Novo filme de Margarida Cardoso, “Banzo”, relata violência do passado colonial nas roças de São Tomé e Príncipe




“Banzo”, filme de Margarida Cardoso

O filme “Banzo”, de Margarida Cardoso, integra a competição nacional do festival IndieLisboa, com duas sessões agendadas para a Culturgest: a 28 de Maio, pelas 21h30, no Auditório Emílio Rui Vilar; e a 30 de Maio, às 15h45, no Pequeno Auditório.

A acção do filme, rodado entre São Tomé e Príncipe e Portugal, situa-se no começo do século XX. Acompanhamos Afonso, que recomeça a vida numa ilha tropical na costa africana como médico de uma plantação de cacau, onde terá de curar um grupo de serviçais “infectados” pelo Banzo, a nostalgia dos escravizados. Morrem às dezenas, de inanição ou suicidando-se. Por receio que a nostalgia profunda se espalhe, o grupo é enviado para um morro isolado, chuvoso, cercado pela floresta. Ali, Afonso tenta curar os serviçais mas a incapacidade de entender o que lhes vai na alma revela-se mais forte que todas soluções.

Margarida Cardoso / DR

Os elementos para a narrativa de “Banzo” começaram a aparecer durante a pesquisa e as filmagens de “Understory” (2019), ensaio pessoal de Margarida Cardoso sobre o cacau e todas as suas ramificações culturais e económicas, também apresentado no IndieLisboa. “Tive oportunidade de passar alguns meses na ilha do Príncipe, vivendo em contacto com muitas pessoas diferentes e conhecendo bem a geografia através das viagens e caminhadas que tinha de fazer durante o trabalho. As extravagantes ruínas das roças são uma constante na paisagem da ilha. Há algo de estranhamente fantasmagórico naquelas estruturas, não só pelo lado mais evidente da decadência, mas porque tudo parece estar paralisado no tempo, como se as pessoas que hoje habitam essas ruínas estivessem ali há quase tanto tempo quanto os decrépitos edifícios. Parecem presas num limbo histórico à espera que o violento e absurdo passado se funda lentamente com a natureza até se dissipar”, diz a realizadora. 

Regressada a Lisboa, a cineasta decidiu mergulhar nos arquivos das roças. “Li todo o tipo de documentos: correspondências internas e externas, pessoais e comerciais, gráficos, relatórios dos Curadores dos Serviçais, boletins oficiais da colónia, vi filmes de arquivo e centenas de fotografias (…). Quanto mais me embrenhava na revisitação do passado, mais se tornava evidente que o que ali se passou, num tempo que nos parece tão distante é, no fundo, uma ‘história contemporânea’.”

Assim começou a desenhar-se “Banzo”, terceira longa-metragem de ficção de Margarida Cardoso. O filme conta no elenco com Carloto Cotta, Hoji Fortuna, Rúben Simões, Gonçalo Waddington, Sara Carinhas, João Pedro Bénard, Maria do Céu Ribeiro, Matamba Joaquim, Romeu Runa e Cirila Bossuet. Tem a participação especial de Beatriz Batarda e Albano Jerónimo.

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