As eleições regionais e parlamentares de 25 de maio confirmaram a longa decadência da Venezuela em direção à ditadura e provavelmente prepararam o cenário para uma relação contenciosa com o governo Donald Trump nos próximos anos. O conselho eleitoral anunciou uma vitória esmagadora para o partido socialista do presidente Nicolás Maduro, garantindo 82,7% dos votos para a Assembleia Nacional e conquistando todos os 24 governos estaduais do país, exceto um. A oposição, ainda se recuperando de uma eleição presidencial fraudulenta no ano passado e da repressão contínua, optou por boicotar a votação.
Autoridades americanas condenaram a suposta eleição, chamando o regime de Maduro de “ilegítimo”. Elas também se opuseram à eleição de um governador para o Essequibo, uma região rica em petróleo que a vizinha Guiana controla desde 1899, mas que a Venezuela reivindica há muito tempo como parte de seu território.
Nos oito anos mais recentes, os EUA tentaram duas abordagens básicas para restaurar a democracia na Venezuela. O primeiro governo Trump empreendeu uma campanha de punição e pressão, intensificando as sanções contra o país e reconhecendo Juan Guaidó como o presidente legítimo, substituindo Nicolás Maduro. O governo de Joe Biden defendeu uma abordagem mais comedida e pragmática de engajamento e reforma gradual, incluindo a oferta de alívio das sanções em troca de concessões democráticas concretas. Mais notavelmente, em outubro de 2023, antes da eleição presidencial do ano passado, as sanções ao petróleo foram brevemente suspensas sob o Acordo de Barbados, em um esforço para promover uma votação livre e aberta.
Um homem passa por um mural com a imagem de Hugo Chávez durante um comício para comemorar os resultados oficiais das últimas eleições regionais, em 31 de maio de 2025 Foto: Pedro Mattey/AFP
Ambas as abordagens falharam em gerar mudanças fundamentais. Enquanto isso, na década mais recente, 7,7 milhões de venezuelanos deixaram o país em meio a um desastre econômico e à crescente repressão, exercendo pressão sobre países e governos em todas as Américas. Destes, os EUA acolheram mais de meio milhão de imigrantes, e os venezuelanos constituíram a segunda nacionalidade mais comum de imigrantes — depois dos mexicanos — encontrados na fronteira sul dos EUA sob o governo Biden.
O novo governo Trump voltou a se impor. Trump revogou recentemente uma licença da era Biden que permitia à petrolífera americana Chevron operar na Venezuela, apesar dos intensos esforços de lobby da empresa para continuar suas operações. A Chevron agora está sendo forçada a adotar um padrão de holding que lhe permite manter apenas sua infraestrutura no país, privando a Venezuela de valiosos pagamentos de impostos e royalties provenientes da extração de petróleo. Operando por meio de quatro joint ventures com a estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA), a Chevron é responsável pela produção de aproximadamente 220.000 barris de petróleo bruto por dia no país, o que representa cerca de 25% da produção total do país. Agora, Maduro precisará complementar essa receita perdida com outras fontes e parceiros internacionais.
Ao mesmo tempo, a Venezuela também está presa na rede da política tarifária de Trump. Os EUA impuseram taxas de 25% sobre os compradores de petróleo venezuelano, afastando alguns países das compras e empurrando a Venezuela ainda mais para os braços da China, seu maior mercado de petróleo.
Além disso, nos EUA, Trump está perseguindo os venezuelanos. Ele invocou a Lei de Inimigos Estrangeiros pela primeira vez desde a 2.ª Guerra para atacar a gangue Tren de Aragua, sediada na Venezuela. Isso ocorre em um momento em que o governo revogou vistos temporários para venezuelanos em larga escala e aparentemente busca deportações em larga escala.
A sequência de eventos levanta uma questão urgente: como a relação EUA-Venezuela se desenvolverá nos próximos meses e anos?
O caminho adiante
O espaço para construir um relacionamento baseado em interesses mútuos diminuiu, conforme os EUA também incentivam a Venezuela a buscar reformas democráticas e estabilização econômica. Esse espaço é ainda mais limitado pela posição linha-dura do Secretário de Estado Marco Rubio e de vários parlamentares cubano-americanos de Miami, que se opõem consistentemente a qualquer cooperação com a Venezuela e cujos votos são cruciais para qualquer sucesso legislativo dos republicanos, considerando sua maioria apertada no Congresso. As eleições regionais e parlamentares da Venezuela apenas reforçaram a determinação deles contra o regime de Maduro.
Mesmo assim, o governo Trump e seus aliados estão desunidos em sua abordagem para a Venezuela. Alguns executivos do setor petrolífero dos EUA instaram Trump a fechar um acordo com Maduro que afrouxaria as sanções ao petróleo contra a Venezuela em troca de um esforço para reprimir a imigração. Eles argumentam que tal política reduziria os preços da energia nos EUA, já que a inflação continua, e que os lucros também poderiam ser canalizados para benefícios públicos.
De forma mais ampla, há uma discussão em andamento sobre se os EUA devem retomar a comunicação diplomática formal com a Venezuela para facilitar o diálogo a respeito de questões-chave. Muitos observadores de longa data argumentam que a relação EUA-Venezuela deveria se distanciar dos impasses ideológicos e passar a promover reformas graduais e a estabilidade regional.
Mas as vozes a favor de uma diplomacia voltada para resultados e de um engajamento pragmático têm sido repetidamente minadas por novos desenvolvimentos políticos. O regime de Maduro reprimiu abertamente a oposição, e as violações dos direitos humanos são generalizadas. Dezenas de autoridades e pessoas ligadas à Venezuela foram acusadas de tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e outros crimes transnacionais. Muitas estão sujeitas a sanções e processos criminais.

O secretário de Estados dos EUA, Marco Rubio, e o presidente Donald Trump Foto: Brendan Smialowski/AFP
O fator Rússia-China
Em meio ao atual cenário de relações precárias com os EUA, a Venezuela tem forjado laços cada vez mais profundos com a Rússia e a China. Ambas as grandes potências estão comprando petróleo venezuelano e investindo na economia e na infraestrutura do país. Isso amplia ainda mais o abismo entre os EUA e a Venezuela, particularmente em termos da competição entre rivais globais em uma área geográfica que os EUA há muito consideram sua esfera de influência.
A propensão de Trump e Maduro a personalizar seu poder pode gerar surpresas. Em vez de sua retórica anti-EUA tipicamente agressiva, Maduro parabenizou Trump por sua vitória em novembro e pediu um “novo começo” nas relações bilaterais entre os países.
Mas Trump e Maduro dependem do apoio crucial da linha dura, e nenhum dos líderes quer parecer fraco. Isso limita sua capacidade de encontrar um ponto em comum e torna provável que a relação EUA-Venezuela seja instável nos próximos anos, conforme Trump tenta obrigar a Venezuela a receber de volta dezenas de milhares de imigrantes, enquanto Maduro busca mais poder de influência — como laços mais estreitos com a Rússia e a China — para obter alívio de sanções e acordos petrolíferos. A natureza tensa da relação pode muito bem resultar em um isolamento mais profundo para a Venezuela, aproximando-a do status de Cuba no hemisfério. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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