O papel de Portugal e da Europa num novo contexto global – Sustentabilidade

Foto em cima: Paul Polman finalizou a sua intervenção com um apelo à ação, defendendo que o custo de nada fazer já é superior ao custo de agir.

Durante dois dias, a Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20|30 reuniu decisores políticos, líderes empresariais, académicos e especialistas na Nova BSE, em Lisboa, para discutir os principais desafios e oportunidades na construção de uma Europa mais competitiva e sustentável.

A conferência subordinada ao tema “Construir uma Europa competitiva em tempos de desordem global” destacou o papel da governação, das universidades, da política industrial e do financiamento da inovação no reforço da competitividade europeia.

Debateram-se temas como a compatibilidade entre transição energética e crescimento económico, a urgência da reindustrialização verde, a aceleração da economia circular e a defesa do capital natural. Foram igualmente abordadas questões como imigração, diversidade, inteligência artificial e o equilíbrio entre sustentabilidade, Estado Social e defesa. Segue um resumo da Grande Conferência final Negócios Sustentabilidade 20|30.

Paul Polman: “Este é o maior teste à credibilidade das lideranças”

O antigo CEO da Unilever e ativista pela sustentabilidade foi o keynote da Grande Conferência Negócios Sustentabilidade 20|30, onde alertou para a conjugação de múltiplas crises globais que estão a pôr à prova as lideranças empresariais. Defendeu que o mundo atravessa um período de disrupção comparável apenas ao dos anos 1930. Referiu-se ao atual contexto como uma “polycrisis”, resultado da sobreposição de crises económicas, sociais e ambientais, e criticou o que considera ser um vazio de liderança num momento decisivo.

Na sua opinião, muitas empresas estão a regressar a uma lógica de curto prazo, perdendo o foco estratégico, precisamente quando seria mais necessário reforçar o compromisso com a sustentabilidade.

Paul Polman alertou ainda para o crescimento do populismo, alimentado pela desconfiança nos governos e pelo agravamento das desigualdades económicas. Sublinhou que a riqueza está cada vez mais concentrada e que este desequilíbrio ameaça a estabilidade global.

Recordando a sua experiência na Unilever, realçou que os impactos das alterações climáticas já se fazem sentir de forma concreta e custosa para as empresas. Estima-se que, nas últimas duas décadas, os fenómenos extremos tenham gerado prejuízos superiores a três biliões de dólares. Acrescentou que seis dos nove limites planetários definidos pela ciência já foram ultrapassados.

Apesar dos desafios, acredita que a maioria das empresas continua empenhada em avançar, nomeadamente através do investimento em energias renováveis. Citando dados do Financial Times, garantiu que não se verifica um recuo generalizado, ao contrário do que alguns defendem. Ainda assim, criticou o que descreveu como um “silêncio preocupante” por parte de várias organizações, sobretudo nos Estados Unidos, face ao aumento da pressão sobre os critérios ESG (Environmental, Social e Governance). Afirmou que não se trata do fim da sustentabilidade empresarial, mas sim de um teste à credibilidade das lideranças.

| O poder político e a independência das universidades e das políticas na era Trump

Helena Garrido, jornalista e curadora do Negócios Sustentabilidade 20|30, moderou o debate com Filipe Santos e Pedro Oliveira.

Os “deans” Filipe Santos, da Católica-Lisbon Business & Economics, e Pedro Oliveira da Nova School of Business and Economics, debateram os impactos das políticas da administração Trump sobre o ensino superior, destacando que já se fazem sentir em Portugal. Ambos criticaram os cortes de financiamento nos EUA como forma de repressão ideológica e alertaram para os riscos de ingerência política no mundo académico. Filipe Santos apontou que o excesso de dogmatismo em temas sensíveis nas universidades americanas gerou uma reação igualmente ideológica. Já Pedro Oliveira sublinhou que parcerias com instituições americanas, como Stanford, estão a ser comprometidas, afetando diretamente projetos como o novo Instituto de Sustentabilidade da Nova SBE. Os dois alertaram para um clima de medo entre académicos nos EUA e receiam que esse modelo inspire pressões semelhantes na Europa.

| Olhar o passado, pensar o futuro de uma Europa mais industrial – da governação aos empresários

Hugo Neutel, jornalista do Negócios, moderou o debate com Carlos Tavares, Manuel Caldeira Cabral, e Luís Marçal.

Os ex-ministros da Economia Carlos Tavares e Manuel Caldeira Cabral defenderam a urgência da reindustrialização da Europa, com foco particular em Portugal. Carlos Tavares alertou para o baixo peso da indústria transformadora na economia nacional e criticou a existência de políticas contraditórias que penalizam o crescimento empresarial, destacando o défice de produtividade como um entrave à convergência com a média europeia. Já Caldeira Cabral defendeu que Portugal pode destacar-se pela diferenciação e pelos serviços associados à indústria, reforçando que a sustentabilidade pode ser um fator competitivo. Luís Marçal, diretor de Sustentabilidade da Siemens Portugal, sublinhou a importância da energia para a indústria, salientando que o país atrai investimentos eletrointensivos graças às renováveis, mas que é necessário garantir infraestrutura e tecnologia adequadas. O painel concluiu que a reindustrialização exige alinhamento entre governos, empresas e políticas públicas.

| A reindustrialização verde. Como concorrer num mundo em que nem todos mudam

Bárbara Silva, jornalista do Negócios, moderou o debate com Duarte Cordeiro, José Eduardo Martins, Luís Delgado, Otmar Hübscher, e Pedro Vasconcelos.

O painel sobre reindustrialização verde destacou os desafios e oportunidades do setor energético, com foco no recente apagão. Pedro Vasconcelos, CEO da EDP Ibéria, elogiou a rápida resposta técnica ao incidente e sublinhou a importância das renováveis, que evitaram custos energéticos muito mais altos. Sublinhou, no entanto, a necessidade de melhorar a eficiência operacional da rede, sem pôr em causa o modelo energético ibérico. Duarte Cordeiro, ex-ministro do Ambiente e sócio da Shiftify, defendeu que Portugal tem condições para atrair grandes projetos industriais verdes, como os de Sines, faltando apenas garantir competitividade no preço final da energia. Mais crítico, José Eduardo Martins, sócio da Abreu Advogados, apontou o desinvestimento na rede e a falta de capital como entraves ao progresso. Luís Delgado, administrador executivo da Bondalti, e Otmar Hübscher, CEO da Secil, revelaram os impactos industriais do apagão, salientando os desafios do reinício da produção e a aposta crescente na autonomia energética.

| A transição energética, aliada ou adversária da competitividade?

Bárbara Silva, jornalista do Negócios, moderou o debate com Gabriel Sousa, Joana Portugal Pereira, e Sandro Conceição.

No debate sobre transição energética, Sandro Conceição, diretor de Co-Processamento e Energia da Cimpor, destacou um investimento de 350 milhões de euros em projetos de descarbonização, que também visam aumentar a independência energética da empresa. Após o apagão, a Cimpor acelerou a mudança da sua matriz energética, procurando desenvolver soluções internas para reduzir a dependência da rede elétrica. Gabriel Sousa, CEO da Floene, apontou o forte potencial de Portugal na produção de hidrogénio verde, sublinhando que o país possui a rede de gás mais moderna da Europa, com 95% em polietileno, material compatível com hidrogénio. A empresa já recebeu mais de 230 pedidos de ligação à rede para hidrogénio verde e biometano. Por fim, Joana Portugal Pereira, investigadora e professora universitária, alertou para a urgência da transição, afirmando que o custo da inação supera largamente o da ação, tanto para empresas como para o setor público.

| Como acelerar a gestão de resíduos e a economia circular?

Diana do Mar, jornalista do Negócios, moderou o debate com Ana Trigo Morais, Emídio Pinheiro, Filipa Pantaleão, e Hernâni Magalhães.

Todos os participantes alertaram para a gravidade da situação em Portugal. Ana Trigo Morais, CEO da Sociedade Ponto Verde, destacou o esgotamento iminente dos aterros como um sinal de alarme que exige ação urgente, lamentando a inércia de anos e os custos elevados dessa omissão. Emídio Pinheiro, CEO da EGF, classificou o cenário como uma “catástrofe social e ambiental” e criticou a falta de alternativas, pedindo mais valorização energética e cooperação entre sistemas municipais. Filipa Pantaleão, secretária-geral do BCSD Portugal, apontou a ausência de responsabilização, inclusive do Estado, e alertou que a transição para a economia circular não se faz por decreto. Já Hernâni Magalhães, CEO da Silvex, destacou o obstáculo do custo das matérias-primas recicladas, defendendo a atualização das regras do setor. O consenso foi claro: é preciso mudar com urgência.

| Como defender o capital natural sem ameaçar a competitividade

Hugo Neutel, jornalista do Negócios, moderou o debate com Humberto Delgado Rosa, Nuno Pinto, Paula Amaral e Rita Nabeiro.

Em discussão estiveram estratégias que conciliam a defesa do capital natural com a manutenção da competitividade. Humberto Delgado Rosa, diretor para o Capital Natural da DG Ambiente da Comissão Europeia, destacou que a Europa mantém o rumo do Pacto Ecológico, defendendo uma simplificação das regras que preserve a ambição climática. Rita Nabeiro, administradora do Grupo Nabeiro, sublinhou a necessidade de uma mudança estrutural na agricultura, com investimento a longo prazo e aposta em práticas regenerativas. Nuno Pinto, diretor de Sustentabilidade da Unimadeiras, reforçou o valor económico e ambiental da floresta, apelando a uma visão mais atrativa do setor. Paula Amaral, diretora de Sustentabilidade da Bel Portugal, partilhou a experiência de duas décadas da empresa em práticas sustentáveis, defendendo a agricultura regenerativa como caminho de futuro. O painel concluiu que é possível aliar sustentabilidade e competitividade, desde que haja visão estratégica, coragem para inovar e compromisso duradouro.

| Imigração, porque é desafiante e importante

Helena Garrido moderou o debate com Adalberto Campos Fernandes, Pedro Góis, Pedro Portugal Gaspar, e Verónica Soares Franco.

Os desafios e as oportunidades da imigração é um dos temas que marca a atualidade nacional. Pedro Góis, investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, defendeu o fim da manifestação de interesse como uma medida necessária, mas alertou para a falta de bom senso nas políticas migratórias. Adalberto Campos Fernandes, professor na ENSP Nova, sublinhou a importância de respeitar o Estado de Direito e de garantir o acesso equitativo aos serviços públicos, nomeadamente ao SNS, onde a presença de imigrantes é cada vez mais expressiva. Verónica Soares Franco, administradora executiva do Grupo Pestana, destacou o papel das empresas na integração, oferecendo formação, alojamento e apoio legal aos trabalhadores estrangeiros. O presidente da AIMA, Pedro Portugal Gaspar, realçou os primeiros passos do pacto para a migração regular, enquanto Campos Fernandes apelou à estabilidade política e à seriedade no tratamento do tema. Góis reforçou ainda a necessidade de reter talento imigrante através da valorização da educação.

| A importância do capital humano e a DEI. Como atrair talento?

A jornalista Helena Garrido moderou o debate com Gonçalo Nascimento, Graça Fonseca, João Pinto, e Mariana Silva.

O debate reuniu vozes da academia e do setor empresarial em torno de um consenso. O DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) é essencial para a sustentabilidade e a atração de talento. João Pinto, dean da Católica Porto Business School, destacou que as novas gerações valorizam práticas inclusivas e que instituições, académicas ou não, enfrentam o mesmo desafio, atrair e reter talento. Gonçalo Nascimento, country coordinator da L’Oréal Portugal, reforçou que a diversidade é parte do ADN da empresa, sendo decisiva para o sucesso na captação de jovens talentos. Mariana Silva, diretora de Sustentabilidade da MC Sonae, partilhou resultados concretos, como a superação da meta de 40% de mulheres em cargos de liderança. Já Graça Fonseca, professora na Nova SBE, alertou para sinais de retrocesso vindos de líderes globais, salientando o impacto das políticas internacionais nas práticas locais. Apesar das diferentes perspetivas, prevaleceu a ideia de que a DEI não é apenas uma escolha ética, mas uma necessidade estratégica para quem quer criar valor sustentável.

| Qualidade de vida e competitividade. Cidades mais amigas das pessoas e das empresas

Diana do Mar, jornalista do Negócios, moderou o debate com Inês de Medeiros, Nuno Fideles , e Susana Castelo.

A presidente da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros, defendeu a urgência de uma nova travessia sobre o Tejo, sublinhando que a atual oferta não responde às necessidades da população. Destacou a importância de uma ligação entre Algés e Trafaria, que inclua transporte público e permita uma circulação fluida. A ligação Chelas-Barreiro, lembra, foi pensada para transporte pesado e não serve os centros urbanos. Para Inês Medeiros, é preciso planear com racionalidade e abandonar o “dramatismo português” que atrasa decisões. Nuno Fideles, diretor de Sustentabilidade da Savills, reforçou a necessidade de planeamento conjunto entre municípios, com estratégias de longo prazo, imunes a ciclos políticos. Susana Castelo, CEO da TIS, alertou para a dependência excessiva de fundos europeus e apelou a uma visão estratégica duradoura. A autarca de Almada concluiu que só com uma rede de transportes públicos eficaz e pontual se mudam hábitos da população.

| Um financiamento amigo da inovação e da competitividade

Diana Ramos, diretora do Negócios, moderou o debate entre Carlos Freire, Cristina Casalinho, Pedro Leitão, e Miguel Maya.

No debate, os participantes destacaram que o problema do financiamento empresarial em Portugal não está na falta de crédito, mas sim na escassez de projetos sólidos. Miguel Maya, CEO do BCP, afirmou que os bancos estão dispostos a conceder crédito, mas com rigor e responsabilidade, garantindo uma elevada probabilidade de reembolso. A visão é partilhada por Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio, que reforçou que os bancos continuam disponíveis para financiar empresas sólidas, embora dentro de limites prudenciais. No entanto, startups e scale-ups enfrentam grandes dificuldades, dado o seu risco elevado e fraca capacidade de gerar garantias. Cristina Casalinho, da Fundação Calouste Gulbenkian, sublinhou que este tipo de financiamento cabe a atores especializados, como fundos de capital de risco, praticamente inexistentes em Portugal. Defendeu a criação e desenvolvimento destes agentes, bem como a necessidade de um ecossistema de parcerias entre fundações, universidades e empresas para apoiar o crescimento de negócios inovadores.

| A Inteligência Artificial numa Europa mais inteligente?

Paulo Moutinho, jornalista do Negócios, moderou o debate com Carlos Oliveira, Nuno Saramago, Paulo Dimas, Luísa Ribeiro Lopes, e Vanda de Jesus.

Os cinco especialistas refletiram sobre o papel da Europa e de Portugal na corrida global da IA, destacando tanto oportunidades como desafios. Vanda de Jesus, co-CEO, Doutor Finanças, defendeu que a IA generativa representa uma transformação comparável à da internet, com impacto direto na produtividade. No entanto, o investimento europeu está longe de competir com os valores dos EUA ou da China. Ainda assim, a Europa é rica em talento, apontou Paulo Dimas, vice-presidente da Unbabel, embora falhe em converter esse potencial em produtos e empresas escaláveis. Nuno Saramago, CEO da SAP Portugal, destacou a abordagem ética e colaborativa europeia e a importância da velocidade na adoção da tecnologia. Luísa Ribeiro Lopes, presidente do .pt, alertou para a dependência tecnológica da Europa em relação aos EUA, sobretudo no que toca à gestão de dados. Carlos Oliveira, presidente do CNCTI, reforçou a urgência em criar novos modelos de negócio e gerar valor económico.

| Local, nacional e global. Como criar regras amigas da competitividade numa era de desordem

Paulo Moutinho, jornalista do Negócios, moderou o debate entre Cecília Meireles, Inês dos Santos Costa, e Nuno Piteira Lopes.

O painel destacou que, mais do que o excesso de regulação ou a carga fiscal, é o desalinhamento das políticas públicas e a burocracia que minam a competitividade das empresas. Cecília Meireles, secretária-geral da ATIC, alertou para a dificuldade de cumprir regras por falta de instrumentos jurídicos e de coordenação entre entidades públicas, citando a descarbonização da indústria do cimento como exemplo. Inês dos Santos Costa, partner da Deloitte, reforçou que a falta de conhecimento técnico e a desconexão entre reguladores e empresas aumentam os custos e geram ineficiência. Nuno Piteira Lopes, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, ilustrou como a sobreposição de pareceres de entidades distintas atrasa processos, transfere responsabilidades e prejudica tanto empresas como cidadãos. O consenso foi claro: a complexidade do sistema regulatório, mais do que a sua existência, impõe obstáculos significativos ao progresso e à sustentabilidade.

| Os desafios europeus na nova (des)ordem. Competitividade, Estado Social e Defesa

Helena Garrido moderou o debate com Armindo Monteiro, Germano Almeida, José Filipe Arnaut Moreira, e Noémia Goulart.

O principal tema em debate foi a crescente pressão para que a Europa aumente o investimento em defesa, impulsionada pela guerra na Ucrânia e pela instabilidade política nos EUA. Noémia Goulart, vogal não executiva do Conselho de Finanças Públicas, alertou para o impacto orçamental desta mudança, defendendo uma gestão mais eficiente da despesa pública para acomodar o esforço militar sem comprometer o Estado Social. Ainda assim, admitiu que será difícil manter os atuais níveis de investimento social. Armindo Monteiro, presidente da CIP, destacou a fragilidade económica e política de Portugal, criticando a falta de visão estratégica e o foco no imediatismo. Já Germano Almeida, comentador, questionou a resiliência das democracias europeias face ao avanço de regimes autoritários e ao regresso de Trump. O major general Arnaut Moreira alertou para a ameaça crescente da Rússia, defendendo que a Europa deve travá-la na Ucrânia para evitar um conflito mais alargado nos países bálticos.

| Supervisão comportamental no centro da estabilidade financeira

Francisca Guedes de Oliveira apresentou a visão do papel da supervisão na promoção de um sistema financeiro mais transparente, resiliente e centrado no consumidor.

Francisca Guedes de Oliveira, administradora do Banco de Portugal, destacou a importância da supervisão comportamental como ferramenta estratégica para garantir a estabilidade e competitividade do sistema financeiro europeu, numa intervenção durante a conferência “Construir uma Europa competitiva em tempos de desordem global”, promovida pelo Negócios.
A responsável do Banco de Portugal sublinhou que a Europa enfrenta uma combinação rara de crises e transformações estruturais que exigem respostas integradas e ambiciosas. Para a administradora, a competitividade europeia depende de mercados dinâmicos e equilibrados, onde o sistema bancário tem um papel crucial ao promover crescimento sustentável, proteger os clientes e assegurar a inclusão financeira.
Citando Christine Lagarde, Francisca Guedes de Oliveira recordou que a competitividade da Europa será medida não apenas pela sua capacidade industrial ou tecnológica, mas pela coerência entre os seus valores e as suas políticas públicas. É neste contexto que enquadrou o trabalho do Banco de Portugal, que desde 2009 tem vindo a reforçar a supervisão comportamental, com o objetivo de promover transparência e confiança na relação entre instituições financeiras e clientes. A transição digital foi apontada como um dos principais eixos transformadores do setor financeiro. Apesar das oportunidades que representa, levanta também riscos éticos e operacionais. A responsável questionou como assegurar que os consumidores compreendem os produtos que contratam e que proteção têm ao interagir com canais automatizados.
Alertou para o risco de exclusão digital de populações mais vulneráveis, destacando que a regulação deve ser ambiciosa, mas flexível. No eixo da sustentabilidade, o Banco de Portugal tem integrado preocupações ambientais, sociais e de governação na sua estratégia. Tem vindo a acompanhar a evolução dos produtos financeiros verdes, promovendo a integridade das alegações ambientais e combatendo o greenwashing. Destacou a distinção recente na categoria das Taxas Máximas entre crédito para energias renováveis e crédito para eficiência energética. Francisca Guedes de Oliveira concluiu apelando ao reforço do diálogo entre academia, reguladores, setor financeiro e sociedade civil. Sublinhou que o atual contexto de desordem global deve ser aproveitado como uma oportunidade para a renovação europeia, assente na solidariedade, inovação sustentável e liderança baseada em valores democráticos.


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