Os movimentos são familiares para quem conhece tênis, badminton ou até pingue-pongue. A quadra também é parecida. O pickleball, contudo, tem como diferencial a facilidade em ser praticado. É isso que os seus adeptos dizem quando falam sobre ser um jogo “democrático”, para todas as idades.
O Brasil acompanha agora um “boom” que os Estados Unidos vivem desde 2020, quando o jogo se popularizou. Muito disso se deve a celebridades como Bill Gates, Selena Gomez, Michael Phelps, Emma Watson, Serena Williams, entre outros astros que já apareceram com a pequena raquete em quadra. Por aqui, a elite paulistana replica o modelo do american way of life.
“Eu fui um desses que foi mordido pelo bichinho do pickleball. Fui tenista desde garoto. Estava nos Estados Unidos na metade do ano passado, em Orlando. Comecei a jogar. De lá para cá, larguei o tênis. Nunca mais entrei em uma quadra de tênis. Só jogo isso. É mais democrático, fácil de jogar. Homens, mulheres, crianças. Claro que, quando o nível sobe, fica mais difícil”, conta o empresário e apresentador de TV Roberto Justus, que fará 70 anos no fim de abril.
Ele até virou as costas para o tênis, mas há quem alie os dois esportes, como a tenista medalhista de prata no Pan-Americano da Cidade do México-1975, Patrícia Medrado. “Jogo tênis sempre que eu posso, não abandonei. Mas, agora, é amor e paixão. Estou apaixonada pelo pickleball”, declara-se.
Assim como Justus, ela também conheceu o esporte em uma viagem aos Estados Unidos, mas em 2019. “Umas amigas me levaram para conhecer. Voltei com material, mas, no confinamento, esqueci totalmente. No ano passado, um amigo, Flavio Moura, me convidou para jogar um torneio. Para tentar fazer o melhor, com senso de competitividade, comecei a treinar. Me envolvi. A gente ganhou o Paulista de mistos, fomos vice no Brasileiro. Fui ao Mundial, no Peru. Estou super envolvida e viciada no pickleball”, conta.
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O pickleball foi criado pelo congressista norte-americano Joel Pritchard, na década de 1960. Foto: Werther Santana/Estadão
Antes deles, outro brasileiro fez a expedição. Há quem diga que José Eduardo Guilger foi o primeiro. Ele, que prefere ser chamado pelo apelido “Mado”, tenta humildemente negar. “Eu posso até ter começado. Uma árvore vai ramificando. Hoje, todo mundo que leva (o pickleball) para seu condomínio, seu clube, sua escola, seu bairro… é um embaixador”, analisa.
Fanático por esportes desde garoto, do handebol ao salto ornamental, Mado morava em Miami e foi até a Califórnia visitar a filha em 2018. Ele era praticante de beach tennis e foi convidado por ela para jogar o pickleball. “Fui e adorei. Voltei, morava em Miami, e procurei o pickleball. Encontrei nada” relembra a frustração.
“Só que teve um dia em que estava jogando golfe, e um amigo meu me disse que ia jogar pickleball. Falei que iria jogar com ele. Fomos para Hollywood, onde já estava rolando. Nunca mais saí da quadra”, conclui. Quando voltou ao Brasil, Mado trouxe um kit do novo hobbie. Criou uma iniciativa para jogos no Parque Ibirapuera, que já tem três quadras.
Roberto Justus tem duas quadras de pickleball em sua fazenda e terá mais uma em nova casa. Foto: Werther Santana/Estadão
Segundo ele, são 300 pessoas no grupo que organiza partidas pelo WhatsApp. Ele diz que, em todas as manhãs, entre 30 e 40 pessoas se reúnem por lá para jogar. “É fácil de entrar. Impossível de sair. Não tem jeito. É viciante. Muita gente fala: ‘O pickleball mudou minha vida’. Eu digo: ‘Bem-vindo ao clube’”
Amigo de Mado, George Silva conheceu o esporte no Ibirapuera. Hoje, ele é diretor geral da Confederação Brasileira de Pickleball. “Dobramos de tamanho todo ano. Vem sendo assim nos dois últimos. Provavelmente vai ser assim em 2025, se não for mais”, empolga-se. E os dados são realmente animadores.
“Hoje 40% dos jogadores têm mais de 50 anos. Um esporte muito inclusivo. Temos jogadores de 83 anos. O atleta com 50 anos, que já não consegue jogar o tênis em alta performance consegue ser mais competitivo no pickleball. Há dois anos, as mulheres representavam 21% dos jogadores. Hoje, elas estão chegando a 35%. É super inclusivo”, comemora.
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Jogo pode ser em duplas ou simples, e atletas costumam ficar próximos da rede, que é semelhante á do badminton. Foto: Werther Santana/Estadão
Uma ideia do futuro pode ser o que acontece nos Estados Unidos, onde tudo começou. Por lá, a Associação da Indústria de Esportes e Fitness (SFIA, na sigla em inglês)relatou um aumento de 51,8% de praticantes entre 2022 e 2023. Analisando desde o “boom” de 2020, a alta é de 223,5%, segundo o relatório Topline Participation.
Ainda que seja uma trend entre os mais velhos, a faixa etária com mais participantes (2,3 milhões) tem entre 25 e 34 anos. O crescimento entre menores de 18 anos de 2022 para 2023 foi de um milhão.
A graça também está na integração entre diferentes idades. Roberto Justus, por exemplo, diz que adora jogar “com a molecada”. “Pode dar pancada, tem muito jogo, competição. Se der um smash no tênis, dificilmente alguém devolve. Aqui, todas conseguem voltar. A quadra é um pouco menor. Você desgasta bastante, mas não tanto”, diz ele, que tem duas quadras em sua fazenda em Porto Feliz, no interior de São Paulo. A terceira será feita em uma nova residência, ainda em construção.
‘Mado’ é um dos percursores do pickleball no Brasil e hoje tem um complexo de três quadras na zona sul de São Paulo. Foto: Werther Santana/Estadão
No Pickleball Point, de Mado, outro atleta é o professor da Fundação Getúlio Vargas e comentarista econômico Samy Dana. Ele já praticava tênis de mesa e tinha parceria com a Joola. A marca esportiva é a maior em produtos de pickleball no Brasil e o convidou para praticar. “Eu experimentei, amei. Viajei para o México, joguei lá, também uma febre e, desde então, eu jogo todos os dias em que eu posso. Recomendo muito, é um esporte fácil de iniciar, fácil de evoluir e ele é muito amigos e família”, avalia.
Uma raquete recreativa de pickleball varia de R$ 299 a R$ 449. As profissionais são mais caras, de R$ 467 a R$ 1.797. Uma rede pode chegar a quase R$ 10 mil, mas há modelos de R$ 1,5 mil.
Federação Paulista de Pickleball mira lado social do esporte
“É uma ferramenta de transformação. Não só no aspecto de inclusão social, mas também psicossomático, na questão de pessoas que estão em situação de sedentarismo”, defende Fernanda Jubran Affonso de Almeida Prado, presidente da Federação Paulista de Pickleball (FPP).
Ela conta que seu pai, de 78 anos, joga com neto, de 11. Mais do que a integração familiar, Fernanda comemora a capacidade de transformação do esporte.
“A ideia da federação é fomentar o esporte e projetos sociais. Hoje temos o Pickleball Transforma, no Centro Espotivo Pelezão e no Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador (Ceret), onde a gente recebe meninos e meninas que já vêm de projetos do tênis”, explica.
Os garotos têm de 16 a 21 anos. A ideia é ensiná-los para que sejam atletas e instrutores. Um dos professores é Bruno de Vasconcellos Pereira. “Digo que transformou minha vida. Me conquistou de cara”, diz.
A FPP reúne locais em que é possível praticar o esporte, além de capacitações e projetos, como o que Bruno participa. Tudo isso, além de uma agenda de torneios, fica disponível no site da federação.
Pickleball pode virar esporte olímpico?
Pode até ser que sim, mas não será tão cedo. O pickleball tem três órgãos internacionais que regulam o esporte: a Federação Global de Pickleball (GPF), a Feraçção Internacional Pickleball (IPF) e a Federação Mundial de Pickleball (WPF). Somente a primeira tem representantes em todos os continentes, o que é utilizado de argumento para que as demais se tornem subordinadas a ela.
Uma exigência do Comitê Olímpico Internacional (COI) para considerar uma modalidade olímpica (diferente de incluí-la no programa olímpico) é uma liderança unificada. A partir disso, é preciso estar em conformidade com princípios de governança democrática, inclusiva e transparente.
Também é necessário implementar normas da Agência Mundial Antidopagem (WADA), obter reconhecimento do Tribunal Arbitral do Desporto (TAS) e ter presença mundial e, no mínimo, uma competição internacional. Segundo a GPF, há o objetivo de incluir o pickleball nos Jogos Olímpicos de Brisbane, em 2032.
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