Os músicos cabo-verdianos Ferro Gaita, que atuaram em Sines, no Festival Músicas do Mundo, esta madrugada, recusam o título de “embaixadores do funaná”, mas reconhecem que apostaram no ritmo “genuíno” quando este “estava quase a morrer”.
Quando o grupo foi criado, em 1996, o funaná tinha sido tomado por sintetizadores e outros apetrechos tecnológicos, a que os Ferro Gaita responderam com um regresso à base.
“Na altura, os grupos mais velhos, Bulimundo, Finaçon, Os Tubarões, já não existiam, já tinham desaparecido, então o funaná estava quase a morrer”, recorda Bino Branco, em entrevista à agência Lusa, no final do último concerto de quinta-feira, que terminou pelas cinco da manhã, depois de pôr uma vasta plateia a dançar, no palco montado na avenida marginal junto à Praia Vasco da Gama, em Sines.
O segredo do funaná é somente ferro e gaita. “Pegámos no instrumento básico e só introduzimos viola, baixo e uma bateria”, simplifica o músico, acreditando que tocam o “funaná mais genuíno que existe em Cabo Verde”.
A banda – cujo primeiro álbum, “Fundu Baxu”, vendeu 40 mil cópias num país que tinha, à altura, pouco mais de 400 mil habitantes – foi responsável por uma espécie de febre de ferro e gaita, que fez disparar em Cabo Verde o número de grupos que passaram a tocar funaná tradicional.
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“Isso é muito bom, ver a música a crescer, [o funaná] deu um pulo mais alto”, congratula-se.
O funaná não tem idade, assinala Bino, convicto de que as novas gerações recebem “com amor e carinho” o funaná e que “assim a tradição não vai morrer”.
Os Ferro Gaita agradecem a deferência, mas recusam o título de “embaixadores do funaná” – partilhando o pódio das instituições da música cabo-verdiana com Cesária Évora e Tito Paris.
Ao ouvir as palavras “embaixadores do funaná”, Bino tapa até a cara com as mãos, meio sem jeito: “Fizemos o nosso trabalho, estamos a fazer o nosso trabalho.”
Mas agradece, sobretudo aos cabo-verdianos – dentro e fora do arquipélago – e congratula-se, “um bocadinho” emocionado, com o percurso da banda que cumpriu 28 anos de música há dias, celebrados em palco no Festival Músicas do Mundo.
É conhecida a promessa dos Ferro Gaita em continuar a tocar até fazerem 50 anos: “É sempre a subir, com a mesma linha, não vamos parar nunca, a velhice não conta.”
Vestidos de uniformes com as cores do Partido Africano da Independência de Cabo Verde – PAICV (amarelo, vermelho e verde), alguns dos elementos dos Ferro Gaita pertenceram, quando crianças, à Organização dos Pioneiros Abel Djassi e à Juventude Africana Amílcar Cabral.
“Andamos a carregar a nossa bandeira, porque temos de defender a nossa pátria, temos de defender Cabo Verde com unhas e dentes, o nosso país é uma mãe querida”, compara Bino, assegurando que não deixará morrer a memória da luta pela libertação.
O funaná foi perseguido, marginalizado e mesmo proibido no tempo da ditadura colonial portuguesa.
Porém, os cabo-verdianos continuaram a tocá-lo e nunca saiu da tradição: “Os cabo-verdianos são teimosos [solta uma gargalhada]. Nós somos orgulhosos disso mesmo.”
Hoje, Bino Branco vê “um Cabo Verde melhor”, que se desenvolveu, que “está no bom caminho”.
Confia nos “mais grandes” que lideram o país e acha que eles hão de saber o que há a melhorar, sabendo, desde já, que não têm uma varinha mágica que resolva o principal problema do país, que “é sempre a falta de chuva”.
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