População da Martinica resiste à repressão policial em meio a protestos contra preços abusivos de alimentos
Desde o início de setembro, a população da ilha caribenha da Martinica tem realizado protestos contra os altos preços impostos pelo controle colonial francês, com alimentos até 40% mais caros do que os vendidos na França continental. Para conter as manifestações, a administração local autorizou a repressão policial e determinou, no início desta semana, um toque de recolher obrigatório entre 21h e 5h, pelo horário local, que durará até a próxima segunda-feira (21/10).
Pressionada pela revolta da população e continuidade dos protestos, a prefeitura local chegou a anunciar nesta quarta-feira (16/10) a assinatura de um acordo com o setor de distribuição alimentícia para baixar o preço dos itens vendidos na ilha, “em 20%, em média”, em uma lista de 54 famílias dos produtos “mais consumidos na Martinica”.
“[O memorando] permitirá que os hipermercados reduzam em 20%, em média, os preços de venda atualmente praticados em uma lista de 54 famílias de produtos correspondentes aos produtos alimentícios mais consumidos na Martinica”, escreveu a prefeitura em comunicado.
No entanto, o documento foi rejeitado pela Reunião para a Proteção dos Povos e Recursos Afro-Caribenhos (RPPRAC), responsável pelas mobilizações, uma vez que a redução não contemplou todos os alimentos, mas apenas 6 mil de um total de 40 mil. Pelo contrário, a organização pediu para a população “continuar o movimento”.
“Pedimos que o ministro (dos Territórios Ultramarinos, François-Noël Buffet) viaje para a Martinica”, caso contrário, “ninguém poderá circular”, alertou o líder da RPPRAC, Rodrigue Petitot.
A população da ilha caribenha da Martinica tem realizado protestos contra os altos preços impostos pelo controle colonial francês, com alimentos até 40% mais caros do que os vendidos na França
Sem negociações, há protestos
Desde 1º de setembro, a Martinica, que tem cerca de 350 mil habitantes, tem sido palco de protestos intensos, marcados por episódios de confronto policial, com incêndios e bloqueio de aeroporto. A 7.000 quilômetros de Paris, os preços dos produtos do setor alimentício da ilha caribenha colonizada pelos franceses são 40% mais elevados do que no continente.


O coletivo RPPRAC, que tem mobilizado e liderado as manifestações, reivindica que a redução dos preços se aplique a todos os alimentos, mas o acordo introduzido pelo governo local abrange apenas 6 mil produtos de um total de 40 mil. Além disso, mesmo com a medida aplicada, os recursos continuariam 20% mais caros que o normal.
A ilha importa cerca de 80% dos alimentos da França, e as taxas portuárias incluídas no processo da importação aumentam o valor dos produtos em 9%. A carne, por exemplo, pode custar a algumas famílias até 17% do total de sua renda.
Ao longo dos protestos, autoridades da Martinica permitiram que a polícia usasse a violência para confrontar os manifestantes. Na semana passada, a administração local relatou que um civil morreu a tiros, enquanto 26 policiais ficaram feridos e lojas foram saqueadas. Segundo a prefeitura, pelo menos três lojas e vários estacionamentos foram incendiados, e carros queimados bloquearam o tráfego em uma estrada principal em Fort-de-France, a principal cidade da ilha.
(*) Com RFI
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