No Brasil, uma das maiores minas da América do Sul, revelou a primeira fonte kimberlítica de diamantes do continente e já faturou mais de US$ 200 milhões
Conheça a história do kimberlito Braúna, a inovadora operação da Lipari Mining na Bahia e como esta se estabeleceu como uma das maiores minas da América do Sul, enfrentando desafios e redefinindo a extração de diamantes.
Abordaremos o pioneirismo da mina, a trajetória da Lipari Mining, suas inovações ambientais, os impactos socioeconômicos e os desafios que a posicionam como uma das maiores minas da América do Sul.
No coração da Bahia, a descoberta do kimberlito Braúna descortinou um novo e significativo capítulo na mineração de diamantes do continente. Este depósito primário deu origem à Mina Braúna, operada pela Lipari Mining Ltd., um empreendimento que se destaca por sua escala e tecnologia.
Kimberlito Braúna: um marco na mineração de diamantes da Bahia
A descoberta do kimberlito Braúna, no município de Nordestina, Bahia, representa um ponto de inflexão para a indústria diamantífera. Este projeto é pioneiro, sendo a primeira mina de diamantes em rocha kimberlítica primária desenvolvida comercialmente em toda a América do Sul. Isso marca uma transição importante, já que a produção sul-americana historicamente dependeu de fontes aluviais.
Os kimberlitos de Braúna, datados do Neoproterozoico (aproximadamente 642 milhões de anos), são a fonte primária de diamantes mais antiga conhecida no Cráton do São Francisco. Os diamantes extraídos são descritos como de alta qualidade, associados ao Greenstone Belt Itapicuru.
Lipari Mining: a evolução da empresa por trás da Mina Braúna

A Lipari Mining Ltd. é a operadora da Mina Braúna. As raízes do controle do ativo Braúna remontam a 2005, quando o grupo gestor atual adquiriu os kimberlitos sob a bandeira da Vaaldiam Resources Ltd., uma produtora de diamantes canadense. Posteriormente, formou-se a Lipari Mineração Ltda., uma entidade privada que desenvolveu e construiu a mina. Em fevereiro de 2025, após uma transação de aquisição reversa (RTO) com a Golden Share Resource Corporation, a empresa passou a se chamar Lipari Mining Ltd., tornando-se de capital aberto e listada na Cboe Canada (LML) e na Bolsa de Frankfurt.
O portfólio da Lipari Mining inclui também o promissor projeto diamantífero de Tchitengo, em Angola, que é visto como o principal vetor de crescimento futuro da companhia.
Uma das maiores minas da América do Sul em operação: tecnologia, produção e o futuro subterrâneo
A produção comercial na Mina Braúna iniciou-se em julho de 2016, com lavra a céu aberto no depósito Braúna 3. Um dos destaques da operação é sua tecnologia ambiental inovadora, pioneira no setor global de diamantes: um sistema de reciclagem que recupera mais de 95% da água de processo, eliminando a necessidade de barragens de rejeitos tradicionais. Os rejeitos desidratados são dispostos em pilhas secas.
Entre 2016 e o final de 2024, a mina produziu mais de 1,18 milhão de quilates de diamantes brutos, com um preço médio histórico de US$ 185 por quilate. A lavra a céu aberto foi concluída em maio de 2023. Em fevereiro de 2024, a empresa iniciou a crucial transição para a mineração subterrânea, utilizando o método de recuo por subníveis (SLR), visando estender a vida útil da mina por pelo menos mais quatro anos.
Braúna no pódio: por que é uma das maiores minas da América do Sul?
A Mina Braúna consolidou-se como uma das maiores minas da América do Sul em termos de produção de uma única operação. Em 2023, por exemplo, ela respondeu por 87% da produção de diamantes naturais do Brasil. Seus volumes anuais estimados (cerca de 140.000 quilates) superam individualmente a produção nacional total reportada por outros países sul-americanos relevantes, como Guiana e Venezuela, em anos recentes.
Sua importância reside também na modernização da produção formal de diamantes no Brasil, que antes dependia majoritariamente de inúmeras pequenas operações aluviais e garimpos.
O legado socioeconômico e os desafios da Mina Braúna
A implantação da Mina Braúna trouxe benefícios socioeconômicos para Nordestina e a Bahia, incluindo a geração de centenas de empregos diretos e o aumento da arrecadação de impostos como a Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) e o ISS. A Lipari também realizou investimentos em infraestrutura local e programas sociais, como apoio a hospitais e projetos educacionais.
Contudo, a mina enfrenta sérios desafios socioambientais. Em janeiro de 2025, o Ministério Público Federal (MPF) ajuizou uma ação civil pública alegando graves danos a 12 comunidades quilombolas da região, principalmente devido à ausência de consulta prévia, livre e informada, conforme exige a Convenção 169 da OIT. O MPF busca a suspensão das operações e uma indenização de R$ 10 milhões por danos morais coletivos. Toda a produção da mina é realizada em conformidade com o Sistema de Certificação do Processo Kimberley (SCPK), que visa prevenir o comércio de diamantes de conflito.
Crescimento, sustentabilidade e responsabilidade
O futuro da Lipari Mining está fortemente ligado ao sucesso do desenvolvimento de seu projeto Tchitengo em Angola. Em paralelo, a otimização da recém-iniciada fase de lavra subterrânea na Mina Braúna é crucial para manter o fluxo de caixa.
A resolução das questões socioambientais e da ação judicial na Bahia é um imperativo para a empresa, fundamental para assegurar sua licença social para operar, a confiança dos investidores e a viabilidade de longo prazo de suas operações no Brasil. O desafio para a Lipari será conciliar suas ambições de crescimento com um compromisso genuíno e demonstrável com as melhores práticas de sustentabilidade e responsabilidade social e de governança (ESG).
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