Portugal destaca-se pela chuva intensa no mês de Março mais quente da Europa | Copérnico

As intensas chuvas de Março em Portugal merecem destaque no boletim mensal do Copérnico (C3S), o programa europeu de monitorização do clima, que menciona a anomalia na precipitação na Península Ibérica, “que foi atingida por uma série de tempestades e assistiu a inundações generalizadas”. De resto, no comunicado divulgado esta terça-feira, confirma-se que o Março de 2025 foi o mais quente da Europa e também o mês em que o gelo marinho do Árctico atingiu a sua extensão mensal mais baixa nos 47 anos de registo por satélite, 6% abaixo da média.

“Março de 2025 foi o mês de Março mais quente da Europa, destacando mais uma vez como as temperaturas continuam a bater recordes. Foi também um mês com extremos de precipitação contrastantes em toda a Europa, com muitas zonas a registarem o Março mais seco de que há registo e outras o mais chuvoso de que há registo, pelo menos, nos últimos 47 anos”, resume Samantha Burgess, líder estratégica para o clima do Centro Europeu de Previsão Meteorológica a Médio Prazo (CEPMMP) que reúne os dados apresentados pelo Copérnico, citada na nota de imprensa do boletim mensal.

Em declarações ao Azul, Francesca Guglielmo, cientista sénior do C3S, complementa os dados do mapa sobre a anomalia da precipitação: “Em Março de 2025, a Península Ibérica registou condições significativamente mais húmidas do que a média. O sinal mais húmido no registo ERA5, com início em 1979, ocorreu numa grande faixa de sudoeste a nordeste em Espanha e Portugal. Os fenómenos meteorológicos de precipitação intensa, principalmente associados à passagem de quatro tempestades designadas (Jana, Konrad, Laurence e Martinho), afectaram de forma significativa as regiões centro e sul.”

De facto, o mapa de precipitação não deixa margem para dúvidas, assinalando uma grande parte de Portugal continental como uma das regiões afectadas pelas chuvas intensas de Março. Curiosamente, os dados do Copérnico deixam também à vista que o Norte do país ficou mais a salvo das intensas chuvas de Março, confirmando os dados do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).



Anomalias climáticas de Março de 2025 (à esquerda a temperatura média, à direita a precipitação)
C3S/ECMWF

A assinatura da nossa chuva

Pouco tempo depois da tempestade Martinho, que varreu o país, Ricardo Deus, responsável pela Divisão de Clima do IPMA, referiu ao Azul que era evidente que Portugal estava registar valores de precipitação muito acima do normal e assinalava “uma característica muito engraçada”.

Segundo explicou, a assimetria da precipitação também foi invulgar. “O que é normal no nosso território é termos precipitação muito mais a Norte e muito menos a Sul. É quase uma assinatura da nossa precipitação. Curiosamente, neste Março está a acontecer precisamente o inverso. Estamos a registar valores de precipitação muito mais acima do normal no Sul do que no Norte”, disse ao AZUL.

Por outro lado, o especialista do IPMA acrescentou na mesma entrevista que as depressões que atingiram Portugal não eram “nada de extraordinariamente atípico”, mas reconheceu que “o facto de elas terem tido uma frequência muito elevada, isso sim, embora não seja inédito, não é muito usual”.

Agora, no capítulo dedicado aos destaques hidrológicos do mês de Março de 2025 , o Copérnico refere: “A maior parte do sul da Europa registou condições mais húmidas do que a média, em especial na Península Ibérica, que foi atingida por uma série de tempestades e assistiu a inundações generalizadas. Outras regiões mais húmidas do que a média incluem a Noruega, partes da Islândia e o noroeste da Rússia.”

Mas noutros locais a anomalia foi no sentido inverso: “Em contrapartida, o tempo esteve mais seco do que a média no Reino Unido e na Irlanda, numa grande faixa oeste-leste da Europa Central que se estende para sul até ao Mar Negro, Grécia e Turquia.”

Para lá da Europa, os especialistas acrescentam que “o tempo esteve mais seco do que a média na maior parte da América do Norte, no sudoeste, centro e leste da Ásia, no sudoeste da Austrália, em partes da África Austral e no sudeste da América do Sul”. Por outro lado, “verificaram-se condições mais húmidas do que a média no leste do Canadá, no oeste dos EUA, no Médio Oriente, em toda a Rússia e em partes da Ásia Central, no sudeste de África e no nordeste da Austrália”.



Anomalias da temperatura média da superfície do ar em Março
C3S/ECMWF

As anomalias que já parecem normais

De resto, infelizmente, as anomalias registadas pelo Copérnico não são surpreendentes. A curva ascendente continua, portanto. “As temperaturas foram predominantemente acima da média em toda a Europa, com as maiores anomalias quentes registadas na Europa Oriental e no sudoeste da Rússia, embora na Península Ibérica tenham ocorrido temperaturas mais frias do que a média”. E os peritos acrescentam: “A temperatura média em solo europeu em Março de 2025 foi de 6,03 graus Celsius, ou seja, 2,41 graus acima da média de Março de 1991-2020, o que faz deste o Março mais quente da Europa”.

De acordo com conjunto de dados de reanálise ERA5, que utiliza milhares de milhões de medições efectuadas por satélites, navios, aeronaves e estações meteorológicas de todo o mundo, este foi o segundo mês de Março mais quente a nível global, com uma temperatura média do ar à superfície no ERA5 de 14,06 graus Celsius, 0,65 graus Celsius acima da média de 1991-2020 e 1,60 graus Celsius acima do nível pré-industrial para Março.



Extensão do gelo marinho no Árctico (valores em milhões de km2)
C3S/ECMWF/EUMETSAT

No que diz respeito à temperatura média da superfície do mar (TSM) os especialistas do programa europeu assinalam que “para Março de 2025, foi de 20,96 graus Celsius, o segundo valor mais elevado registado para o mês, 0,12 graus Celsius abaixo do registo de Março de 2024”. “As TSM mantiveram-se invulgarmente elevadas em muitas bacias oceânicas e mares. Alguns mares, como o Mar Mediterrâneo e o Atlântico Norte Nordeste, registaram áreas com recordes maiores do que no mês passado”, acrescentam.

O mar quente e o gelo no Árctico a derreter. “O gelo marinho do Árctico atingiu a sua extensão mensal mais baixa para Março nos 47 anos de registo por satélite, 6% abaixo da média. Este é o quarto mês consecutivo em que a extensão do gelo marinho regista um mínimo histórico para esta época do ano. Como o gelo marinho do Árctico também atingiu a sua extensão máxima anual em Março, este mês marcou o máximo anual mais baixo alguma vez registado na região.” São recordes para lamentar, depois de meses sucessivos de anomalias que quase já parecem normais e que, paradoxalmente, quanto mais graves se tornam, menos atenção têm.

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