Sendo tarde para corrigir este erro de casting, no mínimo entreguem as declarações sobre Defesa e Forças Armadas a outra pessoa, mais preparada, ou peçam-lhe para ler textos elaborados por alguém que perceba do assunto. Na AD, as competências que em tempos até lhes reconheço em termos de Defesa e Força Armadas, mesmo não concordando com várias medidas, eclipsaram-se. O que ouvi, na entrevista à CNN na sexta-feira – pelas 21h30 – é o grau zero do conhecimento em Defesa e Forças Armadas camuflado com uns sound bites para analfabetos na temática.
Recomendo que vão à box e oiçam, mas deixo apenas estas notas. Começa com as vulgaridades do costume, enquanto reconhece que temos de fazer frente a Putin e que uma derrota da Ucrânia será uma derrota da Europa, dando a entender que temos homem, vamos ser mesmo duros e colaborar na defesa do Ocidente. Depois, para explicar o que é a “a visão da Defesa” da sua candidatura, diz tratar-se de “Defesa para a paz” e como tal nada de embarcar a “construir armas e munições imitando os EUA, cujo complexo militar industrial se auto alimenta”. Não iremos fabricar “munições e granadas”, mas sim “capacetes e coletes à prova de bala”. Ou seja, Bugalho pretende resolver as limitações das nossas forças armadas em termos de armamento (artilharia e munições, mísseis anti-carro e anti-aéreos, blindados de vários tipos, caças de última geração, fragatas, drones armados, etc), com capacetes e coletes balísticos, porque “somos a favor de uma defesa para a paz”.
Volto a gravação atrás e torno a ouvir porque julgava que estava a ser irónico, mas não, aquilo era mesmo o que lhe saía da boca e com um ar grave, de estadista convicto que assim travará os russos no Leste da Europa. Pior, depois de tentar fugir às perguntas sobre defesa que o jornalista insiste em colocar, até concretiza, com um sorriso vitorioso no rosto: “Nós já estamos a produzir capacetes (…), neste momento em que aqui estamos em Famalicão há uma fábrica de fardas militares que visa que elas sejam mais flexíveis, o mais impermeáveis o mais baratas possíveis, (…) É isso vai permitir que os vários exércitos por toda a Europa garantam o maior conforto e a maior sustentabilidade ambiental e a maior segurança na defesa da democracia europeia, é isso que nós queremos fazer, uma indústria de defesa vocacionada para a paz”.
Nem vou comentar este “raciocínio” no mínimo patético – e populista q.b. – sobre o modo como podemos enfrentar as ameaças militares, mas talvez seja bom alguém dizer a Bugalho que, por exemplo, as nossas novas fardas camufladas – que há mais de cinco anos foram introduzidas e com as quais ainda não conseguimos equipar todo o reduzido Exército e muito menos as Forças Armadas – são produzidas na China, a preços muito mais baratos do que seriam em Portugal, chegam e são distribuídas aos nosso soldados a conta gotas.
Os orçamentos militares em Portugal são o que são, dão para o que se vê. Quem compra realmente fardas a empresas portuguesas – e vários países europeus o têm feito há muitos anos, décadas, não é de agora – são aqueles que estão dispostos a pagar bem por fardamento de qualidade, para enfrentarem os campos de batalha com armas e munições o mais modernas e letais possível. Sim os militares servem para combater e para isso devem estar equipados e armados.
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