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A crise política em Portugal me faz lembrar imediatamente do Brasil. Quantas vezes ouvi ou reportei notícias que falavam sobre a necessidade de atrair investimentos estrangeiros versus instabilidade política e denúncias de corrupção. Até que ponto essas crises afastam os investidores e, consequentemente, a injeção de capital na economia para que o país possa crescer?
Um dos grandes desafios de Portugal atualmente é “reter” os jovens portugueses, que buscam oportunidades de empregos em outros países, onde encontram ofertas de trabalho com salários mais altos. Desafio que pode ficar mais difícil diante de um quadro político que volta e meia exige novas eleições às pressas. Será a terceira vez que os portugueses vão às urnas em menos de quatro anos.
Infelizmente, tenho visto algumas semelhanças entre os políticos portugueses e os do Brasil, isso, se levar em conta as notícias do cenário político nos últimos anos: suspeitas de uso do cargo para favorecimento próprio, de superfaturamentos, buscas policiais…
Lembro de ter ouvido de um motorista português durante uma corrida de aplicativo: “Portugal só não é mais corrupto, porque está dentro da União Europeia e precisa prestar certas contas”. Prefiro acreditar em uma boa dose de exagero no comentário dele. Uma possível revolta alimentada por decisões políticas que nem sempre privilegiam o bem-estar e a qualidade de vida dos cidadãos.
Mas o fato é que em Portugal, com regime semipresidencialista, o Presidente da República, que exerce a função de chefe de Estado, mas não a de Governo, dissolve o parlamento e convoca novas eleições. No Brasil, o processo é infinitamente mais longo e complicado. O Presidente, que é chefe de Estado e de Governo, não tem esse poder, e um processo de impeachment tem que passar primeiro pela Câmara dos Deputados e, depois, ser julgado pelo Senado.
Em ambos os regimes, é preciso base de apoio para governar, seja na Assembleia da República ou no Congresso. E, em ambos os países, acho que a crise seja mais dos políticos do que da política em si.
Vivo em Portugal há quase quatro anos. Gosto do país, da tranquilidade que me proporciona, e gosto da convivência com os portugueses, apesar das diferenças culturais. Meu filho adolescente já usa naturalmente expressões portuguesas, e, hoje, conhece mais da história de Portugal do que do próprio país, algo que pretendo corrigir no futuro, para que ele não perca as referências de onde nasceu. Mas os laços afetivos provenientes das descobertas da adolescência estão aqui, e é normal que Portugal ocupe um espaço cada vez maior no coração dele e no meu.
Então, que venham novas eleições, que isso não atrapalhe o andamento e a arrumação da casa, e que Portugal encontre seu caminho neste momento tão delicado do mundo, que promete grandes desafios num futuro próximo.
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