A Frente Única, formada pelos principais líderes da oposição guineense contra o regime deUmaro Sissoco Embaló, não está a conseguir mobilizar o povo para sair à rua, ao contrário do que acontece em Moçambique. Foram feitas várias tentativas, mas sem sucesso. O povo ficou no seu cantinho.
A última tentativa ocorreu no passado dia 28 de fevereiro, um dia depois de Sissoco ter completado os cinco anos constitucionais no poder. A oposição apelou à “paralisação total”, que resultou num fracasso. As duas maiores coligações, PAI-Terra Ranka e API Cabas Garandi (API-CG),alegam que “o povo guineense tem de se levantar para defender a legalidade constitucional e a democracia”. No entanto, a resposta popular tem sido um silêncio ensurdecedor.
Será que a oposição guineense falhou? Ou será que o povo já não confia nos líderes políticos?
Colocamos estas questões ao sociólogo guineense Diamantino Lopes, que aponta uma crescente desconfiança nos atores políticos como a principal causa da inércia. Este académico vê apenas uma saída para a crise política que se arrasta na Guiné-Bissau: um diálogo franco que envolva não apenas o Chefe de Estado, Umaro Sissoco Embaló, e outros atores políticos, mas também representantes religiosos e académicos.
DW África: A oposição guineense falhou?
Diamantino Lopes (DL): Primeiro, há uma crise de confiança. O povo está muito desconfiado e, no fundo, não acredita nos atores políticos. Pode não ser uma descrença total, mas há uma grande inquietação, pois, ao longo do tempo, houve muitos fracassos políticos, tanto nas alianças como nos governos. Isso deixa muito a desejar. Esse fator leva a uma certa resignação do povo, que acaba por esperar que a solução surja por acaso – o que é impossível.
O segundo fator que contribui para esta situação está relacionado com a estratégia do Governo, que tem adotado uma postura repressiva, impedindo manifestações pacíficas, recorrendo a ameaças e intimidações. Tudo isso causa medo na população, que não vê razões para se sacrificar na tentativa de mudar o rumo do país.
Quer dizer, as pessoas já enfrentam fome, um elevado custo de vida e desemprego, e depois, ao saírem às ruas, ainda correm o risco de serem torturadas sem que haja justiça.
DW África: O Presidente da Guiné-Bissau, que a oposição considera estar fora do mandato presidencial, convocou os partidos da oposição para uma reunião esta quinta-feira (06.03), a fim de buscar soluções para a marcação das eleições. O que devem fazer os partidos da oposição? Devem aceitar o convite do Presidente?
DL: O momento exige diálogo entre todos os atores políticos. É através do diálogo que esta situação será resolvida.
Não se pode esperar que outra pessoa tome essa decisão senão quem está no poder. Quem detém o poder, de fato, é o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló. Apesar de o seu mandato ter terminado a 27 de fevereiro, ele continua no cargo. Portanto, é a figura que deve tomar a iniciativa para resolver o problema.
Na minha opinião, para minimizar esta situação, os partidos políticos devem reunir-se com ele e, conjuntamente, encontrar uma saída para este impasse político. De costas voltadas, será impossível [avançar], pois, até então, o poder real está nas mãos do Presidente da República. As Forças de Defesa e Segurança o que se percebe é que estão com o Presidente da República.
Fala-se que o povo é soberano e pode tomar outras decisões, mas, não há uma mobilização eficiente e eficaz para mudar o rumo dos acontecimentos. Assim, a saída aqui tem de ser política.
É lógico que juridicamente, todos os prazos possíveis já foram vencidos. Soluções jurídicas não há. Solução constitucional também para isso não temos.
Tem de ser uma solução política, baseada num diálogo franco entre os atores políticos, envolvendo ainda a comunidade religiosa, a sociedade civil e os setores profissionais, para que, juntos, possam encontrar um caminho para resolver esta crise.
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