Diversidade, estrutura genética e a influência das atividades humanas nas espécies são algumas das descobertas de pesquisadores do Laboratório de Biologia e Cultivo de Peixes de Água Doce (Lapad) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em parceria com pescadores artesanais, o grupo de pesquisa vem monitorando os peixes do alto Rio Uruguai há três décadas, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul.
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Espécies ameaçadas de extinção
O projeto também objetiva a manutenção de espécies que estão ameaçadas de extinção ou que possuem potencial para aproveitamento na piscicultura, preservando a diversidade genética desses peixes.
Outro ponto é a criação e a manutenção de um banco de sêmen crioconservado de peixes com populações reduzidas, para formação de um banco genético in vitro.
A piracanjuba é uma dessas espécies ameaçadas, além de ser uma das mais impactadas pelas alterações no entorno do Rio Uruguai e pela pesca desenfreada. Em 2004, foi feita a primeira desova em laboratório da piracanjuba nativa do rio.
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Foi a partir desse ano, também, que o laboratório começou a fazer estocagens experimentais com fins de reprodução. Dessa forma, são coletados reprodutores, feita a carcterização genética, e promovidos cruzamentos controlados.
O projeto é financiado pelo Consórcio Itá e pela Engie Brasil Energia e conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu).
Como é feito o monitoramento
A pesquisa iniciou em 1995, mas os trabalhos ficaram mais intensos a partir do ano 2000. Isso porque a Usina Hidrelétrica Itá, localizada entre os municípios de Itá, no Oeste catarinense, e Aratiba, já no Rio Grande do Sul, entrou em operação naquele ano, marcando o início de uma parceria com pescadores artesanais que atuam na área do reservatório da usina.
O trabalho conjunto permite fazer o monitoramento da ictiofauna — peixes da região — com dados mais complexos, provenientes da pesca artesanal. Entre as espécies presentes no rio de grande relevância que passaram e ainda passam pela observação constante dos especialistas, estão o dourado e o suruvi.
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Ambos são de água doce, mas possuem algumas características diferentes.
De corpo dourado, como o próprio nome diz, o primeiro é capaz de migrar em cardumes para os rios, para se reproduzir de forma mais facilitada. Ele é nativo da Bacia do Prata, bacia do Rio Magdalena e dos rios do Peru da bacia do rio Amazonas.
Já o suruvi é um bagre de grande porte, nativo da bacia do alto Uruguai e do alto Paraná, e que costuma estar em partes mais profundas de rios. Com essas espécies e tantas outras — 144, para ser mais específico —, foram realizadas diversas ações de pesquisa e investigação ao longo dos 30 anos, principalmente da diversidade genética dos peixes.
— Os trabalhos investigam a diversidade e a estrutura genética das populações com o objetivo de conhecer como as atividades provocadas pelo homem estão afetando a carga genética das espécies mais impactadas por essas mudanças — explica o coordenador do projeto, Alex Pires de Oliveira Nuñer.
Comportamento das espécies
Para o monitoramento, são instalados apetrechos de pesca em determinados pontos dos rios para que peixes que passam por esses locais sejam capturados e analisados. Dessa forma, é possível identificar possíveis alterações das espécies, além dos locais mais propícios para a desova e crescimento desses peixes.
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Os pesquisadores também conseguem identificar padrões de reprodução das espécies migradoras. Ao todo, foram catalogadas informações sobre 114 espécies de peixes, como o bagre Jundiá.
Para divulgar informações sobre as espécies e a diversidade encontrada no alto Rio Uruguai, foram publicadas fotos no Catálogo Ilustrado dos Peixes do Alto Rio Uruguai.
Os estudos ainda se concentram na maneira que o ciclo de vida das principais espécies de peixes foram afetados por atividades feitas pelos seres humanos, como a construção das usinas. Assim, é avaliada a evolução da comunidade de peixes e como os ovos e larvas se comportam.
Veja fotos do monitoramento
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