O que é mal da montanha, que matou brasileiro de 37 anos no Peru?

Especialistas explicam como condição afeta o corpo causando falta de oxigênio devido a grandes altitudes




Clederson Marques, 37, foi encontrado caído e sem sinais vitais

Foto: Reprodução/Redes Sociais

O professor de matemática Clederson Marques, 37, morreu na última sexta-feira (12) após sofrer um mal súbito em uma viagem de trem entre Machu Picchu e Ollantaytambo, no Peru. Ele estava em Cusco, que fica a 3.400 metros acima do nível do mar e a suspeita é de que tenha passado mal com a altitude do local. 

De acordo com informações da agência peruana de notícias Andina, as autoridades teriam sido informadas de que Clederson sofria dos efeitos da altitude desde o dia 11 de julho. Testemunhas relataram que o brasileiro teria tido convulsões e desmaiado antes de ir a óbito. Um clínico geral diagnosticou a morte por parada cardíaca.

Mal da Montanha

A condição que causa falta de oxigênio devido a grandes altitudes é conhecida como o “mal da montanha”. Em entrevista ao Terra Você, a médica pneumologista da Saúde no Lar, Michelle Andreata, e o médico neurocirurgião membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, Felipe Mendes, explicam a condição. 

A pneumologista conta que a altitude elevada reduz a pressão parcial de oxigênio no ar inspirado, resultando em hipóxia. Essa condição desencadeia uma série de respostas fisiológicas, como hiperventilação, aumento da frequência cardíaca e vasoconstrição pulmonar. 

“Essas respostas visam melhorar a oxigenação tecidual, mas podem levar ao desenvolvimento do mal da montanha, que inclui quadros como o Edema Pulmonar de Alta Altitude (EPAA) e o Edema Cerebral de Alta Altitude (ECAA)”, explica Andreata.

Os sintomas respiratórios do “mal da montanha” incluem dispneia, tosse seca, e, em casos graves, produção de escarro espumoso e rosado, indicando EPAA. Outros sintomas gerais incluem cefaléia, náusea, fadiga e insônia. 

O tratamento envolve descer imediatamente a uma altitude menor, administrar oxigênio suplementar e, em alguns casos, usar medicamentos como diuréticos, broncodilatadores e corticoides para aliviar os sintomas e prevenir a progressão da doença.

Os critérios para avaliação de risco de um paciente desenvolver complicações pulmonares graves devido ao “mal da montanha” incluem presença de condições pulmonares crônicas, como asma ou DPOC, capacidade de exercício reduzida e avaliação da função pulmonar. 

“Pacientes com saturação de oxigênio em repouso inferior a 90% em altitudes moderadas (2000-3000 metros) ou aqueles que apresentam uma resposta inadequada ao teste de hipóxia simulada devem ser considerados em risco elevado”, destaca a profissional.

O neurocirurgião Felipe Mendes conta que o “mal da montanha” pode apresentar diversos sintomas neurológicos, como dores de cabeça intensas, tontura, náuseas, vômitos, fadiga, insônia e até dificuldade de coordenação. 

“Em casos mais graves, pode ocorrer um inchaço cerebral, levando a sintomas mais preocupantes como confusão mental, alteração do nível de consciência e, eventualmente, coma”, diz o especialista. 

As complicações neurológicas mais graves do “mal da montanha” incluem: Edema Cerebral de Grande Altitude (HACE) e o Acidente Vascular Cerebral (AVC). 

O HACE é uma emergência médica caracterizada por ataxia, alteração do estado mental e coma. O tratamento envolve a imediata descida para altitudes mais baixas e a  administração de oxigênio na máxima concentração possível. 

O médico conta que existem algumas condições que podem aumentar o risco de desenvolvimento do quadro. Além de problemas sistêmicos como anemia, doenças cardíacas e pulmonares, quem tem enxaqueca também tem mais chance de desenvolver o mal da montanha. 

“Em pessoas já epilépticas, pode haver uma redução do limiar convulsivo, aumentando a possibilidade de crises convulsivas”, completa. 

Para reduzir o risco de desenvolvimento do mal da montanha em expedições de alta altitude, é essencial seguir algumas medidas preventivas, como fazer a aclimatação gradual, que consiste em subir lentamente, permitindo que o corpo se ajuste à altitude, além de manter uma hidratação adequada. 

Em indivíduos de alto risco, pode ser avaliada a necessidade de utilização de medicamentos profiláticos, conforme orientação médica. Os especialistas reforçam que álcool e outros sedativos são substâncias que podem agravar os sintomas de hipóxia e por isso devem ser evitados.


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