Os oito minutos de análise – inconclusiva – do VAR em um lance para determinar se a bola havia entrado ou não em Sport x Fortaleza, pelo Brasileirão, no último sábado, 26, reacendeu debates na mídia e redes sobre arbitragem. A demora fez com que alguns torcedores se perguntassem o porquê do Brasil não ter a tecnologia de linha do gol como na Premier League ou mesmo um chip na bola. O motivo: economia e pouca ‘demanda’.
Um dos sistemas aprovados pela Fifa é o da empresa alemã Goal Control, que divulgou publicamente seus preços. Para se ter uma ideia, o custo de instalação de uma tecnologia do tipo em apenas um estádio chega a US$ 260 mil (cerca de R$ 1,47 milhão em conversão direta). Instalar em todas as sedes do campeonato superaria os R$ 26 milhões.
Arbitragem de vídeo viu como inconclusivo lance de possível gol do Fortaleza contra o Sport no Brasileirão. Foto: Reprodução/Premiere
A implementação, no entanto, não seria a única despesa, já que também teriam que ser incluídos serviços de operação. De acordo com a empresa alemã, estes chegam a US$ 3,9 mil (aproximados R$ 22 mil) por jogo. Multiplique o valor pelos 380 jogos disputados somente no Brasileirão e o total é de US$ 1,482 milhão (R$ 8,42 milhões).
O debate sobre os custos da tecnologia não se restringem somente ao Campeonato Brasileiro e ao jogo entre Sport e Fortaleza. A própria Premier League viveu um dilema quando implementou a linha do gol, na qual um conjunto de câmeras identifica se a bola cruzou completamente a meta, em seus jogos, em 2013.
Naquela época, cada clube teve que pagar 15 mil libras (R$ 113 mil na cotação atual, sem contar ajustes de variação) à Fifa para a instalação do sistema e ter o selo de qualidade da entidade. Para cada estádio, o total chegava a 250 mil libras (R$ 1,89 milhão), de acordo com informações do veículo britânico Daily Mail à época.

Equipe de arbitragem demorou oito minutos para analisar o lance e anulou por não acreditar ser possível se a bola havia entrado ou não. Foto: Reprodução/Premiere
Esse problema também restringe o Brasil. Em 2018, o Coronel Marcos Marinho, diretor de arbitragem da CBF até 2022, disse em entrevista ao UOL que, além do recurso ser proibitivo, não havia a estrutura necessária no futebol nacional. “É muito caro e os estádios do Brasil não estão totalmente preparados. Teriam que ser todos do tipo arena”, disse.
O ex-dirigente citou, ainda, que lances do tipo, como foi em Sport e Fortaleza, não acontecem com a frequência necessária para justificar o investimento tão alto. “Se você parar para analisar, tiveram uns dois ou três lances desse tipo no Campeonato Brasileiro”, pontuou na época, em que o torneio daquele ano estava em sua reta final.
E não é toda a Europa que é adepta da tecnologia de linha do gol ou do chip na bola, utilizado no Brasil pela última vez na Copa do Mundo de 2014 e vetado pelos mesmos problemas financeiros. O recurso também não foi implementado em La Liga, o Campeonato Espanhol. O presidente do torneio, Javier Tebas se opõe, e novamente, pelos altos custos.
Brazuca, a bola da Copa do Mundo de 2014, continha um chip na bola para auxiliar os árbitros, mas tecnologia nunca mais foi utilizada. Foto: Divulgação/Adidas
Fontes da competição defenderam que o VAR em si já cumpre esse papel. “Desde que foi implementado, houve quase 3.000 partidas (contando primeira e segunda divisões). Todas as situações que exigiram tecnologia para ajudar a verificar se a bola entrou ou não foram resolvidas satisfatoriamente com a câmera da linha de gol e o VAR”, disseram ao Marca.
Em suma, a tecnologia da linha do gol ou a volta do chip da bola não devem acontecer tão cedo no Brasil e mesmo mundialmente não é unanimidade. Em Sport x Fortaleza, a arbitragem de vídeo não chegou a uma conclusão se a finalização de Yago Pikachu entrou totalmente e Matheus Candançan (Fifa-SP) teve que discutir o lance durante oito minutos, colocando novamente em evidência a discussão se são recursos “supérfluos”.
Crédito: Link de origem