Mudar para envolver e vincular – As organizações e os jovens em Portugal – Tiago Pereira

“A mensagem principal é dizer aos jovens que vale a pena viver em Portugal (…) Precisamos dos jovens portugueses em Portugal, para termos todos mais futuro”. Estávamos em Maio e foi com estas palavras que Luís Montenegro apresentou e enquadrou as decisões de um Conselho de Ministros voltado para a população mais jovem. Um conjunto de medidas em áreas diversas como a habitação, a fiscalidade, a saúde (com destaque para a saúde mental) ou o alojamento e bolsas de estudo para estudantes. Tudo propostas que, concordando-se mais ou menos, particularmente no detalhe, focam áreas-chave do desafio que se coloca ao nosso (mas não apenas ao nosso) país. Tudo propostas que, creio, serão potencialmente mais eficazes e eficientes se acompanhadas por uma mudança nas organizações, públicas e privadas, no sentido de um maior envolvimento e vinculação da população mais jovem, mudança este que poderia ser impulsionada a partir de estímulos concretos ao reforço dos princípios de equidade, diversidade e inclusão nas organizações.

Se olharmos ao nosso redor podemos ver e perceber. Temos, hoje, em Portugal, uma população jovem, não apenas com mais e mais especializada formação, mas mais diversa, fruto do aumento da mobilidade global e de um certo tipo de migração nos últimos anos. Uma população jovem, empoderada, que prioriza o propósito na vida e no trabalho, que se orienta por valores, pela procura de equilíbrio entre vida profissional e pessoal e pela promoção do bem-estar. Mercê alterações societais, algumas muito influenciadas pelas novas tecnologias, temos também hoje um desfasamento significativo entre gerações e, por vezes, maior dificuldade nos diálogos e na compreensão intergeracional. Temos, por outro lado, uma inversão relevante da pirâmide etária e, por isso, cada vez mais pessoas com maior capacidade e, algumas, com vontade e intenção de trabalhar mais anos e de manter posições de decisão e responsabilidade nas organizações.

Dizia que a população mais jovem prioriza o propósito na vida e no trabalho e o bem-estar. Fá-lo, no presente, mas considerando sempre o futuro e, particularmente, fazendo-o a partir da criação de um caminho, de uma perspectiva. Procura, portanto, previsibilidade e segurança em tempos de incerteza e de maior volatilidade. Procura algum controlo que pode resultar, também, da agência que sente na construção desse caminho e no desejo de ser parte activa e considerada. A população jovem quer, por isso, fazer e ser parte dos processos, da política às instituições da sociedade civil, passando, necessariamente, pelas organizações. Quer, mas, invariavelmente, não consegue. Não acede, não participa de forma abrangente e generalizada.

Neste contexto e com este enquadramento, penso fundamental que as organizações tenham presente referenciais que assumam os valores da equidade, da diversidade e da inclusão como centrais na sua estratégia. Valores capazes de influenciarem a cultura da organização no sentido da maior diversificação das suas pessoas e das pessoas envolvidas nos processos de gestão e tomadas de decisão estratégicas. De influenciar, também, no sentido de serem mais inclusivas na diversidade de experiências e proveniências, incluindo académicas/formativas, de capacidades, de culturas, de géneros, de gostos, de idades. De garantir maior equidade, a partir de oportunidades para todas e todos. Tudo no sentido de que mais pessoas, e mais pessoas mais jovens, sintam espaço de envolvimento, de segurança e de participação nos processos de decisão e condução das organizações, vinculando-se e contribuindo para o seu desenvolvimento, sustentabilidade e futuro. Seu, da sua organização, do país e do Mundo, num quadro de valores e propósito.

Várias organizações têm nos últimos anos assumido este ou referenciais próximos, cuja evidência científica tem demonstrado serem relevantes quer relativamente aos processos internos, quer na melhor resposta das organizações às necessidades das pessoas que servem e da sociedade em que operam. Das melhorias no clima organizacional, na flexibilidade, na inovação e criatividade, ao aumento da segurança psicológica e redução de conflitos, passando, necessariamente, pela maior responsividade às necessidades de clientes e maior capacidade de adaptação a mudanças de contexto e na sociedade, são inúmeros, amplos e significativos os impactos potenciais do reforço destes referenciais e vão muito além do importante papel de responsabilidade social para que concorrem.

“Não apenas é fazermos o que é correcto, é fazermos o que é mais inteligente”, ouvi há anos um CEO referir quando apresentava o referencial Equidade-Diversidade-Inclusão como um dos pilares fundamentais em todas as decisões estratégicas da sua organização. Acrescento, não apenas é fazermos o correcto e mais inteligente nas organizações como, ao fazê-lo, estaremos certamente a contribuir para uma sociedade que vive melhor a sua diversidade, logo mais inclusiva, mais equitativa e com maior possibilidade de bem-estar e de futuro para todas as pessoas, incluindo a sua população mais jovem.

Na verdade, aqui e ali, no Mundo ao redor, os desafios do envolvimento da população mais jovem nas organizações implicarão mudanças, progressivas e participadas, nas próprias organizações. É por isso relevante que programas que visem a vinculação das e dos mais jovens jovem ao país visem medidas junto da população mais jovem, mas, complementarmente, estímulos concretos e decisivos que apontem a um caminho de maior diversidade, equidade e inclusão nas organizações. Um caminho que deve ser desejado e acarinhado pela própria sociedade civil e que pode, positivamente, apoiar a inovação, a transformação, o desenvolvimento e a sustentabilidade das organizações e da sociedade.

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