Por que Pepe Mujica passou 10 anos preso na solit…

José Alberto ‘Pepe’ Mujica, o ex-presidente do Uruguai que também foi floricultor e guerrilheiro, relembrado por sua humildade, morreu na última terça-feira (13). Mujica tinha 89 anos, e morreu depois de meses tratando um câncer no esôfago. Ele faria 90 anos na semana seguinte.

Mujica virou uma figura popular depois de anos de militância por uma política mais justa para as pessoas e para o meio ambiente. Mesmo quando foi eleito para a presidência do Uruguai, em 2010, o agricultor continuou vivendo em sua chácara ao invés de ocupar a luxuosa residência presidencial. Ele também doava 90% de seu salário, se mantendo com cerca de R$ 2.800 por mês. O único patrimônio do “presidente mais pobre do mundo” era um fusca azul de 1987.

Antes de ser presidente e ícone da esquerda mundial, Mujica foi ministro da Agricultura do Uruguai, deputado por Montevidéu e senador do pequeno país de 3,3 milhões de habitantes. Porém, décadas antes dessa carreira na política institucional, o presidente-jardineiro foi um guerrilheiro que participou da luta armada contra a ditadura militar do Uruguai, que ele viveu praticamente toda atrás das grades.

Nesse período de repressão, ele era um refém do regime militar: Mujica seria morto se os Tupamaros, grupo do qual ele fazia parte, voltassem às ações armadas. Foi nessa época que ele e outros presos políticos foram confinados na solitária.

Tortura, urina e química

Os Tupamaros surgiram na década de 1960, antes mesmo da ditadura militar do Uruguai começar. Inspirados pela Revolução Cubana, eles decidiram tentar acelerar uma transformação socialista no Chile. Eles ajudaram a formar a coalizão política da Frente Ampla, em 1971, que existe até hoje para unir a esquerda uruguaia.

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Depois de algum tempo com ações planejadas nas zonas urbanas, como assaltos a bancos, os Tupamaros partiram para confronto direto com o governo. A partir de 1970, eles começaram a usar atos de violência política, como sequestros de figuras importantes. Eles chegaram a capturar o cônsul brasileiro no Uruguai Aloysio Gomide. Não há relatos de que Mujica tenha se envolvido em sequestros ou assassinatos.

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Embates violentos entre os Tupamaros e o governo só aumentaram no governo de Jorge Pacheco Areco, que antecedeu a ditadura acabando com garantias constitucionais e apoiou os militares no poder. Em 1972 o movimento ruiu, com muitos guerrilheiros mortos e outros capturados pelo Exército. A vitória contra a luta armada ajudou os militares a desafiar o Judiciário e o Parlamento, avançando para uma ditadura em 1973.

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Depois do golpe de estado dos militares, nove militantes dos Tupamaros foram escolhidos para ficar presos em condições miseráveis, sem passar por julgamento. Mujica era um deles, e ficou na cadeia por 12 anos, até o fim do regime. No total, o guerrilheiro agricultor passou 13 anos na prisão, contando capturas antes da ditadura, e perdeu meio pulmão por causa de seis tiros que tomou da polícia em confronto armado.

Os anos de prisão não foram fáceis. Ele passou mais de dois anos confinado no fundo de um bebedouro velho para cavalos, e sofreu com vários problemas de saúde. Ele foi torturado, privado de alimentos e até de água. O ex-presidente do Uruguai precisou beber urina, comer papel higiênico e sabão.

Desses 12 anos de prisão, quase uma década foi na solitária. Mujica afirmou que sofreu com alucinações auditivas, paranoia e outros transtornos de saúde mental. Ele só encontrava outras pessoas quando ia ser espancado, motivo pelo qual perdeu os dentes. Depois de sete anos confinado, Mujica começou a copiar livros de química e física para organizar os pensamentos e recuperar a sanidade.

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Ele só foi liberto em 1985, com a anistia que se estendeu aos crimes políticos desde 1962. Em 1989, ele e alguns colegas Tupamaros criaram o Movimento de Participação Popular, partido de esquerda que faz parte de Frente Ampla até hoje. Os ex-guerrilheiros moderaram suas posições e largaram as armas.

Pepe (apelido afetuoso para José, tipo um “Zé” dos países que falam espanhol) Mujica foi presidente entre 2010 e 2015, e fez um mandato ousado. Ele reduziu a pobreza (32,6% em 2006, 8,1% em 2018), as desigualdades e avançou em pautas progressistas: Mujica fez do Uruguai o primeiro país a legalizar a maconha. Ele também legalizou o aborto seguro e gratuito e reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

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