar comportamentos estradais cívicos e cumpridores e pela necessidade de ser exigido aos ciclistas um conhecimento do código da estrada, da mesma forma que existe essa obrigação para os restantes condutores”.

As metas até 2030

Em relação às metas estabelecidas no espaço europeu, a especialista refere que têm havido melhorias, ainda que insuficientes. “Portugal tem sido referido como um país onde os níveis de sinistralidade são muito preocupantes face a outros países da Europa e é comumente referido como um país na Europa em que ‘se conduz mal’. Temos vindo a melhorar os nossos índices de mortalidade e outros indicadores relacionados com a frequência de sinistros, que demonstram que há um caminho que está a ser percorrido, mas ainda estamos longe de países que apresentam níveis de segurança e sinistralidade bem melhores”, defendeu.

Apesar das melhorias que têm vindo a ser implementadas nos últimos anos – tais como campanhas de sensibilização, no âmbito preventivo, ou a melhoria da rede viária em geral -, os números demonstram que isto não chega. “Temos um longo caminho a percorrer ao nível da prevenção e da punição de alguns crimes rodoviários com penas mais pesadas, à semelhança das legislações vigentes noutros países”, diz.

A sensibilização

Mas se a sensibilização por parte das autoridades competentes “tem de constituir uma parte importante” na estratégia de redução dos acidentes rodoviários, tal “não chega”. “A própria sociedade tem de reagir como um todo. Nós, seguradoras, somos também uma parte importante desta realidade, pelo conhecimento que possuímos. Devemos, por isso, ter uma intervenção consciente junto dos nossos segurados e da sociedade em geral, alertando para estes riscos, aconselhando e sensibilizando para as regras de segurança, ao mesmo tempo que premiamos os bons condutores na avaliação do risco”, considerou.

Sublinhando que as seguradoras têm informação sobre as tipologias, lesões mais comuns ou locais dos mesmos dos acidentes, Rosário Lima não esquece o impacto social desta realidade. “Os acidentes mudam irremediavelmente a vida de tantas famílias. A prevenção da sinistralidade requer esforços contínuos de colaboração entre todas as partes envolvidas, para tornar as nossas estradas mais seguras para todos”, remata.

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