Por que as deportações de Trump para a Venezuela podem causar uma crise humanitária

Que crueldade!

Pessoas colocam flores de cravo branco na cerca do Centro de Detenção Krome durante uma vigília em protesto contra a custódia e as deportações em massa do Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA em Miami, em 24 de maio de 2025 Foto: Giorgio Viera/AFP

A grande maioria desses venezuelanos trabalha em restaurantes, é motorista de Uber, babá e exerce outras funções no setor de serviços que muitos americanos não querem fazer.

Eles pagam impostos, contribuem para a economia e estão aqui legalmente sob o programa Status de Proteção Temporária (TPS), que até aqui os protegia da deportação em razão da crise política, econômica e de segurança na Venezuela.

Ao contrário das sugestões de Trump de que eles são criminosos, estudos independentes recentes da Northwestern University, do Cato Institute e do National Institute of Justice concordam que, em média, imigrantes cometem menos crimes violentos do que cidadãos nascidos nos EUA.

A decisão da Suprema Corte, que ainda pode ser anulada pelo mesmo tribunal, deu sinal verde para Trump deportar venezuelanos com TPS.

Ironicamente, em 12 de maio, o Departamento de Estado alertou americanos contra viajar para a Venezuela sob qualquer circunstância, citando, entre outros motivos, o “alto risco de detenção injusta, tortura na detenção, terrorismo, sequestro, aplicação arbitrária de leis locais, crimes e distúrbios civis”.

O índice anual de homicídios na Venezuela é de 26 mortes a cada 100 mil habitantes, maior do que na Colômbia e no México, de acordo com o Observatório da Violência na Venezuela. E a repressão política se intensificou desde a reeleição fraudulenta de Nicolás Maduro, em julho de 2024, de acordo com um novo relatório da organização de direitos humanos Human Rights Watch (HRW).

Imigrantes venezuelanos deportados dos Estados Unidos descem de um avião ao chegarem no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, em Maiquetía, na Venezuela, em 28 de março de 2025
 Foto: Pedro Mattey / AFP

A diretora para América Latina da HRW, Juanita Goebertus, me disse que essas deportações são “uma profunda traição” da parte de Trump. Muitos beneficiários venezuelanos do TPS participaram de protestos contra Maduro antes de emigrar, e agora Trump os está enviando de volta apesar do risco de prisão e tortura, afirmou ela.

O perigo é real: muitos desses exilados expressaram abertamente nas redes sociais seu apoio às sanções impostas pelo próprio Trump contra a Venezuela. Isso os torna potenciais vítimas da “Lei Bolívar” da Venezuela, que estabelece penas de prisão de até 30 anos para aqueles que apoiam sanções contra o país.

Helen Villalonga, fundadora da AMAVEX, um grupo de defesa de direitos dos imigrantes venezuelanos sediado em Miami, me disse que há “pânico e terror” na comunidade venezuelana.

Um dia antes da nossa conversa, Villalonga conheceu uma família de imigrantes venezuelanos com uma filha de 9 anos que é cidadã americana. Agora, a menina corre o risco de ser deportada ou separada à força dos pais, segundo ela me contou.

“Como vão enviar uma menina de 9 anos, cidadã americana, para a Venezuela quando o Departamento de Estado está dizendo para os americanos não irem para lá e que qualquer um que esteja lá deve sair imediatamente?”, me perguntou Villalonga. “Isso está acontecendo com inúmeras famílias.”

Duvido muito da afirmação de Trump de que essas deportações farão com que os americanos fiquem mais seguros. Na verdade, ocorrerá o oposto, pois os imigrantes ficarão mais relutantes em denunciar crimes à polícia.

A cruzada anti-imigração de Trump é uma tentativa de manter o apoio de setores xenófobos e racistas em sua base, ao mesmo tempo que desvia a atenção da crise econômica que os EUA enfrentam desde o início de seu segundo mandato. É teatro político, sim, mas essa farsa pode causar um verdadeiro desastre humanitário. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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