Porto da China no Peru é nova estratégia chinesa no agro – O Presente Rural

Há tempos a China entendeu que para garantir alimentos para sua população de mais de um bilhão de pessoas precisa participar da cadeia produtiva “de ponta a ponta”, e agora com seu megaprojeto bilionário no Peru encurtará em um terço o tempo para que a produção brasileira chegue no Oriente e com esse porto, que deve ser inaugurado em 2025, com investimento na ordem de US$ 3,6 bilhões (R$ 17,8 bilhões), a China amplia sua participação nas cadeias e na infraestrutura que envolve o agronegócio nas Américas, especialmente junto ao maior produtor de alimentos da região, o Brasil.

Essa visão da China, de estar presente em todas as etapas da produção de alimentos fora dos seus territórios, segue o modelo americano e de algumas nações europeias, e começou com a aquisição de empresas que atuam no agronegócio em países fortemente produtores, como é o caso do Brasil. A estratégia inclui a construção de grandes complexos de armazenamento e agora chega no estabelecimento de rotas de logística terrestres e marítimas que ajudam no transporte dos produtos, como esse enorme investimento que está ocorrendo na construção de um porto no Peru.

Ao mesmo tempo que o investimento nessa megaestrutura portuária atenderá os interesses da China na segurança alimentar, a nova rota oceânica poderá abrir as portas do Pacífico para o Brasil, facilitando a escoagem dos produtos brasileiros. Ou seja, além de garantir o fornecimento de alimentos de origem vegetal e animal para sua gente, a China cria as condições ideais para consolidar sua própria cadeia produtiva, com companhias chinesas atuando diretamente no agronegócio brasileiro, desde a compra de grãos até sua escoagem, inclusive dotada da infraestrutura necessária para levar seus produtos ao destino.

Se desta vez o investimento é da empresa chinesa COSCO Shipping, outra gigante chinesa que atua no Brasil, a COFCO, seguiu o modelo americano no setor. Os EUA já fazem isso há anos, com a presença no Brasil das maiores empresas de trading norte-americanas comprando grãos no país. A Cargill, por exemplo, está aqui desde 1965, exatamente 100 anos após ser criada em Conover, Iowa.

A holandesa Bunge é outra empresa estrangeira que atua no Brasil, no seu caso, há mais de um século. Criada em 1818, em Amsterdã, a Bunge aportou aqui no início do século passado, em 1905. Já no caso da China, ela colocou seus pés no agronegócio brasileiro na década de 70, quando a COFCO International, fundada em 1949, em Pequim, passou a atuar no Brasil, no ano de 1974.

Outras companhias estrangeiras que estão por aqui são a Louis Dreyfus, empresa francesa fundada em 1851, na Alsácia, que se instalou no Brasil em 1942, e a norueguesa Yara Brasil, fundada em 1905, em Notodden, no Brasil desde os anos 1960. No setor açucareiro, a Tereos International atua na agroenergia no Brasil desde 2002. É uma companhia francesa fundada em 1932, em Aisne. É a terceira maior empresa de açúcar e etanol do mundo. A empresa iniciou seu processo de internacionalização nos anos 1990 e chegou ao Brasil em 2002 quando comprou uma outra companhia francesa que já era controladora da Açúcar Guarani.

Artigo escrito pelo diretor-presidente do Grupo Agro10, especialista em Agribusiness, Cesar da Luz – Fotos: Divulgação

Ainda como exemplo de companhias estrangeiras atuando no Brasil na área de grãos, está a japonesa Gavilon do Brasil. A empresa foi fundada em 1874, em Sioux City (Estados Unidos), como uma trading no Meio Oeste americano para negociar grãos. Veio para o Brasil em 2013, sendo que antes, em 1982, foi comprada pela americana ConAgra Foods. No ano que se instalou no Brasil a Gavilon foi adquirida pela trading japonesa Marubeni, que já tinha operações no Brasil. A companhia é uma das maiores tradings nacionais e uma das líderes na exportação de soja. Em 2020, a companhia comercializou 10 milhões de toneladas de grãos. A trading dedica-se também à originação e exportação de soja, milho e trigo.

Somam-se a esses casos o da canadense Viterra, criada em 1981 e no Brasil desde 2010 e, por fim, para citar a China novamente, tem-se o caso mais recente da Belagrícola, criada como uma empresa de alimentos e bebidas em 1985, em Bela Vista do Paraíso, no norte do Paraná. Foi justamente de olho no potencial do agro brasileiro que, em 2017, os chineses da Dakang International Food & Agriculture, braço brasileiro do Shanghai Pengxin, compraram 53,99% da Belagrícola, inclusive com a condição de que os herdeiros do fundador, João Andreo Colofatti, permanecessem na gestão do negócio. Assim, a família fundadora da Belagrícola abriu um canal direto de venda ao país asiático para grãos, especialmente soja e milho. Atuando no Paraná, São Paulo e Santa Catarina, a empresa possui 38 unidades de recebimento de grãos, 55 lojas de insumos e emprega 1.600 funcionários. Os negócios vão da venda da semente à compra da produção, com ênfase no uso do barter pelos produtores. Esse é o exemplo mais recente de que é necessário participar da cadeia produtiva para garantir a compra de grãos e demais alimentos no Brasil, por grupos estrangeiros.

Ainda na área de produção do agro brasileiro, pode-se citar o caso da espanhola EISA Interagrícola, companhia criada em 1849, na Catalunha. No Brasil desde 1935, a EISA Interagrícola existe desde meados do século XIX como uma empresa de negociação de algodão no sul da Espanha. Em 1935, já controlada pelo grupo suíço Econ, a companhia fez seu primeiro investimento no Brasil, na produção de algodão. Em 1949 ela ingressou globalmente no negócio de café, onde é uma das principais tradings. E em 1991 ela começou a negociar cacau. Atualmente, a empresa é uma das líderes do mercado internacional de café e ainda é relevante no algodão, açúcar e cacau. Seu faturamento no Brasil foi um dos que mais cresceram nos últimos anos, com um avanço de 54% desde 2020.

Isso demonstra que não basta apenas querer fazer negócios com um setor do agronegócio, é preciso ter envolvimento em todas as etapas da cadeia produtiva. E nesse caso, a China mostra todas as “garras do Dragão Oriental” ao investir na construção de um porto no Peru que fortalece a atuação dos chineses nas Américas, mas que também acaba sendo uma oportunidade ao Brasil nessa nova rota oceânica.

Fonte: Por Cesar da Luz , diretor-presidente do Grupo Agro10, especialista em Agribusiness. 

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