Paraguai anuncia ‘monitoramento constante’ das investigações sobre espionagem do Brasil

BRASÍLIA – O governo do Paraguai afirmou que fará um “monitoramento constante” das investigações sobre a denúncia de espionagem de autoridades do país por integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

O Ministério das Relações Exteriores do Paraguai divulgou nota nesta sexta-feira (4) após o embaixador em Brasília, Juan Ángel Delgadillo, ter sido chamado a Assunção para apresentar informações ao chanceler Rubén Ramírez Lezcano.

“Durante a reunião, o embaixador informou detalhadamente ao chanceler sobre a ação de inteligência ordenada pelo Brasil contra o Paraguai, bem como o desenvolvimento e as implicações que a questão tem no país vizinho [Brasil]”, diz o comunicado.

“O ministro Ramírez Lezcano deu instruções ao embaixador e eles concordaram em manter um monitoramento constante do caso para acompanhar de perto o andamento”, acrescentou o texto oficial.

Espionagem visaria conhecer a posição do Paraguai nas renegociações de Itaipu

O conflito diplomático teve início após o site Uol divulgar, na segunda-feira (31), que a Abin espionou autoridades paraguaias durante o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, que assumiu o cargo em janeiro de 2023.

O objetivo da espionagem seria conhecer a posição do Paraguai nas renegociações entre os dois países sobre as condições e os preços do fornecimento de eletricidade da hidrelétrica de Itaipu, construída sobre o rio Paraná, que faz divisa entre os dois países.

O governo do presidente do Paraguai, o centro-direitista Santiago Peña, convocou na terça-feira (1º) o embaixador brasileiro em Assunção para que explicasse a operação e chamou para consultas o representante paraguaio em Brasília.

Em coletiva de imprensa, o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, anunciou ainda a suspensão de “todas as negociações” sobre Itaipu “até que o Brasil forneça as devidas explicações de forma satisfatória” para o Paraguai.

O embaixador do Paraguai no Brasil informou na quarta-feira (2) ao seu chanceler sobre a “ação de inteligência” brasileira e acordaram um “monitoramento constante” do caso, segundo uma nota oficial.

As autoridades do Paraguai não atribuem uma intenção específica ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), “mas a espionagem estava em operação no seu governo”, disse à AFP uma fonte governamental paraguaia.

O Paraguai exige respostas sobre a duração e os objetivos da espionagem, os canais utilizados e as autoridades e instituições afetadas.

Governo Lula atribuiu espionagem à gestão Bolsonaro

O governo brasileiro negou “categoricamente qualquer implicação na ação de inteligência” e atribuiu a sua autorização à gestão do antecessor de Lula, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), segundo o Itamaraty.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores do Brasil indicou que ação cibernética citada foi realizada pela Abin no governo anterior e suspensa pela atual gestão.

“A citada operação foi autorizada pelo governo anterior, em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”, diz o comunicado do Itamaraty.

“O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023”, afirmou ainda o Itamaraty.

A Polícia Federal (PF) investiga há mais de um ano a instalação, durante o governo de Bolsonaro, de uma suposta “Abin paralela”, à qual é atribuída a espionagem ilegal de figuras políticas e jornalistas renomados no Brasil.

A usina hidrelétrica de Itaipu, em funcionamento desde 1984, tem sido motivo de desacordos frequentes entre os dois países. Brasília e Assunção renegociam o tratado assinado em 1973, quando começou a obra.

As condições financeiras – o chamado Anexo C do tratado – estão no centro das negociações: o Paraguai busca aumentar os rendimentos recebidos pela energia que vende para o Brasil, que consome 85% da eletricidade produzida.

A hidrelétrica, uma das maiores do mundo com capacidade instalada (potência) de 14 mil megawatts, tem 20 turbinas. Uma única delas pode abastecer 1 milhão e meio de habitantes com energia. (Com AFP)

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