Partido socialista tenta vencer estados-chave na Venezuela para reforçar força eleitoral – Brasil de Fato

A Venezuela terá neste domingo (25) novas eleições regionais para renovar a Assembleia Nacional e os governadores do país. Se, em números totais, a expectativa do governo é conseguir a maioria dos deputados, na disputa pelos governos alguns estados serão decisivos e têm uma atenção especial dos dirigentes do Grande Polo Patriótico, coalizão de esquerda que busca manter a hegemonia tanto no Legislativo, quanto nos executivos estaduais.

Hoje, a coalizão do governo tem 19 estados. Outros 4 estão com a oposição. No cenário geral, são três frentes que o governo está atento. Primeiro são os estados que têm grande população. Para o Partido Socialista Unido de Venezuela (PSUV), manter o controle político e a influência sobre as cidades mais populosas é importante para aumentar ainda mais a capilaridade e o aprofundamento da política chavista no país. 

Esses estados são, principalmente, Zulia, Lara, Carabobo, Aragua, Miranda, Anzoategui e Táchira. O Distrito Capital, onde está Caracas, não elege governador, mas, ainda assim, há uma preocupação de ter deputados eleitos nessa zona, onde está um dos maiores aglomerados urbanos da Venezuela.

Desses, o PSUV só não tem governador em Zulia. O estado é comandado desde 2021 por Manuel Rosales, do Un Nuevo Tiempo. Rosales é um político tradicional na Venezuela e já foi candidato à presidência em 2006, quando perdeu a disputa contra o então mandatário Hugo Chávez. Ele buscará a reeleição e apresenta um cenário difícil para a esquerda no estado. 

O candidato do PSUV no estado será Luis Caldera, atual prefeito de Mara. Ele ganhou protagonismo no partido por sua gestão municipal muito bem avaliada desde 2021. O engenheiro químico, no entanto, ainda não tem uma popularidade grande e encontrará um desafio para superar Rosales. 

Para o cientista político e analista do grupo Missão Verdade Sair Sira, a tendência é que Rosales seja reeleito em um estado que é dominado tradicionalmente pela direita. Ele destaca também que, diferentemente do resto do país, a oposição vai votar no candidato do Un Nuevo Tiempo de maneira unificada, o que facilita sua reeleição. 

“Tem sido um estado tradicionalmente opositor. O PSUV quando ganha lá ganha apertado. Além disso, é um estado que foi muito afetado pelo bloqueio. Rosales fez uma gestão muito bem avaliada. É um dos poucos estados em que a oposição vai disputar de maneira coesa. A proposta eleitoral não vai ser focada na gestão anterior, mas na crítica ao governo nacional”, afirmou ao Brasil de Fato.

Além de ter quase 5 milhões de habitantes, Zulia também é um estado com uma das maiores produções petroleiras do país. Somente o Lago de Maracaibo, na capital do estado, tem mais de 15 mil poços de exploração de petróleo. Economicamente o estado também é relevante para a agropecuária, além de ser uma das regiões mais industrializadas da Venezuela.

Fronteiras também preocupam

O PSUV também está atento à eleição nos estados fronteiriços. Táchira é o principal exemplo. A capital San Cristóbal tem pouco mais de 400 mil habitantes e está a menos de 60km de Cúcuta, uma cidade colombiana de 815 mil habitantes. Essa proximidade cria um fluxo de pessoas muito intenso na região o que, em momentos de crise, se torna um ponto de atenção para a segurança do país. 

Desde que assumiu em 2013, o presidente Nicolás Maduro tem denunciado uma série de planos de ataque que viriam da Colômbia. A fronteira terrestre é um dos principais espaços não só para a entrada de mercenários e de armas, como também de ataques a estruturas estratégicas do país. O espaço também tem, historicamente, a atuação de grupos paramilitares e organizações de tráfico de drogas e de pessoas. 

Ter um governador aliado em Táchira é importante para o PSUV, principalmente para estabelecer uma política de segurança na região. O atual governador é Freddy Bernal, eleito em 2021 em momento de divisão da oposição no estado. Depois de 4 anos de governo, sua campanha está focada nos resultados alcançados principalmente na segurança e, tanto o controle das fronteiras como a redução da criminalidade são consideradas cruciais para a reeleição de Bernal.

“Ele tem uma chance importante de se reeleger porque sua gestão teve resultados, participou da reabertura da fronteira, além de estabilizar, organizar e ter segurança no cruzamento das pessoas de um país para o outro. Para a população isso foi relevante, porque é uma região totalmente interconectada. A decisão de reabrir é do governo nacional, mas o governador Bernal soube lidar muito bem”, disse Sira. 

A escolha e a confiança na reeleição de Bernal se justifica por dois motivos. Primeiro pela experiência na segurança e na gestão. Bernal já foi secretário-geral do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin) e policial metropolitano. Depois, pela fidelidade ao chavismo. Ele foi ministro da Agricultura e coordenador nacional do principal programa de alimentação do país, os Comitês Locais de Abastecimento e Produção (Clap). Além disso, foi deputado da Assembleia Nacional, deputado constituinte de 1999 e se tornou o primeiro prefeito chavista de Caracas.

Outro fator importante para a reeleição no estado é o fato de que Bernal enfrentará um racha na direita, que vai com dois candidatos considerados fortes na região: o ex-prefeito de San Cristóbal, Daniel Ceballos, e Juan Carlos Alvarado, do tradicional partido Copei. Esse é o cenário geral da oposição. Enquanto a ala mais forte da extrema direita pede abstenção, um outro grupo opositor estimula a participação no pleito.

Outros estados importantes que serão observados pelo governo na questão da fronteira são Amazonas e Bolívar, na fronteira com o Brasil, e Apure, que também está na fronteira colombiana. Essas regiões, no entanto, têm um fluxo menor de pessoas e não são tão preocupantes porque o PSUV já tem governadores e buscará manter o controle desses estados. 

Administração pública também é pauta

Uma outra questão em jogo envolve espaços que estão próximos do Distrito Capital, especialmente o estado de Miranda. Isso porque, além de ter uma influência sobre a política nacional, a região também tem prédios da administração pública, o que facilita o contato com ministros e até com o chefe do Executivo. 

O estado também é conhecido por ter algumas das cidades mais ricas da Venezuela, como Chacao e Baruta. Isso leva a uma incidência direta em uma concentração importante da classe média venezuelana.

Para Sair Sira, a tendência é que, em Miranda, ganhe a oposição. Isso porque um dos principais cabos eleitorais do candidato Juan Carlos Requesens é justamente o ex-deputado Henrique Capriles. Ele foi candidato à presidência por duas vezes, em 2012 e 2013 e perdeu as duas. No entanto, isso fez com que Capriles ganhasse força na extrema direita venezuelana e hoje, além de puxar voto para Requesens, ele é candidato a deputado na região.

“Eu vejo Miranda bem difícil de o governo ganhar. Primeiro porque há um questionamento da gestão de Elio Serrano, do PSUV, que assumiu com a saída de Hector Rodriguez para o Ministério da Educação. Como já tinha passado da metade da gestão, o Conselho Legislativo deveria escolher um governador encarregado para convocar novas eleições. Isso não aconteceu e Serrano ficou. Se a oposição fechar voto em Requesens, vai ser difícil”, disse. 

Manter o poder

Em outros estados, o trabalho será menos difícil, segundo Sira. Carabobo, por exemplo, é um estado relevante, mas que conta desde 2017 com o governo de Rafael Lacava do PSUV. A experiência do político e o racha na direita facilitam o trabalho do atual governador. 

Já para a oposição, a tendência é também manter o governo de Nova Esparta, que hoje tem Morel Rodríguez Ávila com chefe do Executivo. A sua gestão é bem avaliada pela população local e sua adversária será Marisel Velásquez, que não tem muita experiência na política pública. O único cargo que ocupou foi o de prefeita de Díaz desde 2004. 

Cojedes é um outro estado que tradicionalmente é dominado pela oposição e que será observado de perto pelos chavistas. O atual governador é Alberto Galindez. Ele buscará a reeleição e enfrentará John Carlos Moreno Salcedo, um quadro jovem do PSUV que hoje é deputado. 

Mas será em Barinas que o chavismo será testado com um nome importante na história venezuelana. Adán Chávez é irmão mais velho do ex-presidente Hugo Chávez e levará o sobrenome para as urnas no estado em que nasceu o líder do que os chavistas chamam de Revolução Bolivariana. O estado hoje é governado por Sergio Garrido, do partido tradicional Ação Democrática. 

Adán já foi governador de Barinas de 2008 a 2017 e tenta agora capitalizar força para tentar retomar o controle do estado pelo PSUV. Na última eleição, em 2022, o candidato do partido foi Jorge Arreaza, ex-vice-presidente da Venezuela e atual secretário-geral da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América (Alba). Apesar de um nome forte no chavismo, ele é de Caracas e perdeu a disputa por Barinas. Agora, o PSUV tenta usar um sobrenome da casa para tentar reverter a situação.

Essequibo indefinido

Pela primeira vez a Venezuela vai realizar eleições no estado que, hoje, é controlado pela Guiana. O governo, no entanto, não divulgou detalhes de como será essa votação, já que não poderá usar o território para instalar colégios eleitorais. Os candidatos sequer puderam fazer campanha no Essequibo e acabaram percorrendo a fronteira para pedir voto.

A região tem cerca de 100 mil habitantes, segundo o último censo realizado em 2012, de um total de 745 mil habitantes da Guiana.

Neil Villamizar é almirante das Forças Armadas e é o candidato do PSUV para o estado. Outros 3 candidatos também vão concorrer a governador da região: o internacionalista Julio Cesar Pineda pelo Movimento Republicano, o sociólogo Héctor Milano pelo Cambiemos; e o advogado Alexis Duarte, que concorre pela coligação Un Nuevo Tiempo-Única.

Para analistas ouvidos pelo Brasil de Fato, a tendência é que a eleição no estado seja simbólica, já que a Venezuela não vai instalar uma estrutura estatal na região.

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